A pedra já havia sido cantada antes mesmo da apuração. “A decisão vai ser por décimos”, anunciou o presidente da Liga das Escolas de Samba de Juiz de Fora, Jair de Castro Filho, minutos antes de a contagem de pontos começar. Enquanto dentro do Anfiteatro João Carriço o clima era de tensão, do lado de fora, dezenas de integrantes da Unidos do Ladeira gritavam a cada nota dez garantida pela agremiação, que conquistou, em 2015, o tetracampeonato no carnaval de Juiz de Fora. “Não estou acreditando nisso. Comecei a chorar quando disseram que a bateria levou nota dez. Ser tetra é muito emocionante”, diz a jovem Mariana Fernandes. Na noite de sábado, ela estava entre os 112 componentes que tocavam sob a batuta de Mestre Nem. A escola vencedora de 13 carnavais fechou os trabalhos com 108,8 pontos, seguida de Turunas do Riachuelo (108,7) e Real Grandeza (108,2).
“O segredo é a união da diretoria com a comunidade e o amor pela escola. Nós trabalhamos o ano inteiro ininterruptamente e conquistamos o apoio de todos. Feliz é a pessoa que tem a raposa no coração”, diz o presidente da campeã, Marcos Valério Mendes. Para o B, desceu a Unidos das Vilas do Retiro, com 105,3.
Entre as escolas do Grupo B que se apresentaram para a plateia no domingo, a disputa também foi acirrada. Com a homenagem aos cem anos do Museu Mariano Procópio, a Mocidade Alegre saiu vencedora, assegurando uma vaga na elite do carnaval em 2016. A encenação do baile da família imperial em Juiz de Fora fisgou a preferência dos jurados, pois foi nesse quesito que a representante do Bairro São Mateus e adjacências conseguiu levar a melhor. Ao lado dela, com o mesmo número de pontos (108,3), estava a Acadêmicos do Manoel Honório. “Estamos muito felizes por subir para o Grupo A. Todas as escolas apresentaram um carnaval de altíssimo nível, o que fez com que a competição ficasse muito apertada”, comemora Rafael Lima, vice-presidente da agremiação, cujo samba-enredo, assinado por Edinho Leal, Betinho Moraes e Edynel, encantou o público já na madrugada de segunda-feira.
“Ser a última escola a desfilar no domingo, tendo que trabalhar no dia seguinte, não é fácil. Por isso, a comunidade merece nota dez.” No reduto do Manoel Honório, a maior tristeza foi levar 9,5 em “fantasia”. “Carnaval é isso mesmo. Nota a gente não se discute, mas fantasia foi onde nós mais investimos e tiramos a nota mais baixa. Tivemos todo o trabalho de olhar, não tinha ninguém descalço, todos estavam com as sapatilhas brancas. Queríamos ficar com o caneco, mas parabéns à escola campeã”, diz o carnavalesco da vice-campeã do B, Daniel Grahen. O terceiro lugar ficou com a Partido Alto (108,2), do carnavalesco Waltencir Barbosa. Quarta a entrar na avenida, a Verde e Rosa lutou pelo título com 500 componentes e 20 destaques. O rebaixamento para o C chegou para a Vale do Paraibuna, que fechou com 105,1. Quem também comemorou o desfecho dessa história foi a União das Cores, dos bairros Milho Branco e Amazônia, única representante do Grupo C. Se para garantir a vaga no B era necessário obter, no mínimo, 70% do total da pontuação, ela foi além. A menor nota foi 9 em conjunto e evolução. “O desafio será trabalhar mais ainda. Teremos uma verba maior, mas o carnaval fica mais caro. Continuaremos com a mesma garra”, comenta Graça Castro, diretora de carnaval da União das Cores.
História de sucesso
Levando em conta o histórico da Unidos do Ladeira, a fase difícil dos primeiros tempos, definitivamente, faz parte do passado. Fundada em 1976, há quatro anos consecutivos a agremiação vai para a passarela do samba como uma das preferidas do carnaval juiz-forano. Logo na comissão de frente, a plateia parou para aplaudir o número de balé clássico estilizado da companhia Magia da Dança. “Trabalhamos há 21 anos com o Ladeira, somos todos profissionais. Representamos os espíritos da floresta, que abriram as portas da imaginação, jogando bombas de fumaça coloridas como um arco-íris”, conta a professora Carla Marins, responsável por uma trupe de 16 bailarinos.
Perdendo a conta de quantos carnavais foi para a avenida lutar pelo campeonato do Ladeira, a porta-bandeira Terezinha Silva, 64 anos, diz que sabe o motivo de tantas vitórias. “Nossa organização é fora de série, não entra ninguém bêbado na avenida. No ano passado, saí com o pé enfaixado e, neste ano, com dor no joelho. Nada me segura.” Conforme previsto, a campeã foi para a Av. Brasil com 720 integrantes, 12 alas e 18 destaques. Foram cerca de R$ 270 mil gastos para entoar que o “Ladeira abre os portões da imaginação e viaja com você nesse mundo encantado”.
De acordo com Toninho Dutra, superintendente da Funalfa, aproximadamente 20 mil pessoas passaram pela Av. Brasil neste fim de semana. A expectativa é de que, em breve, haja uma reunião para decidir a antecipação da folia de 2016. “Temos tido muita ajuda até do tempo, porque a chuva tem caído antes ou depois dos eventos. O público de domingo ficou mais fraco, mas foi muito significativo. Também tivemos um retorno positivo na questão da segurança”, finaliza o superintendente.