Luto: ator e diretor Cláudio Ramos morre aos 61 anos

Com mais de três décadas de carreira, artista foi vítima de um câncer


Por Júlio Black

14/02/2022 às 09h40- Atualizada 14/02/2022 às 20h52

Um dos nomes mais conhecido do teatro de comédia da cidade, o ator e diretor Cláudio Ramos morreu neste domingo (13), em Juiz de Fora, aos 61 anos. De acordo com uma postagem no perfil da Cláudio Ramos Produções no Facebook, a morte aconteceu em decorrência de um câncer. Ainda de acordo com a postagem, o velório terá início às 14h, no Cemitério Municipal, com o enterro marcado para as 16h.

Cláudio Ramos em cena no espetáculo “O Filho da Mãe” (Foto: Arquivo Tribuna/Lucas Tavares_

Com mais de três décadas de carreira, Cláudio Ramos também atuou como produtor e escreveu alguns de seus maiores sucessos no teatro, com milhares de apresentações desde a década de 1980. À frente da Cláudio Ramos Produções, ele foi um dos responsáveis pela Campanha de Popularização do Teatro em Divinópolis, além de temporadas bem-sucedidas no Rio de Janeiro de seus espetáculos e de ter se apresentando incontáveis vezes em Juiz de Fora, sendo um dos nomes mais presentes na Campanha de Popularização do Teatro e da Dança e do Festival de Gargalhadas.
Entre seus maiores sucessos teatrais estão “Minha sogra é um pitbull”, “Velório à brasileira”, “O dia em que Alfredo virou a mão”, “Rapidinhas”, “Toda donzela tem um pai que é uma fera” e “Lugar de mulher… Uma sátira ao machismo”, que encenou por mais de 20 anos. Além da comédia, Cláudio também se dedicou ao teatro infantil nas peças “Criança tem cada uma!”, “Deu zebra no plano da bruxa” e “Sopa de letrinhas”.
Nascido em Belo Horizonte em 1960, Cláudio Ramos estudou teatro na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), além de cursos e oficinas no Tablado, Casa de Artes de Laranjeiras e Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro. Além de produzir, dirigir e atuar nas próprias peças, ele chegou a ser o protagonista em uma montagem da tragédia grega “Medeia”, ainda em Belo Horizonte, e fez parte do grupo CEF no Rio de Janeiro, participando de comédias como “O genro que era nora” e “A venerável Madame Goneau”.
Ao conversar com a Tribuna, em 2016, sobre mais uma apresentação de “Lugar de mulher…”, Cláudio Ramos comentou sobre o espetáculo que pode ser considerado seu maior sucesso. “A peça estreou em 28 de fevereiro de 1998, primeiro sábado depois da Quarta-feira de Cinzas. Desde então, pude apresentá-la em inúmeras cidades, com temporadas no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, São Paulo… Em Juiz de Fora, então, você perde a conta, são quase duas mil apresentações. Ganhei prêmio de melhor ator, espetáculo, produção; é uma peça que só me trouxe alegrias e alavancou minha carreira”, disse ele na ocasião.

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Perda lamentada, memória celebrada

