Fotografias por Minas reúne centenas de artistas, incluindo fotógrafos de JF

Estela Loth e João Victor Medeiros participam de projeto beneficente para pessoas afetadas pela pandemia


Por Júlio Black

09/06/2020 às 07h00

João Victor Medeiros selecionou fotografia feita quando voltava para casa, no início do isolamento social (Foto: João Victor Medeiros)

A pandemia do novo coronavírus alterou de forma dramática a vida de quase todas as pessoas. Sem esquecer do principal, que são os mais de 30 mil mortos apenas no Brasil, a Covid-19 tem dificultado ainda mais ao trabalho de organizações dedicadas a ajudar alguns dos grupos que costumam ser ignorados pela sociedade e governos. Por causa disso, um grupo de fotógrafos criou o projeto Fotografias por Minas, que visa auxiliar essas pessoas por meio da venda de seus trabalhos.

A iniciativa reúne cerca de 300 fotógrafos, incluindo dois de Juiz de Fora, que enviaram uma imagem autoral cada a partir do tema “para imaginar um mundo novo”, inspirado no livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, de Ailton Krenak. As imagens estão disponibilizadas desde 21 de maio no site fotografiasporminas.com.br e podem ser adquiridas até a próxima sexta-feira (12) mediante a doação de R$ 150 _ os organizadores destacam que cada foto pode ser adquirida por vários doadores. As imagens serão impressas em papel Hahnemuhle Photo Rag 188 gramas, em Pigmento Lucia EX Pro, no formato 20cmx30cm, e serão enviadas para os compradores assim que for seguro para todos.

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A meta inicial do projeto é arrecadar R$ 60 mil _ já descontados os custos de impressão e logística -, que serão utilizados para a aquisição de alimentos, medicamentos, materiais de proteção e higiene, além de outros itens que forem solicitados pelas instituições. As cinco entidades selecionadas foram a Comunidade Geraiseira do Vale das Cancelas (região de Grão Mogol), Comunidade Quilombola Ausente Feliz (Serro), Creche Bom Pastor (Ibirité), Lar de Idosos Sagrada Família (Bonfim) e Proteção Animal Amigo Sem Dono (Ribeirão das Neves). Caso a arrecadação ultrapasse a meta, o valor a mais será revertido para outras associações.

Linguagem do instante

Entre os juiz-foranos que participam do projeto está a fotojornalista, jornalista e midiativista Estela Loth. Ela também participa do Coletivo Salto, que reúne artistas locais para realizar ações de solidariedade e pensar a situação da cultura durante e após a pandemia. Ela cedeu para o Fotografias por Minas a imagem de um integrante do grupo Maracatu Estrela na Mata registrada durante o desfilo do bloco Meu Concreto Tá Armado no pré-carnaval de Juiz de Fora.

Fotógrafa Estela Loth participa com imagem captada durante o pré-carnaval de Juiz de Fora (Foto: Estela Loth)

“Ela não fazia parte necessariamente de um projeto, sou fotojornalista e muitas vezes não nos apoiamos em um projeto ou metodologia específica para fazer as fotos. Tudo depende do que estamos cobrindo”, explica. “Podemos dizer que me baseio na linguagem do instante. Ou seja, tudo o que tenho é a ação que se coloca na minha frente e que eu não posso interferir.”

Assim como no caso de Estela, o trabalho enviado pelo fotógrafo e artista visual João Victor Medeiros não foi pensada para o projeto, e integra uma empreitada pessoal ainda em construção. “No fim de março, com o isolamento social já acontecendo, eu estava retornando para casa e vi diversos garotos conversando na quadra do bairro, outros jogando bola, alguns mais novos brincando. O projeto todo foi concebido e realizado de forma relâmpago. Acho que nenhum fotógrafo teve tempo de criar algo exclusivo.”

Estela destaca o fato de o Fotografias por Minas unir valorização da arte e solidariedade no projeto, num momento em que tantos passam por dificuldades. “Ajudar por meio da arte é uma possibilidade maravilhosa. Neste momento de isolamento, foi possível observar que a arte é essencial. É ela que tem mantido as pessoas entretidas em suas casas, funcionando como uma grande responsável pela manutenção da saúde mental de muitas pessoas. Em todas as suas linguagens, a arte precisa ser mais valorizada, e a necessidade de quarentena nos mostrou isso”, afirma. João Victor comemora os números atingidos até agora. “É ótimo poder auxiliar – nesse caso, financeiramente -, pois sempre foi o objetivo da minha arte. A campanha já vendeu mais de R$ 100 mil.”

Em casa
Ligado à fotografia documental e à música, que envolvem pessoas e aglomeração, João Victor Medeiros não tem trabalhado. “Mas tem sido ótimo o tempo para estudar, me debruçar sobre o trabalho já criado etc. Tenho desenvolvido e estudado os conceitos de projetos que já estavam sendo maquinados antes do isolamento social. Mas tenho consciência de que isso faz parte de um privilégio enorme que muitos não podem ter”, ressalva.

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Estela Loth também teve seu ofício afetado. Como integra a mídia alternativa, ela costuma trabalhar com pautas relacionadas à militância política na cidade, e as mobilizações que geram aglomerações estão suspensas. “Eu não tenho trabalhado (na rua) desde 8 de março. Passar os dias em isolamento tem sido desafiador, já que meu gosto pelo fotojornalismo se dá por gostar de rua e de gente”, diz a fotógrafa, que tem tentado desenvolver trabalhos em casa. “Confesso que não é muito a minha praia. Eu me juntei virtualmente a artistas da cidade na construção do Coletivo Salto, grupo que pensa a situação dos trabalhadores das artes durante e depois da pandemia, propõe ações de solidariedade para artistas e comunidades em vulnerabilidade e cobra políticas públicas emergenciais. Estou bastante ocupada nesse momento, apesar de não estar trabalhando na rua.”

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