José Lucas Queiroz conta como decidiu virar quadrinista
Jovem autor lança nesta quinta-feira (11) o primeiro número da HQ ‘Rua de trás’
Histórias em quadrinhos vão além, muito além do que se lê com a Turma da Mônica, o universo de Walt Disney ou dos super-heróis da Marvel e DC Comics. Ideias podem vir de situações cotidianas, de filmes, livros, sonhos, e ganhar as páginas em revistas como a primeira edição de “Rua de trás”, do ilustrador e roteirista José Lucas Queiroz, que promove o lançamento de seu trabalho de estreia nesta quinta-feira (11), às 19h, no Bar São Bartolomeu, no São Mateus.
Lançando de forma independente, José Lucas considera este seu primeiro trabalho oficial, depois de um zine homônimo e curto, com apenas cinco cópias, criado como Trabalho de Conclusão de Curso na UFJF – que ele considera o embrião da revista -, mais uma ilustração na quinta edição da revista “Zica”, de Belo Horizonte que conta com vários artistas, entre quadrinistas, fotógrafos e escritores. “Ah, tenho que citar também que em 2009 saí na sessão de leitores da finada revista ‘MAD’, lá com meus 14 anos, e isso foi decisivo para mim.”
Desde a confecção do fanzine, há cerca de quatro anos, José Lucas diz que a fórmula de “Rua de trás” foi se desenvolvendo na sua cabeça, porém a maioria das ideias do primeiro número foi escrita apenas em 2018. “Comecei a produção em janeiro e desenhei tudo relativamente rápido. As coisas só estavam esperando para sair”, conta.
De acordo com ele, o atual cenário do quadrinho nacional fez com que percebesse que era o momento de contar suas histórias na revista que leva o mesmo nome que usa nas redes sociais. “Ele é baseado na rua onde eu nasci e cresci na cidade de Santos Dumont. Uma rua sem saída atrás de uma avenida, conhecida como ‘rua de trás’. Não podia ser outro nome para abraçar meu trabalho”, afirma.
Pautado pelo surreal e inesperado
Quem conferir as 32 páginas da publicação vai encontrar histórias absolutamente diferentes entre si, mas em sua maioria marcadas por situações inesperadas, surreais até. “São ideias que sintetizam meu estilo de contar histórias e não tem regra ou limitação, pautadas num surrealismo às vezes humorístico e às vezes não. Tem histórias que escrevi há mais de dois anos e outras para incluir na revista”, explica o artista.
“No conteúdo desse primeiro número tem uma série de tiras de um personagem meu, o Sr. Silvio, um senhor bonzinho que ficou mudo de repente e foi tirar férias na praia; uma história longa sobre uma adolescente que ouvia sons de guerra sempre que ia dormir; um recorte bem particular do ano de 2070 e diferentes olhares sobre delivery. Não consigo definir o que me inspira, porque estou sempre pensando em histórias, e elas podem surgir de qualquer coisa, seja de uma cena específica de algum filme ou de uma sensação que uma música me traz, ou até o momento mais corriqueiro e inútil possível.”
Assim como muitos colegas de ofício, José Lucas afirma que desenha “desde sempre”. A memória mais antiga que carrega é do período da pré-escola, em que copiou os desenhos de um livro infantil. “Eu sempre gostei mais de me expressar e representar o que se passava na minha cabeça por meio do desenho, tenho guardadas folhas e mais folhas preenchidas com o que quer que fizesse minha cabeça em cada fase da vida. Minha família sempre me lembra de quando interrompia a brincadeira na rua de casa para desenhar alguma coisa que eu pensei e não podia esquecer, e depois saía de novo. Foi até estranho, porque desde muito cedo já sabia que era por esse caminho que eu queria seguir.”
Influências diversas
Lá em cima, logo no início do texto, citamos a Turma da Mônica como um dos primeiros nomes quando se pensa em quadrinhos. Pois o quadrinista é a confirmação da regra, afinal os quadrinhos criados por Maurício de Sousa foram o seu primeiro contato com as HQs, primeiro passo para todo um universo virtualmente infinito. “A primeira história que li que era diferente de tudo e me marcou profundamente foi uma HQ bizarra da DC Comics com a Dark Horse juntando o Batman, o Coringa e o Máskara. Eu amo aquela história até hoje – mesmo reconhecendo alguns problemas que já não passam batidos mais. Como não chegava muita coisa diferente na única banca de jornal da minha cidade, demorei a ter acesso a outros tipos de histórias, e enquanto isso comprava uns números avulsos de Homem-Aranha e Quarteto Fantástico.”
Outro momento que marcou o futuro artista foi aos 13 anos, quando conheceu a revista “MAD”, marcante em várias gerações de leitores – e futuros quadrinistas. “Aquilo abriu minha cabeça. Rolou uma identificação imediata e me fez perceber que podia ser um quadrinista sem me encaixar no padrão.”
O tempo o levou a conhecer outras revistas, tirinhas e artistas, gerando admiração e preferência por nomes como Daniel Clowes, Lourenço Mutarelli e Robert Crumb. “(Ele) foi minha primeira grande influência de ilustração. E toda a obra da Laerte, do início até os dias de hoje. O ‘Batman – Ano Um’, do David Mazzucchelli, é uma obra que me marcou demais, justamente por ser uma história sobre um personagem hiper popular, mas com uma roupagem autoral e realista. Autores que acompanho sempre e já estão entre meus preferidos são Bianca Pinheiro, Paulo Crumbim e Cristina Eiko, Luciano Salles e Fabio Zimbres, só para citar uma pequena fatia.”
Porém, assim como em outras expressões artísticas, não é apenas o que vem da nona arte que faz a cabeça de José Lucas. Ele diz, inclusive, que se inspira muito mais em coisas fora dos quadrinhos. “Minhas influências são bem claras se for levar em conta o que eu gosto e consumo. Talvez minha maior inspiração seja o trabalho e a postura do David Lynch, tanto no cinema quanto em outras áreas que ele atua. Foi muita sorte ter descoberto e tido acesso à obra dele, porque dialoga demais comigo e com as ideias que tenho. A narrativa do Charlie Kaufman também é algo que sempre aparece para mim. O cinema talvez seja minha maior fonte de inspiração para ideias e histórias.”
Mas ainda tem mais. “Os desenhos animados dos anos 90, ‘Looney Tunes’ e ‘Os Simpsons’, foram ao longo da minha vida se unindo numa simbiose bem particular que levou meu desenho a ser o que é hoje. Foi um caminho natural, inconsciente, e é isso que percebo quando olho em retrospecto para o que faço.”
RUA DE TRÁS
Lançamento da revista em quadrinhos de José Lucas Queiroz. Nesta quinta-feira, às 19h, no Bar São Bartolomeu (Rua São Mateus 41 – São Mateus)