Um flerte com o passado
O padrão é não ter um padrão tão definido. As varandas do Trentino Residencial, no Bairro Bom Pastor, são desalinhadas, conferindo dinamismo a um projeto arrojado, que se faz contemporâneo justamente por flertar com o passado arquitetônico brasileiro. Enquanto o uso do concreto nas varandas retoma o brutalismo paulista e o modernismo bastante presente na região, a madeira nos brises sugere a sustentabilidade e nos detalhes que percorrem verticalmente todos os andares. O desenho final, que conjuga variadas geometrias, estabelece diálogo com outros projetos que, igualmente atuais, irrompem na paisagem de Juiz de Fora.
“O Trentino é um projeto que foge um pouco dos lançamentos atuais. Ele ganhou a Bienal de Arquitetura da Zona da Mata e deve sair num livro sobre edifícios residenciais contemporâneos que está sendo produzido em São Paulo”, comenta Frederico Andrade, um dos sócios do escritório Skylab, um dos principais sujeitos da nova cena da cidade. “Buscamos fazer diferente. Não quer dizer que seja novo, que é um termo complicado na arquitetura, que trabalha com releituras. Acaba parecendo novo porque resulta em mesclas e atualizações. Inovar é fazer agora, é evoluir o próprio trabalho, é não apostar numa fórmula.”
No agora do relógio, a estética somente não basta. É preciso ter referência e funcionalidade. “É muito difícil pegar uma folha em branco e não ter referências. Lidamos com isso equilibrando com o momento em que vivemos, as demandas do cliente, a época, a conjuntura econômica, a incidência do sol, a vista e outros fatores que formam um projeto”, aponta Andrade, sem negar a força do passado nas construções do presente. E, para uma cidade que fez de sua região central um retrato na parede, a boa convivência com o já feito torna-se imperativa.
Da janela, o ontem é, de alguma forma, o hoje. Antes de servir ao Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFJF, o prédio na esquina da Avenida Getúlio Vargas com Rua Floriano Peixoto serviu à Diretoria de Higiene do município. A partir de dezembro, reabre-se como museu. De acordo com a pró-reitora de Cultura da UFJF, Valéria Faria, o prédio sediará o Museu Dinâmico de Ciência e Tecnologia da universidade, com trabalhos que permitem a interação de estudantes com aprendizados de química e física; o Centro de Conservação da Memória, com fotografias e documentos da instituição, e um museu contando a trajetória do movimento estudantil na cidade. Patrimônio local, a edificação mantém seus traços de mais de um século, equilibrando-se com modelos atuais – como uma parede em cimento queimado.
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