Organizadora da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança em Juiz de Fora, a Associação de Produtores de Artes Cênicas de Juiz de Fora (Apac) divulgou uma nota em seu perfil no Instagram lamentando a morte de um dos maiores responsáveis pela popularidade do evento na cidade.
“Artista renomado, dono de um humor inigualável, sensível, voz ativa na corrida das artes cênicas e da cultura brasileira. Um dos maiores recordistas de público em Juiz de Fora; com sua arte lotou por diversas vezes o Cine-Theatro Central, o Teatro do Pró-Musica, o Teatro Solar, o CCBM, bem como o Teatro Paschoal Carlos Magno. Foi frequentador de todos os espaços de encenação da cidade de Juiz de Fora e, como bom produtor, se apresentou em mais de 50 cidades brasileiras e mais de seis estados. (…) Cláudio Ramos tinha verdadeiro amor pela Comédia e outros dos seus grandes sucessos emplacaram em todos os teatros no quais se apresentou. (…) A Apac, que acompanhou de perto todo o sucesso do artista, deixa um grande abraço aos familiares e amigos e deseja um caminho de luz para a alma do Cláudio Ramos, desejando que Deus o receba em seu reino espiritual.”
Vice-presidente da Apac, Adryana Ryal lembrou que Cláudio Ramos era um dos recordistas de público da Campanha, e sempre solícito a realizar sessões extras quando os ingressos se esgotavam. “Tinha total admiração por ele. Foi um dos primeiros a se disponibilizar em fazer outra sessão 30 ou 40 minutos depois de se apresentar. Era o único artista que ia para o Calçadão da Halfeld, para o trailer da Apac, Cine-Theatro Central e outros espaços para anunciar todos os espetáculos em seu megafone”, elogia a atriz e diretora, lembrando que Cláudio venceu uma das edições do Prêmio Apac nas categorias de melhor produção e ator, por “Lugar de mulher…”. Adryana lembrou, ainda, que Cláudio Ramos foi o criador do Festival de Gargalhadas, que aconteceu na última década na cidade.
“Ele era um amante incondicional das artes, que panfletava na porta de outros espetáculos, fazia o que poucos artistas dessa geração fazem. Dificilmente vamos ter esse tipo de artista de novo, pois é uma coisa que vai além do mercadológico, é amor mesmo”, afirma. Segundo Adryana, mesmo já diagnosticado com câncer, Cláudio não parava de produzir. “No ano passado, em meio ao tratamento contra o câncer, ele gravava pequenos vídeos para os amigos com poemas, cantando músicas. Ele dizia ‘vou fazer meu trabalho enquanto conseguir ter forças'”.

‘A obra do artista é eterna’

Para o ator e diretor Gueminho Bernardes, “toda morte é muito triste, e a de um comediante é mais triste ainda porque tira da sociedade um insuflador da alegria”. De acordo com ele, começou-se a discutir no final de janeiro a realização de um evento em homenagem a Cláudio Ramos, que seria no Teatro Paschoal Carlos Magno. Com o agravamento do estado de saúde do artista, porém, os planos foram colocados em espera. Por uma dessas ironias do destino, Cláudio veio a falecer no dia em que esperavam realizar a homenagem. “Mas vamos guardar a lembrança dele, a cara engraçada, o jeito histriônico, exagerado, o falar alto, a eloquência. A obra fica, porque a obra do artista é eterna. Vamos viver com as boas lembranças dele”, disse.
Gueminho falou, ainda, da dedicação de Cláudio Ramos ao teatro e seu empreendedorismo como produtor cultural. “O Cláudio tinha uma energia absurda, correndo o tempo todo de lá para cá. Era de uma espécie em extinção, pois vivia só do teatro, e um exemplo de pessoa. Nós do TQ (Teatro de Quintal) criamos uma aliança muito forte com ele na Campanha de Popularização do Teatro, em que éramos as maiores audiências do evento. Ele vai fazer muita falta, pela pessoa maravilhosa, franca, honesta e batalhadora pela causa que era.”
Giane Elisa Sales de Almeida, diretora-geral da Funalfa, também se manifestou sobre a morte do humorista. “Cláudio Ramos foi parte importantíssima da história do teatro em Juiz de Fora! Deixa um importante legado de amor e de compromisso com a arte!” Outra referência no teatro de Juiz de Fora, José Luiz Ribeiro, do Grupo Divulgação, foi mais um a lamentar a perda do comediante. “Perdemos um trabalhador, um professor, uma pessoa que trabalhou com muitas pessoas e deixou uma marca no espetáculo de humor. É uma pena muito grande quando perdemos um comediante, pois precisamos muito de rir no momento atual. Que ele siga na luz, porque a sua missão já se completou nessa esfera.”

 

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