Zendaya e John David Washington estrelam o drama “Malcolm & Marie”

Rodado em preto e branco, longa de Sam Levinson estreou na última sexta-feira na Netflix e mostra duelo verbal de casal em crise


Por Júlio Black

11/02/2021 às 07h00- Atualizada 11/02/2021 às 09h05

John David Washington e Zendaya encaram a barra que é gostar e se magoar com o outro (Foto: Divulgação)

Filmes sobre crises no relacionamento ou a respeito do que vem após o seu final não são novidade em Hollywood. Recentemente, por exemplo, tivemos o doloroso “História de um casamento”, prova de que sempre há algo a mais a se contar sobre as mágoas e ressentimentos que toda a vida a dois sempre acumula, em maior ou menor grau. “Malcolm & Marie”, que estreou na última sexta-feira (5) na Netflix, é mais uma produção a mostrar que o subgênero “filme de casal” ainda tem fôlego, basta uma boa história e um casal de protagonistas para encarar com talento a empreitada.

Gravado durante a pandemia do novo coronavírus, o terceiro longa da Sam Levinson vai fundo na proposta, ao colocar toda a história em apenas um cenário e com nada mais que os protagonistas – interpretados por John David Washington e Zendaya – em cena. Ele é Malcolm, diretor de cinema estreante, enquanto que ela interpreta a namorada Marie, atriz e modelo que enfrentou antes dos 20 anos a barra pesada do vício em drogas.

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A história se passa na noite e madrugada imediatamente posteriores à estreia do filme de Malcolm, que chega em casa eufórico pela recepção positiva ao longa. Ele bebe, ouve música, não para de falar; Marie, ao contrário, é econômica nas palavras, prepara um rápido jantar, fuma do lado de fora da casa. É perceptível que algo a incomoda, e quando ela abre o jogo a noite de festa vira uma jornada de lavagem de roupa suja daquelas, capaz de fazer com que um não queira mais olhar para a cara do outro.

Mágoas na tela

O filme de Sam Levinson tem inúmeras qualidades, e a principal delas está na escolha dos protagonistas, que impede que o longa caia na armadilha do teatro filmado que acomete inúmeras produções. “Malcolm & Marie” é marcado por ressentimentos, mágoas e feridas não fechadas, que Zendaya e John David Washington conseguem passar para o espectador por meio dos mais diferentes sentimentos e reações.

A atriz, conhecida pelos mais recentes filmes do Homem-Aranha e pela série “Euphoria” (HBO), tem uma atuação mais contida, mas nem por isso menos implacável na hora de expor seus sentimentos e os podres e falhas do namorado. John David Washington (“Infiltrado na Klan” e “Tenet”), por outro lado, é mais explosivo tanto na euforia quanto na raiva, além daquele olhar que mistura “sei que fiz besteira” com a surpresa do “você está falando isso mesmo?” que a gente conhece desde a série “Ballers”, da HBO.

Os embates verbais são divididos, praticamente, entre ataques e contra-ataques, com cada um tendo espaço para seus monólogos em que extravasam seus ressentimentos e frustrações; como em tantas discussões de relacionamento que conhecemos, há, inclusive, aquele respiro em que uma das partes ouve – ou fala – o que não quer ou precisa, vai até outro cômodo, pensa em algo novo para machucar e volta ao ataque.

Austeridade visual

Outros predicados do filme ficam por conta da edição de Julio Perez e da fotografia de Marcell Rév. Ainda que a escolha por filmar o longa num preto e branco granulado pareça mera tentativa de ser “diferente”, a opção de austeridade visual deixa as discussões do casal ainda mais cruas. A trilha sonora, marcada quase que unicamente pelo jazz, é outro elemento marcante na história.

Se existe um porém que faz “Malcom & Marie” perder parte de sua força, ele está em algumas das falas do personagem de John David Washington, mas aí o problema é do roteiro. Quando ele fala sobre a indústria do cinema e como os cineastas negros são vistos pela crítica, é uma exposição que esbarra no pedantismo e na monotonia.

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A impressão que fica é que Levinson, um cineasta branco, se vale do personagem para lavar sua roupa suja com a imprensa – principalmente por conta das críticas recebidas do “LA Times” na época do lançamento de seu segundo longa, “País da violência” (2018), visto como uma tentativa superficial de fazer crítica social. Nada, porém, que invalidade essa invasão de privacidade dos altos e muitos baixos de um relacionamento tão complicado.

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