“Alma de Cowboy” mostra a subcultura dos estábulos urbanos da Filadélfia

Longa de Rick Staub retrata o amadurecimento de adolescente quando conhece os cowboys negros que lutam para manter viva sua herança cultural


Por Júlio Black

09/04/2021 às 07h00

Idris Elba (à esquerda) interpreta rústico cowboy urbano que precisa lidar com a chegada do filho, um adolescente problemático (Foto: Divulgação)

“Alma de cowboy”, longa que estreou no catálogo da Netflix na última sexta-feira (2), tem dois temas principais: o duro aprendizado de quem está prestes a adentrar a vida adulta e o direito de manter uma determinada cultura e/ou costumes, por mais anacrônica que possa parecer diante dos tempos modernos.

Com direção de Ricky Staub, o filme é baseado no livro “Ghetto cowboy”, de Greg Neri, que retrata a tradição centenária dos cowboys negros do estado da Filadélfia, que lutam para manter seus cavalos, estábulos e costumes em meio ao progresso e ao caos urbano das grandes cidades, que exigem cada vez mais espaços para construção de moradias e enxergam esses “cowboys do asfalto” como um anacronismo.

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O roteiro de Staub e Dan Walser se vale dessa história pouco conhecida – em particular dos estábulos da resiliente Fletcher Street – para misturar ficção com fatos reais. A história começa com o problemático adolescente Cole (Caleb McLaughlin, da série “Stranger Things”), que vive em Detroit com a mãe. Após ser expulso da escola por se envolver em inúmeras brigas, ele é despachado para passar o verão com o pai, Harp (Idris Elba), que vive na Filadélfia.

Há tantos anos sem ver o pai, a chegada provoca choque imediato: Herb faz parte de uma comunidade de cowboys do asfalto, que cuidam de seus cavalos da melhor forma que conseguem, pois falta apoio e espaço para instalar os estábulos – no caso do pai do adolescente, seu cavalo fica na sala da casa.

Como se diz por aí, o “santo” dos dois não bate no início. Cole sente-se abandonado pela mãe e vê o pai como um estranho. A solução parece estar na companhia de um amigo de infância, mas não demora para descobrir que o rapaz está envolvido até o pescoço com o tráfico de drogas. Harp, por sua vez, é um sujeito rústico como os cowboys de outrora, e não sabe lidar com um filho que mal conhece.

Alma coletiva

Com os conflitos e diferenças de culturas e gerações colocados à mesa, “Alma de cowboy” tem sucesso ao entrelaçar os clichês dos chamados “filmes de amadurecimento” com o drama dos cowboys que precisam manter viva sua cultura na cidade grande, em especial numa comunidade pobre em que a cultura centenária pode ajudar a manter as novas gerações longe da criminalidade, como tem acontecido na vida real.

Sem grandes pretensões além de contar uma ótima história – reforçada por contar com alguns personagens reais no elenco -, “Alma de cowboy” serve como entretenimento, drama e reflexão sobre a importância de manter, dentro das possibilidades, as heranças culturais que ajudaram a moldar não apenas nossas personalidades, mas a sociedade como um todo – até mesmo as menores das menores coisas, como aquele senhorzinho em Volta Redonda que por décadas passava pelas ruas gritando “laranja é lima, laranja é pêêêêêêêêêra!”. A voz pode não mais existir, mas compartilhar essas lembranças com os mais jovens é o que faz nossa sociedade manter uma alma coletiva, assim como a tradição centenária dos cowboys negros da Filadélfia.

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