Tudo pela Palma de Ouro
Cannes (AE) – Oito anos depois de sua última indicação, com Walter Salles e Daniela Thomas, o Brasil voltará em 2016 a ter um filme na disputa pela Palma de Ouro do Festival de Cannes. O anúncio oficial das 20 obras selecionadas foi feito nesta quinta-feira (14), em Paris, pelo diretor-geral do festival, Thierry Frémaux, e por seu presidente, Pierre Lescure. Entre obras de Pedro Almodovar, Olivier Assayas, Sean Penn e Jim Jarmusch, Xavier Daon e Paul Verhoeven, estará “Aquarius”, do diretor brasileiro Kleber Mendonça, autor de “O som ao redor” (2012).
A seleção apresentada por Frémaux e Lescure é mais internacional e menos “franco-francesa” do que a feita em 2015. Em meio a 1,8 mil pré-candidatos, foram destacados 49 filmes – considerando todas as competições e mostras – de 28 países. O festival será aberto pelo novo filme de Woody Allen, “Café society”, protagonizado por Kristen Stewart e Jesse Eisenberg. Entre os 20 que concorrem, “Aquarius” e Mendonça são os representantes da América Latina e marcam o retorno brasileiro ao evento, ausente desde “Linha de passe”, de Salles e Daniela Thomas, em 2008.
Mas a hegemonia no número de obras que disputarão a Palma de Ouro, que no ano passado ficou na mão de diretores franceses, nesse ano será compartilhada entre dois países: França e Estados Unidos. Entre os franceses, estarão “Personal shopper”, com Kristen Stewart, novo longa de Olivier Assayas, autor de “Sils Maria”; “Rester vertical”, de Alain Guiraudie; “Mal de Pierres”, de Nicole Garcia – com Marion Cotillard; e “Ma Loute”, de Bruno Dumont, com Fabrice Luchini e Juliette Binoche.
Os três filmes americanos indicados foram “The last face”, de Sean Penn, tem Charlize Theron e Javier Bardem; “Paterson”, de Jim Jarmusch, com Adam Driver; e “Loving” de Jeff Nichols, autor de “Mud”, em 2012. Entre os demais destaques, estão o novo longa de Paul Verhoeven, “Elle”, com Isabelle Huppert; a nova obra do jovem canadense Xavier Dolan, “Juste la fin du monde”, outra vez com Marion Cotillard, mas também com Léa Seydoux e Vincent Cassel; “La fille inconnue”, dos irmãos Dardenne; e “Julieta”, de Pedro Almodovar. Envolvido na polêmica dos Panama Papers, o espanhol cancelou a turnê de divulgação de seu longa, mas divulgou uma nota oficial para agradecer o reconhecimento. “Os títulos e os autores selecionados anunciam uma grande edição. Cannes continua a celebrar o cinema autoral”, afirmou.
A 69ª edição do Festival de Cannes traz ainda filmes da Dinamarca, do Reino Unido, da Romênia, Alemanha e Coreia do Sul, mas desta vez nenhum da Rússia, nem da África, tampouco do mundo árabe. Outra crítica potencial à seleção é o pequeno número de diretoras – apenas duas – entre os finalistas.
Rol de estrelas
Em um ano marcado por tensões sociais na França, a apresentação teve um protesto de trabalhadores da área cultural contra a reforma do mercado de trabalho proposta pelo governo socialista de François Hollande, mas nada sobre uma preocupação que envolve os bastidores do evento: o risco de atentados terroristas durante o festival, que mobiliza as forças de ordem e os serviços de inteligência do país. Nos discursos de Frémaux e Lescure, os problemas foram deixados de lado em nome do glamour de Cannes, ressaltando pela presença em massa de estrelas internacionais. Estarão no sul da França, entre 11 e 22 de maio, nomes como Steven Spielberg, Jodie Foster, Julia Roberts, George Clooney, Russell Crowe, entre tantos outros que reforçarão a imagem de Cannes. “Entre os grandes ingredientes que fazem ao mesmo tempo a identidade de Cannes, seu sucesso, mas também sua solidez, estão as estrelas”, disse Frémaux. “O tapete vermelho, o glamour, as escadarias fazem parte dos códigos que fazem de Cannes o maior festival do mundo.”
Sonia Braga de volta
Sonia Braga volta à Croisette agora integrando a competição, no filme de Kleber Mendonça Filho. “Nossa! Estou superfeliz de estar de volta à Croisette vivendo uma personagem que qualquer atriz se sentiria honrada em fazer. Uma pérola, um tesouro. Kleber me devolveu a alegria de pertencer à língua portuguesa.” E o diretor, Kleber Mendonça. “Rodamos Aquarius em agosto e setembro do ano passado, e a montagem começou logo depois. Foram seis meses de excelente trabalho com o montador Eduardo Serrano, e o filme está na fase final de pós-produção. Poder estreá-lo em Cannes é um momento muito feliz desse processo, que teve início há três anos, com a primeira versão do roteiro, escrito por mim. Fico ainda mais feliz por toda a nossa equipe formada por gente de todo o Brasil, e especialmente por artistas e técnicos pernambucanos. Fico feliz também por Sonia Braga. Quero que esse filme seja muito bom para essa artista maravilhosa e para a pessoa incrível que ela é. Antes, eu era apenas um fã, agora ganhei uma amiga.”