Vai morrer na praia?
Na última semana, a respeito da estreia de “A Múmia”, comentamos sobre a obsessão de Hollywood em copiar ideias que deram certo, repetir fórmulas, essas coisas. Tudo resultado da percepção de que produzir remakes, reboots e adaptações de qualquer coisa criada pelo homem pode render muita grana para os estúdios sem ter que arriscar ideias originais que poderiam não ter a resposta esperada pelo público. Até aí tudo bem, existem livros, histórias em quadrinhos, filmes antigos e clássicos com linguagens que não combinam com os dias atuais, videogames, jogos de tabuleiro e até mesmo perfis de Tweeter e Facebook para transformarem em longas metragens.
E séries de TV, claro. O problema é entender por que algumas delas ganham nova encarnação em 35 milímetros. Porque é preciso reconhecer que, muitas vezes, o timing passou, que ninguém se lembra delas – ou que foram incapazes de produzir um filme decente, simples assim. São casos, por exemplo, de “Os Vingadores”, a série de TV dos anos 60 que ganhou um remake horrível com Ralph Fiennes, Uma Thurman e Sean Connery, e “O agente da U.N.C.L.E.”. Outras aproveitam enquanto a série ainda está no imaginário coletivo das pessoas, como “Arquivo X”; ou dão a sorte de “Missão: Impossível”, uma bem-sucedida franquia controlada por Tom Cruise. E há quem consiga aproveitar basicamente a marca para criar algo novo, e aí “Anjos da Lei” se deu bem por adicionar doses cavalares de comédia à trama policial. E é o que tenta fazer “Baywatch”, adaptação de uma popular série de TV dos anos 90 que estreia nesta quinta-feira (15).
Para os mais jovens e desmemoriados acima dos 35 anos: “Baywatch” era, com “Barrados no baile” e “Melrose”, uma das séries que a TV Globo transmitia nos finais de tarde durante boa parte da década de 90, com o nome de “SOS Malibu”. Ela mostrava um grupo de salva-vidas que dividia seu tempo entre salvar pessoas de afogamentos e perigos afins, investigar crimes (!), exibir corpos sarados e gente bonita correndo em câmera lenta pelas areias de Malibu. Além de se tornar um ícone pop da época, ajudou a dar novo fôlego à carreira de David Hasselhoff (“Supermáquina”) e de tornar a louraça Belzebu, louraça Lúcifer, louraça Satanás Pamela Anderson uma estrela da TV e objeto de desejo de milhões de marmanjos. Ou seja, um produto do seu tempo que hoje é visto com nostalgia, muito mais lembrado pela visão das moças correndo em seus maiôs vermelhos.
Corpos sarados, humor e pancadaria
Mas aí resolveram fazer um filme de “Baywatch” quase 20 anos após o fim da série, uma eternidade quando pensamos na efemeridade das coisas nessa era de informação veloz, fragmentada e dispersa. O escolhido para a direção foi Seth Gordon, de “Quero matar meu chefe”, e, na impossibilidade de colocar o elenco original de volta, a história tem como um dos protagonistas Dwayne Johnson. Ele é Mitch Buchannon, chefe do Baywatch, equipe de salva-vidas que leva o trabalho muito sério mas que corre o risco de encerrar as atividades devido aos cortes de verbas municipais. Mitch terá, então, que aceitar a contragosto a inclusão no time de Matt Brody (Zach Efron), um nadador medalhista olímpico badernista, irresponsável e que é enviado ao Baywatch como “punição” por curtir a vida adoidado.
A presença de Brody incomoda logo de cara a Buchannon, com as duas personalidades opostas tentando demarcar seu espaço. A dupla, porém, terá que se acertar quando Mitch – apesar de ser apenas um salva-vidas – decide investigar por conta própria uma suposta rede de tráfico de drogas que seria comandada pela presidente de um clube local, interpretada por Priyanka Chopra. Como resultado, “Baywatch” terá uma série de cenas cômicas permeadas por explosões, perseguições, pancadaria e homens sem camisa ou mulheres de maiô.
Essa mistura, entretanto, não foi bem digerida nos Estados Unidos, onde o longa estreou há três semanas e já é considerado um fracasso retumbante. Além de massacrado pela crítica, o filme teve que enfrentar “Piratas do Caribe: A vingança de Salazar” na semana de seu lançamento e faturou apenas US $ 51 milhões até o último final de semana – abaixo do custo de produção, que foi de US$ 69 milhões, já garantindo à Paramount um prejuízo razoável. Nem as pontas de David Hasselhoff e Pamela Anderson ou as piadas que fazem referência à série de TV (uma delas sobre o fato de uma salva-vidas sempre aparecer em câmera lenta quando está correndo) parecem suficientes para evitar o fracasso de “Baywatch”.