Estreia ‘Encantado’: Faltou encanto, comédia, romance… E uma história

Animação mostra o Príncipe Encantado em busca do seu verdadeiro amor


Por Júlio Black

06/12/2018 às 07h00

Mostrar os contos de fada que marcaram a infância de gerações é filão que Hollywood e adjacências têm explorado nos últimos anos, seja subvertendo o gênero (a franquia “Shrek”), contando a história em outro contexto (“João e Maria: Caçadores de Bruxas”, “Branca de Neve e o Caçador”), tornando-as mais sombrias (“A garota do capa vermelha”), inserindo toques de fantasia na história de seus criadores (“Os Irmãos Grimm”, de Terry Gilliam) ou pelo ponto de vista de outros personagens (“Malévola”). É desta última tendência que se vale a animação “Encantado”, produção da 3QU Media, Cinesite, Vanguard Animation e WV Enterprises que estreia nesta quinta-feira (6) no Brasil.

Branca de Neve, Cinderela e Bela Adormecida não percebem que estão noivas do mesmo príncipe, único herdeiro do reino (Foto: Divulgação)

Com roteiro e direção de Ross Venokur, a animação tem como protagonista Felipe, o Príncipe Encantado, aquele mesmo que aparece na undécima hora para salvar a maioria das princesas vítimas de madrastas, bruxas e outras personagens cheias de ódio e rancor o coração – e por isso mesmo do qual pouco se sabe. Pois a história se aproveita disso para imaginá-lo como o mesmo príncipe que salvou a Branca de Neve, Cinderela e Bela Adormecida, e que por isso ficam noivas dele e sequer imaginam – mesmo sendo melhores amigas forever – que vão se casar com o mesmo sujeito, mesmo sabendo que o mancebo é o único herdeiro do reino.

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Muito disso se deve à maldição que uma fada malvada, apaixonada pelo seu pai, rogou contra ele ao ser preterida por outra: quando seu primeiro filho nascesse, ele seria tão encantador, mas tão encantador, que toda mulher que olhasse para ele se apaixonaria na hora, e assim ele jamais entenderia o significado do amor – e ganharia, por consequência, o ódio de todos os homens do reino, que perderiam suas amadas para ele. E se Felipe não se apaixonar e ganhar um beijo do seu amor verdadeiro até completar 21 anos, todo o amor desaparecerá do mundo.

A três dias de completar 21 anos, com três noivas e sem entender o que é o amor, Felipe é aconselhado pelo seu pai a fazer como ele, cumprindo três missões perigosas antes de chegar a uma montanha encantada e, assim, quem sabe, descobrir qual a verdadeira razão de seu afeto. O problema, porém, é que o Príncipe encantado sabe lutar tanto quanto Felipe Melo consegue ficar sem arrumar confusão com ninguém em campo, daí que ele precisará de um parceiro de jornada.

É aí que entra em cena Lenora Quinonez, jovem acostumada a realizar roubos na base da mão leve e que, por conta de um trauma nunca explicado que a fez endurecer feito pedra seu coração, não cai de amores por Felipe quando tromba com ele, enquanto tenta fugir dos guardas reais. Depois de ser presa, ela aceita servir de companhia para Felipe, e para isso coloca um chapéu (!) e um bigode (!!!) a fim de que ele não desconfie que ela é a tal guria que tanto o intrigou.

Branca de Neve, Cinderela e Bela Adormecida não percebem que estão noivas do mesmo príncipe, único herdeiro do reino (Foto: Divulgação)

O resultado é de se imaginar, bem na linha das comédias românticas. Os dois se estranham no início, mas, à medida que vão se conhecendo melhor, surge um laço de amizade e afeto entre os dois, que acham aquilo tudo muito estranho, ambos passam a se conhecer melhor, rola aquele típico momento em que tudo parece ir por água abaixo mas, no final… Não vamos contar, mas é mais que previsível.

Sem sair da mesmice

Ao final, apesar das boas intenções e da história que busca sair da mesmice dos contos de fada, “Encantado” é fraco, muito fraco em sua realização. A animação nem é o pior dos problemas, mesmo que seja evidente que a produção não tinha a mesma grana e feras da computação que uma Pixar, por exemplo.  Para começar, falta carisma aos personagens, em nenhum momento você consegue ter empatia seja pelo Príncipe Encantado ou Lenora, e protagonistas sem carisma é a morte para qualquer filme; a Meia Oráculo acaba sendo a personagem mais interessante, e a representação de Cinderela, Branca de Neve e Bela Adormecida até arrancou uma ou outra risadinha, mas no geral apenas esboços de sorriso. A fada malvada tenta estragar o romance do casal, mas para quem tinha soltado uma maldição tão barra-pesada, ela poderia ter feito bem mais do que fez. Pelo menos a dublagem original, com Demi Lovato, Wilmer Valderrama, Avril Lavigne, Nia Vardalos, G.E.M., Ashley Tisdale, Sia, o DJ Steve Aoki (numa breve ponta) e o venerável John Cleese ajudam a elevar o nível para quem tiver a sorte de fugir da versão dublada com Larissa Manoela e Leonardo Cidade.

Mas aí também vem a história, que deixa as coisas meio jogadas pelo caminho, não aproveita personagens que poderiam ser mais simpáticos, apresenta uns desafios bem meia-boca para Felipe e Lorena – que nunca parecem correr perigo real, seja de morte ou de não se apaixonarem -, e muita, mas muita cantoria fora de hora. Só para dar exemplo, bastam dois minutos de filme para Branca de Neve, Bela Adormecida e Cinderela começarem a cantar por três minutos, afinal é preciso justificar as presenças de Avril Lavigne, G.E.M. e Ashjley Tisdale como as princesas.

Para os pais que precisarem levar os pequenos ao cinema, filhos, sobrinhos, afilhados e primos pirralhos provavelmente vão curtir a história, afinal ela é básica e primária até os ossos, mas serão cerca de 80 minutos de paciência para os mais velhos.

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ENCANTADO

UCI 4 (3D/dub): 14h, 16h, 18h. Cinemais Alameda 4 (3D/dub): 15h20. Cinemais Alameda 5 (3D/dub): 16h50. Cinemais Jardim Norte 3 (3D/dub): 14h40, 16h40.
Classificação: livre

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