Hugh Jackman e Rebecca Ferguson estrelam ‘Caminhos da memória’

Longa de estreia de Lisa Joy, disponível no HBO Max, mistura sci-fi, thriller noir, drama ambiental e romance em produção que quase se afoga em suas pretensões


Por Júlio Black

08/10/2021 às 07h00

Personagem de Hugh Jackman perde o rumo ao se enredar no mistério que envolve a femme fatale vivida por Rebecca Ferguson (Foto: Divulgação)

“Caminhos da memória”, longa de estreia de Lisa Joy (uma das responsáveis pela série “Westworld”), chegou ao HBO Max na última sexta-feira depois de passar pelos cinemas e apostando na mistura entre ficção científica, drama ambiental, romance e thriller noir. Quase duas horas depois de começar a assistir ao longa, fica a impressão de que a história poderia render mais, porém longe de ser uma decepção.

A trama, passada em um futuro que não se sabe se distante ou não, mostra que o mundo sofreu os efeitos do aquecimento global, com as cidades costeiras afetadas pela elevação da água dos oceanos. Além das guerras resultantes da crise, especuladores se aproveitaram para comprar grandes extensões de terra não alagadas por preços ridiculamente baixos, e com isso muitos precisaram se virar como podiam vivendo na parte alta dos prédios que não foram totalmente engolfados pelo mar.

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É nesse contexto que o público é apresentado ao protagonista, Nick Bannister (Hugh Jackman). Veterano de guerra, ele mantém com a ajuda de outra veterana, Watts (Thandiwe Newton), um precário negócio que permite à polícia interrogar suspeitos de crimes a partir de uma tecnologia que resgata as memórias das pessoas. Para complementar a renda, eles também vendem o serviço a quem puder pagar para acessar os bons momentos que ficaram para trás, ainda mais numa realidade que se tornou sombria – e quente, muito quente: por causa do aquecimento global, as pessoas dormem durante o dia e trabalham à noite, quando o calor não é tão sufocante.

A vida de Bannister vira de cabeça para baixo com a chegada de uma nova cliente, a cantora de cabaré – e femme fatale – Mae (Rebecca Ferguson). Não demora muito para os dois engatarem um romance; porém, quando ela desaparece sem deixar qualquer rastro, Nick fica obcecado pelas memórias a dois, e também por descobrir o que aconteceu com a mulher amada. Essa obsessão vai fazer com que o investigador passe a desconfiar das supostas boas intenções de Mae, à medida que ele passa a descobrir detalhes nada louváveis do passado da moça, incluindo gente barra-pesada, vício e tráfico de drogas, traições e gente rica e poderosa.

Roteiro labiríntico

“Caminhos da memória” parte de uma premissa interessante, que em alguns momentos lembra “A origem”, de Christopher Nolan – que vem a ser cunhado de Lisa Joy. A reflexão a respeito de buscar abrigo nas memórias e no passado versus o desafio de encarar o presente e o futuro é interessante, e o elenco não desaponta em suas atuações. Os efeitos especiais são outro ponto positivo, e ver metade de Miami embaixo d’água serve de alerta para o que podemos ter em poucas décadas, mas o longa derrapa em alguns pontos. Um deles é justamente a parte da tragédia ambiental, que pouco influi no desenvolvimento da história e motivação dos personagens; na verdade, se o filme se passasse no deserto, na Sibéria ou em Uberlândia, não faria a menor diferença.

Além disso, o roteiro escrito pela diretora está mais preocupado em colocar o espectador num labirinto do que oferecer pistas para compreender o mistério que envolve Mae. A cada minuto, mais uma informação sobre a cantora surge na tela apenas para confundir o protagonista, assim como o público, e tudo é explicado de forma quase didática no terço final da história. Algumas frases ditas pelos personagens derrapam no romantismo e filosofia baratos e quase estragam a experiência, mas a dedicação do elenco e a persistência do mistério – por mais que se tente esticá-lo – fazem com que “Caminhos da memória” não se afogue nas próprias pretensões.

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