Nada será como antes
Com oito anos de vida e hoje referência no pré-carnaval juiz-forano, o bloco Parangolé Valvulado mantém-se fiel às suas origens vanguardistas. Justamente no ano em que homenageiam o Clube da Esquina, que prega – entre tantas outras máximas de canções que povoam nosso imaginário popular – “Tudo que move é sagrado”, a agremiação não percorrerá um trajeto, mas se apresentará em um palco, no estilo “concentra-mas-não-sai”, na Praça da Estação, neste domingo, a partir das 16h. “É pra você ver como o Parangolé é profano”, brinca Fred Fonseca, um dos integrantes do bloco, que cresceu tanto a ponto de levar cerca de dez mil pessoas ao Largo do Riachuelo no ano passado. “Nunca esperávamos que isso fosse acontecer. No primeiro ano, achei que nem ia ter bloco, de tão pouca gente que havia na concentração. Hoje em dia, colocar o bloco na rua exige um certo trabalho, uma organização que às vezes é complicada, é pouca gente para muita decisão”, explica Edson Leão, uma das vozes do bloco.
A adesão em massa foi um dos motivos para que a folia fosse transferida para a Praça da Estação, já que, com a multiplicação dos foliões, a segurança ficava ameaçada, pois não havia como evitar que a multidão se espalhasse para as pistas da Avenida Rio Branco ou como conter possíveis tumultos e ocorrências policiais. “Entendemos a preocupação do poder público. A Praça da Estação é legal pela questão de ser o centrinho histórico da cidade. Mas ali o bloco vai ficar parado, e achamos que ele tem que estar pela rua. Vamos tentar conversar com a Prefeitura para ano que vem achar uma solução e voltarmos para o Largo”, diz Danniel Goulart, outro componente do Parangolé.
Segundo Fred Fonseca, a agremiação pode mesmo chegar a participar do carnaval de outra forma. “Temos um disco no forno e somos solicitados para participar de outros carnavais e festas. Com esse status de banda, recebemos outro tipo de apoio e podemos fazer algumas exigências de suporte”, completa ele.
Andando ou parado, tá valvulado!
Para Edson Leão, a homenagem ao Clube da Esquina, uma de suas grandes referências musicais (“Foram eles que me levaram aos Beatles”), faz deste enredo um dos mais especiais. E assim como outros enredos do Parangolé, como as homenagens ao tropicalismo e ao Arnaldo Baptista, o Clube também soube pegar referências da música mundial e nacional e fazer algo com uma identidade característica e muito brasileira”, ressalta o músico. “Quando a gente não está brincando com temas como a feira (da Avenida Brasil) ou o fim do mundo, a gente fala de coisa séria, para dar uma variada”, dia Danniel Goulart.
O frevo-enredo do bloco, uma de suas marcas registradas, traz diversas referências aos artistas do grupo mineiro, entre os quais estavam Milton Nascimento, os irmãos Borges (Lô, Telo e Márcio), Beto Guedes, Flávio Venturini, Toninho Horta e outros. “Acho que é uma das letras mais bonitas que já fizemos. E não não pensamos ‘olha, precisamos fazer a ponte melódica’, mas acabou que o frevo ficou mais lírico, com uma melodia mais suave, embora não tenha perdido a pressão”, acrescenta Danniel Goulart. Mesmo assim, piadões inerentes ao carnaval e ao irreverente Parangolé não ficam de fora dos versos, como ressalta Edson Leão. “A gente brinca com a letra de ‘Maria, Maria’, dizendo que é preciso ter raça, é preciso cachaça”, aponta o músico.
Quanto à apresentação deste domingo, o Parangolé deve seguir os esquemas de ensaios, apresentando-se em um palco, mas, em tempos de carnaval, tudo pode acontecer, como lembra Fred Fonseca. “Como o próprio Clube da Esquina, o Parangolé é marcado por sua espontaneidade e originalidade. Somos um bloco que tem guitarra, baixo, toca frevo, é algo fora do comum. E é este paradoxo que diverte, isso é o espírito puro de escárnio do carnaval.” Parado ou chovendo, debaixo de sol ou chuva, os integrantes repetem o convite e a máxima presente em várias das composições do Parangolé: “Deixa a tristeza de lado, que o Parangolé tá Valvulado!”, cantarola Danniel.
PARANGOLÉ VALVULADO
Domingo, dia 8, a partir das 16h
Praça da Estação