Maior exposição de arte do país abre em meio a manifestações


Por Mauro Morais, Repórter

06/09/2016 às 18h56

Incertezas podem ser entendidas como dúvida. E já no primeiro dia que a 32 Bienal de São Paulo se abre, apenas para convidados, as interrogações tomam conta de todo o imenso pavilhão no Parque do Ibirapuera, na capital paulista. Enquanto o foco é colocado em questões ecológicas e sociais, que, para a curadoria, demonstram as incertezas do mundo, o público faz a leitura do momento de dúvidas vividas pela política nacional. Não à toa as manifestações contra o presidente em exercício, Michel Temer, deram o tom e o som da estreia da maior exposição de arte do país. Mais de 200 artistas visuais se reuniram para financiar camisas com os dizeres “Fora Temer”, “Diretas já”, “Jamais Temer”, dentre outras frases de ordem, distribuídas para os que adentraram a Bienal.

Ainda que não despertem para um discurso inflamado politicamente, os trabalhos que devem chegar a Juiz de Fora no próximo ano, através do projeto de intinerância que a Bienal tem praticado, discutem a urgência das transformações. Logo na entrada, gigantes esculturas de Frans Krajcberg recebem os espectadores. As obras do polonês de 95 anos, radicado no Brasil, são feitas a partir de galhos e troncos de árvores vitimadas pelo devastamento. Representam a natureza morta em seu desejo de ser bela.

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Destaque desta edição, o trabalho “Dois pesos, duas medidas”, da mineira Lais Myrrha, ocupa o vão central do pavilhão. Duas imensas torres: uma feita com materiais indígenas, outra com os utilizados na construção civil brasileira. Segundo o curador da Bienal, Jochen Volz, responsável pela implantação de Inhotim, a nova edição da mostra espera-se acessível e, sobretudo, reflexiva. Para ele, é inegável a potência poética da arte, da mesma forma que é incontestável sua potência política.

A principal exposição do país, portanto, aponta que para ser arte contemporânea é necessário, antes de tudo, que seja atual, no sentido de responder com firmeza ao hoje. Dessa forma, os 81 artistas de todo o globo, com foco para uma África inventiva e aguerrida, demarcam seus lugares no presente, mostrando que a manifestação, nesse contexto, tem peso de grito e também de performance.

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