João Gabriel Paulsen participa de feira literária em Portugal

O escritor juiz-forano colhe os frutos do livro “O doce e o amargo”, vencedor da categoria Contos do Prêmio Sesc de Literatura, em 2019


Por Júlio Black

11/10/2022 às 07h00

João Gabriel Paulsen
João Gabriel Paulsen participa de seu primeiro festival literário, em Portugal, no próximo final de semana (Foto: Acervo pessoal)

Lançado em 2019 pela Editora Record e vencedor da categoria Contos do Prêmio Sesc de Literatura, o livro “O doce e o amargo” segue a render frutos para o escritor juiz-forano João Gabriel Paulsen. Ele participa, a partir do próximo final de semana, do Festival Literário Internacional de Óbidos (Folio), que acontece na pequena Óbidos, em Portugal, localizada a cerca de 60 quilômetros da capital Lisboa. Ele vai compor uma mesa que acontece, na tarde do próximo sábado (15), na Casa José Saramago – Biblioteca Municipal, e depois estará em dois eventos programados para os dias 17 e 18 pelo Instituto José Saramago.
O Folio é um evento que contará com diversos nomes de destaque da literatura mundial, a polonesa Olga Tokarczuk e o nigeriano Wole Soyinka, vencedores do Nobel de Literatura; o moçambicano Mia Couto; a angolana Djamila Pereira de Almeida, vencedora do prêmio Oceanos de 2019; e a britânica Bernardine Evaristo, vencedora do Booker Prize de 2019. João Gabriel destaca que ele irá para Portugal com os escritores Henrique Rodrigues, do Rio de Janeiro (‘É o pai do Prêmio Sesc de Literatura”), e Fábio Horácio-Castro, de Belém do Pará, vencedor da edição 2021 do prêmio Sesc com o romance “O réptil melancólico”, que está entre os finalistas do prêmio Oceanos e do prêmio São Paulo. “Ambos são grandes camaradas com quem já pude me encontrar em outras ocasiões”, diz.
A participação no Festival Literário Internacional de Óbidos será a primeira vez do escritor mineiro em um evento do gênero fora do Brasil, e também sua primeira viagem ao exterior – e, por conta disso, diz que não poderia estar mais animado. “Depois de dois anos de reclusão pandêmica, preso nos mesmíssimos espaços e às voltas com a nossa tristeza coletiva, é bom poder voltar a circular a fim de arejar as ideias”, afirma. “Além disso, mal vejo a hora de entrar novamente em contato com os eventos literários e conhecer gente que hoje produz literatura de língua portuguesa mundo afora. Acho que, para o escritor, trocar figurinhas com os seus pares é parte fundamental do processo de amadurecimento literário – afinal de contas, a literatura é como um grande diálogo entre as pessoas, os tempos e os espaços.”

Flip e pandemia

Entre os eventos literários que participou, João Gabriel Paulsen lembra da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), em 2019, graças ao Prêmio Sesc de Literatura. “Foi uma das experiências mais bacanas que já tive. Eu jamais sonharia, quando comecei a escrever, com tudo o que me aconteceu em 2019. Além da Flip, lancei o livro nos Sescs de São Paulo, Belo Horizonte e Cuiabá (Mato Grosso), cidade do meu companheiro Felipe Holloway (autor de ‘O legado de nossa miséria’, vencedor no mesmo ano da categoria Romance do Prêmio Sesc). Esses eventos me lançaram no meio de um mundo antes para mim desconhecido, o da cena literária nacional contemporânea, que conta com muita gente incrível escrevendo e falando sobre literatura.”
Segundo João Gabriel, essas experiências permitiram que ele passasse a ter um novo olhar não só para a escrita, como também para a atividade intelectual em geral. “Como eu disse, ninguém escreve sozinho, assim como ninguém pensa sozinho – escrevemos e pensamos sempre em diálogo com os outros. Aprendi muito ao me sentir inserido no fértil panorama de nossa atual literatura.”
Quando conversou com a Tribuna, em 2019, o escritor juiz-forano estava animado com a maratona de eventos programada para o final do ano e por todo 2020. Se chegou a participar de alguns, como relembrou, logo veio a pandemia – e a mudança (ou seria cancelamento) no planejamento.
“Todos fomos pegos de surpresa por essa fase terrível que nos marcou tão fundo no coração. Nos primeiros meses, quando era tudo ainda muito incerto, eu cheguei a acreditar que os planos de 2020 seriam apenas adiados para um futuro próximo. As viagens aconteceriam, aconteceriam os encontros, eu escrevia a todo o vapor embalado pela chance única que o prêmio me oferecia. No entanto, mês após mês, o número de casos se acumulando, a estatística macabra das mortes se repetindo, a crise política assumindo aspectos detestáveis, ficou logo claro que a pandemia havia vindo para ficar por um longo período. Senti-me como diante de uma bifurcação: um caminho, agora impossível de ser seguido, era o caminho apenas possível do mundo e da minha vida sem a covid-19; o outro, o caminho da realidade que nós de fato trilhamos”, desabafa, ressaltando a frustração que veio a princípio.
“Mas o eu que poderia ter sido e não fui ensinou muita coisa a quem eu realmente fui, sou e serei. Tive muito tempo para pensar a respeito do fazer literário e amadurecer as minhas orientações na escrita. Estabeleci novas metas, elegi novos temas. Mais relevante ainda: descobri que a vida de todos nós é feita tanto das oportunidades que aproveitamos quanto das que deixamos passar por uma razão ou outra. E não há um ser humano neste mundo que não tenha sofrido vendo abortados os seus planos por uma doença que levou para sempre tantos de nossos semelhantes. O que importa, no fim das contas, é aprender”, filosofa.

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Sem parar

Sem poder encontrar o público e outros escritores de forma presencial, ele aproveitou que o Sesc reestruturou o circuito de viagens, transformando-o em uma série de eventos on-line, encontros com grupos de leitura e lives para manter os laços, ainda que virtuais.
“Esse modelo remoto me permitiu, durante o desastre, não ficar completamente maluco com a solidão do isolamento, e assim passei um ano em contato com o leitor através de videochamadas e debates em redes sociais. Foi muito mais rico do que o esperado e fui muito feliz em dialogar com pessoas de todo o Brasil quando mal podia ver os meus amigos e parentes. Menos do que para promover o livro, esses encontros serviram para me manter em contato com o mundo, de cabeça fria e com a certeza de que dias melhores viriam. E vieram.”
Ainda sobre a pandemia, João Gabriel confessa que usou o tempo em casa “muito mais” para ler do que escrever. “Consegui organizar muito bem o meu tempo livre de modo a ocupar o máximo possível do meu dia com as leituras. Descobri novos autores que me fascinaram e consolidei o rol dos meus favoritos. Dediquei-me especialmente a Pedro Nava (nosso quase esquecido conterrâneo!), Rubem Fonseca, Manoel de Barros, Manuel Bandeira, Guimarães Rosa, Raduan Nassar e Murilo Mendes (nosso quase lembrado conterrâneo!). Esses homens povoaram a minha solidão com as suas vozes e não me deixaram perder o foco.”
Isso não quer dizer, entretanto, que ele não tem planos para futuros trabalhos. “O meu processo de criação é bastante desordenado, o futuro não me pertence. Depois de lançado o primeiro livro e advinda a pandemia, desacelerei o ritmo porque precisava achar algo que valia a pena dizer. Venho trabalhando num projeto que provavelmente receberá mais atenção nas férias da faculdade. Se tudo der certo, quem sabe não lanço um novo livro de contos ainda no ano que vem?”

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