Virgínia Degrandi volta aos palcos depois de 16 anos

Cantora se apresenta neste sábado no Teatro Paschoal Carlos Magno com o show “Flores raras”, que promove o lançamento de suas primeiras gravações em mais de 40 anos


Por Júlio Black

08/07/2022 às 14h29- Atualizada 08/07/2022 às 14h30

Sem se apresentar desde 2006, Virgínia Degrandi faz show neste sábado no Paschoal Carlos Magno (Foto: Divulgação)

Depois que saiu do palco do Teatro Pró-Música, em 2006, quando se apresentou com a Orquestra Pró-Música, a gaúcha Virgínia Degrandi nunca mais esteve diante do público para fazer uma das coisas que mais gosta, que é cantar. Pois esse período longe dos palcos termina neste sábado (9), quando a artista se apresenta, às 20h, no Teatro Paschoal Carlos Magno, para promover o lançamento do EP independente “Flores raras”, disponível desde maio nos serviços de streaming. O repertório do show inclui músicas já gravadas por ela – e que ainda não chegaram às plataformas digitais – e versões de canções conhecidas nas vozes de Maria Bethânia, Gonzaguinha e Vanusa. Virgínia terá ainda as participações especiais dos cantores Ney Geral e Anna Terra.

Nascida em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, e atualmente vivendo em Paraíba do Sul (RJ), Virgínia conta que a música está presente em sua vida desde a infância graças à mãe, que já era fã de Roberto Carlos. “Desde os 7 anos eu colocava uma lata de leite condensado no cabo da vassoura para fazer um ‘microfone’, e botava meus irmãos e coleguinhas para me ouvirem.” Mais adiante, aos 11 anos, quando já morava no Rio, veio o acaso que mudou sua vida. “Meu pai parou em um posto de gasolina, e ao lado estava um Camaro verde abacate; quando vejo, o Agnaldo Timóteo sai do carro. Na mesma hora fui atrás dele e falei ‘lá em casa a gente gosta de você, eu canto, você podia me ajudar a cantar no Chacrinha’. Ele disse para me inscrever no minitrono; na primeira vez que fui cantei ‘Free again’, da Barbra Streisend, e ganhei por sete semanas consecutivas, participando dos programas do Chacrinha no Rio e em São Paulo”, relembra.

PUBLICIDADE

Depois de quatro anos participando da parte jovem do programa de calouros, ela foi convidada para concorrer com os adultos. Logo na primeira vez, mais uma experiência inesquecível. “Escolhi uma música do Agnaldo Timóteo, e quando estava cantando ele me buzinou. Na mesma hora minha mãe gritou em castelhano: ‘Não! Ela não errou!’. O Chacrinha perguntou quem estava gritando, e o (assistente de palco) Russo respondeu que era minha mãe. O Chacrinha perguntou como ela sabia que não tinha errado, minha mãe respondeu que ela que tinha me ensinado, e chamou minha mãe para cantar comigo no palco. Foi um sucesso, ficamos famosas no Rio de Janeiro, e foi ali que o Chacrinha se encantou comigo e disse que iria longe.”

Apoio do Rei

Com a repercussão, Virgínia passou a cantar em diversos programas de TV e de calouros, como “Almoço nas estrelas”, “Papel Carbono” e “Clube do Bolinha”. Cada vez mais confiante, ela revezava as aparições na televisão com os shows com os grupos Asteca e Blue Star, respectivamente de Três Rios e Paraíba do Sul, se apresentando por toda a região. Mais à frente, em outra feliz coincidência, conheceu ninguém menos que o “Rei” Roberto Carlos, que ajudou a abrir as portas do mercado fonográfico. “O Roberto havia sofrido um acidente de carro em Paraíba do Sul nos anos 60, e quem o ajudou foi o Jadir Coelho, e o Roberto ficou tão agradecido que foi padrinho da filha dele. Anos depois, meu pai e o Jadir trabalhavam na antiga CCPL (Cooperativa Carioca de Produtores de Leite), e quando soube que eu era cantora ficou de me apresentar quando o Roberto Carlos se apresentasse na cidade, o que aconteceu no ano seguinte. Quando me conheceu, em 1976, o Roberto disse ‘por mim você está contratada, só depende do diretor artístico.'”

Virgínia seguiu com a carreira, e, aos 21 anos, a promessa começou a se cumprir. “Quase caí dura quando atendi o telefone e era o Roberto Carlos dizendo ‘desce pro Rio para assinar contrato com a CBS’. Até hoje me emociono com o momento, foi um dos mais felizes da minha vida, marcou minha juventude.”

Artista começou a ser conhecida nacionalmente ao se apresentar no programa apresentado por Chacrinha (Foto: Arquivo pessoal)

Decepção com a indústria

Virgínia gravou dois compactos entre 1978 e 1979 pela CBS, porém nem tudo foi como a artista esperava; pode-se dizer, até, que quase nada foi como sonhou. “Eu era uma cantora de repertório romântico, e me fizeram gravar disco music, que era o que fazia sucesso. Inclusive aceleraram e modificaram minha voz, pois eu era cantora da noite e tinha vícios (de quem canta na noite). Foi aí que me ‘assassinaram’, pois como eu era ‘afilhada’ do Roberto Carlos achavam que iria vender muito”, lamenta a cantora. Os desentendimentos com a gravadora logo começaram a implodir a carreira da cantora.

Virgínia pediu para rescindir o contrato, mas antes ainda gravou o seu derradeiro registro fonográfico. Se na sua estreia teve o acompanhamento da própria orquestra que tocava com Roberto Carlos, a segunda experiência foi melancólica. “A gravação foi feita em um estúdio pequeno, com bateria eletrônica e teclado, e não gostei porque encobriram minha voz com os instrumentos.” Dessa experiência saíram as gravações de “Essa mágoa” e “Por você”, que ela jurou, na ocasião, que um dia iria gravar com o arranjo que tivesse a sua cara – o que aconteceu mais de quatro décadas depois, e que espera lançar em breve. “Quando retornou do México e soube que havia rescindido o contrato, o Roberto Carlos falou que não deveria ter feito isso.”

O conteúdo continua após o anúncio

Pausa e retomada

A mágoa, porém, era muito grande, e Virgínia deixou a carreira de lado e decidiu se mudar para Juiz de fora para retomar os estudos e trabalhar. Segundo ela, era uma cidade grande e, ao mesmo tempo, próxima de onde os pais viviam. “Voltei a cantar em 1985, na Dream’s, e me apresentei em locais como o Rafa’s e Panorama.” Ela seguiu cantando em vários locais de Juiz de Fora até 1994, quando foi trabalhar como servidora pública. Virgínia voltou aos palcos apenas em 2006, quando fez seu último show no Pró-Música, e a partir daí trabalhou como autônoma e, depois, na Câmara Municipal entre 2017 e 2019, quando se mudou para Paraíba do Sul. “Já planejo um novo show para Juiz de Fora em setembro, além de me apresentar também em Paraíba do Sul e Três Rios. E sonho realizar um projeto que tenho, de tirar pessoas das ruas e inseri-las na música, mas preciso de uma pessoa que me ajude a colocar o projeto no papel o mais rápido possível.”

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.