O Carnaval antecipado, de Léo Bomfim


Por Bárbara Riolino

11/06/2017 às 07h00

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Léo conta história que se passa no primeiro e no segundo carnaval antecipado da cidade

Os amigos de farra combinaram que iriam curtir o melhor da cidade e que depois viajariam para Cabo Frio, no domingo. Gustavo era um folião alto e belo, no ocaso de sua adolescência, com dezenove anos, já cursando engenharia na UFJF. Seus amigos regulavam idade com ele.

O namoro ficou firme, foi um ano de muita paixão. As famílias se conheceram e se tornaram amigas. Tudo às mil maravilhas, não fosse um detalhe: José Mauro. Primo de Vanda, era um rapagão belo e risonho. Estava sempre por perto. Uma amizade de infância que era alvo de um forte ciúme de Gustavo. Os primos eram muito chegados e constantemente um estava na casa do outro. Gustavo ficou muito feliz quando soube que a família de José Mauro partiria para os Estados Unidos, após a transferência de seu pai. O rapaz já estava com o curso universitário garantido no exterior.

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No fim do ano, Vanda fez a última prova do Pism e estava com vaga garantida na UFJF, também para o curso de engenharia. Mas ela alimentava o sonho de estudar no exterior e fez – durante aquele último ano na escola – contatos com universidades fora do País.

As férias chegaram e, também, mais um carnaval. De novo o carnaval foi antecipado. A turma de Gustavo, como sempre, combinou de ir para Cabo Frio depois da folia juiz-forana. Cobravam dele o fato de parecer estar casado com Vanda, pouco frequentando as “farras da galera”. Gustavo estava doido para acompanhar os parceiros, mas imaginava que os pais de Vanda não a deixariam ir com eles. Bem no fundo ele até queria ir sozinho, para “aproveitar melhor”, mas acabou convidando a amada.

– Gustavo, você sabe que meu pai não vai deixar!
– Poxa, Vanda, eu sempre acompanho a turma…

Esse foi o primeiro ponto de discórdia entre os dois. Depois do primo José Mauro, é claro. Gustavo estava disposto a desistir de Cabo Frio. O pré-carnaval da cidade começou. O casal foi a vários bailes e blocos, sempre juntos e apaixonados.

Chegou o sábado de carnaval e, com ele, a Banda Daki, fechando outra vez a folia juiz-forana. A turma de Gustavo iria no domingo, de carro, para Cabo Frio e ele estava salivando para acompanhá-los. Durante a concentração da banda, ele contou à namorada sobre os planos que tinha de acompanhar os amigos e renovou-lhe o convite (sabendo que ela não o acompanharia). Daí para frente, Vanda ficou de cara amarrada, desanimada. Gustavo se excedeu na bebida, discutiram feio. Por perto, estava o primo dela.

– Zé Mauro, você se incomoda de me levar para casa? – Vanda perguntou ao primo, que a conduziu imediatamente.

A ira de Gustavo atingiu o seu ponto máximo. Ele ficou olhando a namorada sumir na multidão acompanhada de seu “rival”. No dia seguinte, deu-lhe o troco: partiu com os amigos para Cabo Frio. E curtiu a vida de forma plena por uma semana. Celulares desligados e copos cheios.

No domingo seguinte, Gustavo ligou o aparelho e as mensagens começaram a chegar. Fotos e filmes de sua Vanda na matinê do Bom Pastor, nos bares do Alto dos Passos, acompanhada de colegas e – sempre ele – o primo José Mauro. A flor negra do ciúme brotou em seu peito e ele tratou de voltar imediatamente. Estava se remoendo pelo caminho, apreciando as imagens de sua bela Vanda, em shortinhos e em fantasias. Sempre linda.

Chegando a Juiz de Fora, foi à casa da namorada. Ela veio até a sala. A cara fechada. Ele sequer a cumprimentou, já estava com o celular na mão, as fotos em série.

– O que é isso, Vanda?! – vociferou.

Ela pegou o próprio celular, manipulou-o e também mostrou diversas fotos dele em Cabo Frio (algumas, comprometedoras).

– Eu é que pergunto, o que é isso?! – ela devolveu.

Em tempos de rede social, as fofocas andam rápidas e acompanhadas de provas. Brigaram feio. Ela disse que era melhor darem um tempo Ele concordou. Depois, veio a notícia de que Vanda partiria para os Estados Unidos, que estudaria na mesma universidade que o primo e que moraria na casa dos pais dele.

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Gustavo a procurou, um tanto alcoolizado e visivelmente descontrolado. Tiveram outra discussão. Magoaram-se. A mãe de Vânia interveio.

– Gustavo, gostamos muito de você e de sua família. Por favor, não estrague a nossa amizade!

Ele saiu e não mais voltou. O romance de um ano começou e acabou. No carnaval. A paixão? Essa não acabou.

 

Léo Bomfim

Léo Bomfim é funcionário público e escritor, autor de “Histórias e segredos 1” (Funalfa Edições, 2013) e “Histórias e segredos 2” (Funalfa Edições, 2016). Nasceu, vive e trabalha em Juiz de Fora.

 

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