A harmonia do jazz no dia a dia


Por Carime Elmor Repórter

10/06/2017 às 07h00

 

Jam session de um não-trompetista: Dr. Wes, como é conhecido, veio a Juiz de Fora para palestra com alunos do ACBEU. Foto: Fernando Priamo
Jam session de um não-trompetista: Dr. Wes, como é conhecido, veio a Juiz de Fora para palestra com alunos do ACBEU. Foto: Fernando Priamo

O que é inteligência no mundo da inteligência artificial, com todos os dados disponíveis dentro do nosso bolso em um aparelho de 10cm? É saber fazer conexões entre o que está disponível, dentro de um mundo infindável de opções. Estamos na era da colagem, da customização, dos samplers. Como unir conteúdos distintos, relacioná-los e criar a partir daí uma informação nova e impactante? A proposta do Ph.D em ensino musical Wesley J. Watkins, ou simplesmente Dr. Wes, é de aproximar a cultura do jazz com as ideias fundamentais da democracia ampla e participativa.

PUBLICIDADE

Na tarde de quarta-feira (7), em uma parceria do Escritório Diplomático dos Estados Unidos em Belo Horizonte, a cônsul Rita Rico, através do “English Access Microscholarship Program”, entrou em contato com Vanessa Ferreira, diretora do ACBEU – Associação Cultural Brasil-Estados Unidos de Juiz de Fora, e trouxe “The Jazz & Democracy Project”, desenvolvido por Dr. Wes, para os alunos da instituição. O Access Program concede bolsas de estudo de língua inglesa a estudantes de escolas públicas com bom desempenho escolar, e dessa forma eles puderam ter contato direto com o professor, que veio dos Estados Unidos conceder uma palestra e curso inspiradores.

A metáfora pensada e disseminada pelo educador sobre jazz e democracia tem tudo a ver com uma frase dita pela ex-primeira dama dos Estados Unidos Michelle Obama. “Não há melhor exemplo de democracia do que um grupo de jazz”, a frase abre o livrinho de informações que foi entregue a cada um dos alunos presentes no curso “Jazz como modelo de participação democrática”. A analogia é explicada da seguinte forma: em uma improvisação de jazz, cada instrumento e músico desempenham um papel crucial, em uma teia de sons oriundos de trompete, saxofone, contrabaixo, guitarra, clarinete e bateria. Da mesma forma, cada cidadão deve desempenhar seu papel social e se expressar livremente para que um estado seja de fato democrático.

Ação e participação

Em sua preleção, Wes diz respeito à valorização das minorias, à voz amplificada que deve ser concedida a cada uma das pessoas excluídas socialmente por razões culturais, econômicas, xenofóbicas ou preconceituosas. É essencial resgatar os valores da democracia americana exatamente no momento político que o país está passando, com um líder autoritário que assina discursos contrários aos princípios de direitos humanos.

Dedicando-se principalmente a conversar com públicos adolescentes e jovens, Wes tem a intenção de conseguir transformar toda a inspiração da conversa, atrelada à música, em ação participativa dessas pessoas, para que se sintam capazes e responsáveis por colaborar ativamente e positivamente nas comunidades onde vivem. “O maior valor do programa não é se eu estou criando fãs de jazz, e sim se eu tenho alunos que estão usando o que eu chamo de musculatura mental. Eu quero que eles sejam elásticos, quero que eles conversem comigo sobre a sociedade falando em termos de música e falando de música em termos de sociedade”, explica Wes.

Em 2002, Dr. Wes foi a uma apresentação do baterista cubano Horacio Hernandez que mudou sua vida para sempre. Após várias tentativas, em novembro de 2009 deu início ao projeto Jazz & Democracy de forma totalmente autônoma e independente, foi o marco da primeira aula.

Apreciador de jazz, o professor é encantado pelo trio de Ahmad Jamal. “Quando está tudo equilibrado, nós todos estamos ouvindo a mesma coisa, e é um encaixe perfeito. Todo mundo se sente parte daquilo, se sente livre, a gente está ali, junto”, comenta ele sobre o suingue perfeito que consegue perceber, assistindo ao grupo. “Se eu quero fazer com que o jazz se popularize atualmente? Eu meio que desisti dessa ideia, eu não tenho tempo suficiente com os alunos. Em três horas, eu vou te convencer a ser um fã de jazz quando a máquina cultural de pop está te alimentando no resto do dia com outra música? Provavelmente não.” No entanto, ele considera importante que essa forma de arte seja ensinada e passada para os estudantes norte-americanos, já que o jazz foi desenvolvido nos Estados Unidos.

O conteúdo continua após o anúncio

 

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.