Professora e aluna de JF lançam livro infantil sobre município de São Geraldo

Uma carícia nas memórias: Professora Aparecida Tavares convidou aluna Amanda Andreza para ilustrar livro que lança nesta quarta, resgatando lembranças de São Geraldo, cidade da região


Por Mauro Morais

10/06/2020 às 06h55

São Geraldo tem pouco mais de 10 mil habitantes e pouco menos de 200 km². Está a exatos 140km de distância de Juiz de Fora. Durante a pandemia de coronavírus, confirmou apenas dois casos de contaminação por Covid-19, um deles já curado e outro ainda em isolamento social. Num momento em que o país chora suas milhares de mortes, o diminuto município não contabiliza sequer contaminação local, já que ambas as notificações dão conta de pessoas infectadas em cidades vizinhas. Ainda assim, segue o isolamento social, adotou ensino à distância na rede municipal e permanece em alerta. “A assistência ocorre nas casas das pessoas. Por ser uma cidade pequena, isso é mais fácil”, comenta Aparecida Tavares. “É uma cidade com muitos idosos”, acrescenta ela, que nesta quarta (10), celebra o município no lançamento virtual de seu livro “Cidade Carícia”.

“As cidades da região têm esses apelidos. Ubá é a Cidade Carinho, Rio Pomba é a Cidade Sedução e São Geraldo é a Cidade Carícia”, aponta a autora, referindo-se a um nome adotado por um antigo prefeito do município e hoje considerado marca, ostentada na placa logo na entrada de São Geraldo, cujo passado remonta à ocupação de povos indígenas, ainda que sua independência tenha se tornado realidade apenas em 1949. Hoje movida economicamente por suas fábricas de móveis, seus laticínios e pelos criadouros de aves e gado, São Geraldo compartilhou com outros tantos municípios da Zona da Mata uma história ligada à cana e ao café.

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É um retrato do interior mineiro, traço que Aparecida explora com sensibilidade e emoção no pequeno livro escrito em versos rimados e ilustrado por Amanda Maria Severino de Andreza, estudante do Ensino Médio na Escola Estadual Delfim Moreira, onde Aparecida leciona e coordena o projeto “Somos autores… Somos o que quisermos ser”, de incentivo à leitura e à escrita. “Quando comecei a desenvolver o projeto com os alunos, comecei a escrever de novo. Em uma noite escrevi a história deste livro. E logo pensei nos desenhos da Amanda”, conta a professora, que convidou a aluna e escreveu uma proposta que ofereceu à Prefeitura de sua cidade, cujo apoio custeou a impressão. “A contrapartida é que uma parte dos livros seja distribuída às escolas da cidade, aos alunos da rede municipal, e também divulgar pela região”, pontua.

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Escrito em versos, livro revela memórias da autora Aparecida, como a paisagem verde, ilustrada com a sensibilidade de Amanda. (Divulgação)

As férias na roça

“Meus pais são de São Geraldo e eu passava minhas férias lá, na infância. Meus pais moravam em São Paulo e, quando meu pai se aposentou, mudamos para lá, mas eu já era uma adolescente. Depois fui para Juiz de Fora, estudar, e não voltei. São Geraldo é onde tenho uma relação familiar, tenho muitos parentes, meus avôs são de lá. Sempre vou nas férias”, narra Aparecida Tavares, que, por escolha dos pais, nasceu no pequeno município – a maternidade, na verdade, fica na vizinha Visconde do Rio Branco. “Mas eu e meu irmão nos consideramos são-geraldenses.”

“Minhas memórias de infância são de lá”, afirma a autora, que retrata algumas delas no livro, como o bife de fígado e o Abacatinho no almoço, com direito a canudinho de sobremesa. “Lá era roça de verdade!/ Tinha boi no pasto,/ café na caneca de esmalte/ e, na mesa, um queijo bem fresquinho!”, enumera na obra. “Depois que me mudei para lá, fiz muitos amigos, brincava na rua, passeava na praça”, recorda-se Aparecida, sobre uma São Geraldo que permanece em sua rota. Além dos familiares, a cidade hoje é o endereço do marido, que Aparecida conheceu na Faculdade de História da UFJF. Aprovado num concurso público, ele foi designado para atuar em Visconde do Rio Branco e decidiu morar onde viveu a esposa. Nos fins de semana, o casal divide a casa em Juiz de Fora.

Retratando aspectos ligados à memória e ao patrimônio, Aparecida fala de sua aldeia e acaba por falar do mundo, como alerta o escritor russo Leon Tolstói. “Apesar de falar de uma cidade especificamente, é possível trabalhar o conceito de lugar, de paisagem, com crianças menores, ou questões patrimoniais com estudantes maiores”, defende a autora, graduada e pós-graduada em história e, atualmente, também estudante do curso de pedagogia na UFJF.
Segundo ela, há uma preocupação grande do município com a preservação histórica dos bens locais, alguns deles referenciados em fotografias nas páginas finais da obra, dentre eles a Estação do Mirante, na Serra de São Geraldo.

Em meados de abril Aparecida adiantou um pouco do trabalho num vídeo publicado na conta do Instagram do Centro Cultural São Geraldo (@centrocultural.sg). O material acabou circulando pelo WhatsApp, graças às memórias afetivas que despertou em muitos são-geraldenses Brasil afora. “Meus parentes em São Paulo receberam o vídeo, e pessoas em Brasília, também. As pessoas se interessaram pelo livro e decidimos antecipar o lançamento, até mesmo para os alunos terem acesso a ele”, conta a autora, que retorna ao ambiente virtual, na mesma conta, para lançar a obra que é um afago na pequena e simpática cidade.

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