Cássio Cunha conta a cultura dos povos indígenas em ‘O mundo de Pabi’

Livro destinado ao público infanto-juvenil foi escrito a partir das lembranças da época que o escritor viveu em Rondônia


Por Júlio Black

06/10/2021 às 07h00

Cássio Cunha estreia na literatura infanto-juvenil inspirado por sua experiência com os povos indígenas em Rondônia (Foto: Divulgação)

Cássio Cunha foi empossado em 2015 como procurador federal da AGU (Advocacia Geral da União) na cidade de Ji-Paraná, no estado de Rondônia, na procuradoria federal especializada na Funai (Fundação Nacional do Índio). Ele ficou no estado por menos de um ano, mas a experiência com os povos indígenas ficou. O resultado é o livro “O mundo de Pabi” (Editora Dialética), com quatro contos de ficção para o público infanto-juvenil que reúnem as tradições e culturas de diversos povos da região. O escritor vai doar, ainda, exemplares da publicação para diversas escolas da rede municipal de ensino de Juiz de Fora, além de algumas instituições particulares, e também para dez escolas públicas de Rio Preto, sua terra natal.

Em sua estreia na literatura de ficção, Cássio Cunha, que atualmente é chefe da Procuradoria Federal em Juiz de Fora e Viçosa, valeu-se da experiência vivida nas viagens que fez a diversas tribos em Rondônia, uma experiência que ele considera de uma riqueza ímpar. “Fiquei acampado em tribos, nas aldeias, desenvolvi palestras para eles sobre seus direitos, como regularizar iniciativas deles junto aos órgãos públicos, participei de operação com a Polícia Federal para expulsar garimpeiros de suas terras”, relembra. “E recebi um carinho muito grande deles, e quando fui para Brasília continuei trabalhando com direitos indígenas. Fiz amizade com caciques de tribos de diversos estados, e mantemos contato até hoje.”

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O contato com essas diversas etnias despertou a vontade de escrever diversos contos que ele pretendia ler para seu filho Gabriel, nascido em 2018. Com esse objetivo, ele criou a trama dos quatro contos protagonizados por pela criança Pabi, a partir da cosmologia dessas populações, pegando um pouco de cada cultura – como a criação do mundo ou a transformação dos guerreiros em onças.
“Usei tradições e crenças de várias etnias para criar as histórias, sendo que alguns personagens são inspirados em pessoas que conheci, como o próprio Pabi – um garoto que ajudei a entrar na faculdade -, e a Bóróró. Seria apenas para ler para o meu filho; porém, ao conversar com um amigo de editora, ele sugeriu lançar o livro, então ele foi tomando forma, e selecionei os contos que fossem mais direcionados para o público infanto-juvenil.”

 

Mais livros

Sobre a reação dos amigos dos povos indígenas, ele destaca que foi extremamente positiva. “Fiz algumas matérias de mestrado na UnB (Universidade de Brasília) com uma indígena de Governador Valadares, que gostou muito. Todos eles gostaram muito, pois ficam lisonjeados quando são lembrados de forma positiva, devido ao preconceito que ainda enfrentam.

Cássio afirma que a visão distorcida e preconceituosa acerca dos povos indígenas ainda é muito forte na sociedade. “É uma visão que continua totalmente impregnada, digo com conhecimento de causa. Todo mundo tem uma interação cultural; você, por exemplo, pode ir para o exterior conhecer novas culturas e mantém suas características, e é o que também acontece com os indígenas. Eles podem perder algumas características, mas mantém sua essência, só que existe essa visão deturpada e preconceituosa, até mesmo na área do direito.”

A respeito de futuros livros ligados ao tema, Cássio adianta que pretende escrevê-los, sim, até por causa do nascimento do segundo filho, no ano que vem. Para isso, ele pretende voltar a Rondônia em suas próximas férias. “Quero passar pelo menos uma semana com a população local para ouvir mais histórias e, assim, poder escrever novos contos, porém com mais conteúdos identitários, como a antropofagia, e a partir da perspectiva deles. A ideia, ainda, é dar continuidade ao primeiro livro, explorando personagens como a mãe do Pabi, que não é citada.”

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