‘X-Men: Fênix Negra’ estreia nesta quinta-feira (6)
Nova adaptação da clássica saga dos quadrinhos chega esvaziada pelo anúncio da compra da Fox pela Disney, dona da Marvel
Não é apenas o Tupi, há mais de 300 dias sem conquistar uma simples vitória, que cumpre tabela esta semana. Os mais populares mutantes da Marvel seguem o mesmo caminho: afinal, “X-Men: Fênix Negra” estreia nesta quinta-feira (6) no clima de “crônica de uma morte anunciada”. Este será o penúltimo longa do universo mutante produzido pela Fox (“Novos Mutantes” deve estrear em 2020, após dois anos de adiamentos), que teve sua compra pela Disney concretizada no início de 2019.
Como a empresa do Mickey Mouse já havia adquirido a Marvel – casa dos X-Men nos quadrinhos – há quase uma década, os personagens serão integrados ao MCU (Universo Cinematográfico Marvel), logo a saga dos heróis será zerada no cinema. Ou seja: “Fênix Negra”, que começou a ser produzido antes do início das negociações entre os dois estúdios, servirá apenas para encerrar o ciclo dos personagens com a Fox, que havia adquirido os direitos para o cinema na década de 1990. Talvez sirva, ainda, como quase duas horas de entretenimento na sala escura. De resto, servirá para nada em termos de uma futura mitologia. Ou uma aula sobre o que não fazer quando adaptar quadrinhos.
Mas este é apenas um dos motivos – ainda que o principal – para “X-Men: Fênix Negra” chegar tão esvaziado aos cinemas. Dentre outras razões, está o fato de que esta é a segunda adaptação da “Saga da Fênix Negra”, o mais famoso arco dos X-Men nas HQs. A história já havia sido levada para a sala escura em “X-Men: O confronto final”, de 2006. O longa dirigido pelo infame Brett Ratner disputa palmo a palmo com “X-Men: Apocalipse” (2017) o título de pior filme dos seis já lançados pela franquia. As críticas pesadas e a bilheteria decepcionante de “Apocalipse” também contribuem para a descrença quanto à nova produção e à capacidade da Fox em saber trabalhar o material que tinha à mão – só lembrar a cronologia completamente bagunçada a partir de “Primeira Classe” (2011).
O poder que corrompe
Simon Kinberg, que já havia sido roteirista e produtor de alguns longas da franquia, assume pela primeira vez a cadeira de diretor em meio ao clima de fim de festa. Depois de um início que se passa nos anos 70, a história salta para 1992, mais ou menos uma década depois de os X-Men terem derrotado Apocalipse. Por conta disso, ao contrário da “tradição”, eles são vistos como heróis pelo povo, o Professor Xavier (James McAvoy) é quase um BFF (melhor amigo) do presidente dos Estados Unidos, praticamente ninguém mais enxerga os mutantes como ameaça.
É assim, como uma espécie de “X-Vingadores”, que a trama até se aproxima dos quadrinhos, quando os X-Men são recrutados para tentar resgatar a tripulação de um ônibus espacial. Óbvio que alguma coisa vai dar errado, e Jean Grey (Sophie Turner) terá que usar seus poderes telepáticos para salvar o dia, sacrificando a si mesma. Mas aí entra em cena um poder cósmico até então desconhecido, batizado nas HQs como Força Fênix, que vai salvar a mocinha e conferir à jovem poderes que a transformam na mutante mais poderosa do mundo – talvez o ser mais ameaçador do universo.
O problema é que Jean Grey é jovem, carrega traumas da infância, e não custa lembrar que o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente – aí não tem Professor X, Ciclope (Tye Sheridan) ou Mística (Jennifer Lawrence) que possa controlar a fúria e a sede de poder que brotam no peito de Jean Grey. Para piorar, alienígenas comandados por uma figura misteriosa (Jessica Chastain) surgem com intenções nada benevolentes. Ah, e também não falta Magneto (Michael Fassbender) na parada.
Apesar do final melancólico e de uma trajetória com altos e baixos, dificilmente haveria um universo de filmes como o da Marvel sem os X-Men da Fox. Foi o primeiro filme dos mutantes, lançado no ano 2000, que mostrou aos estúdios que produções do gênero poderiam ser viáveis, dar retorno de bilheteria, desde que houvesse um cuidado com a produção, conhecimento sobre a importância das HQs e preocupação em adaptar histórias que funcionassem para um público distante da nona arte. É torcer para “Fênix Negra” ser um final digno dessa trajetória, e também para que o futuro dentro do MCU entregue aquilo que a Fox não soube trabalhar.
Uma saga que marcou os quadrinhos
Se o longa da Fox terá menos de duas horas para mostrar os tormentos de Jean Grey, a transformação da personagem nos quadrinhos durou mais de três anos e marcou época como A Grande História dos X-Men, e também um dos momentos mais importantes das HQs de super-heróis.
As sagas da Fênix e Fênix Negra tiveram início em 1976 nas edições 98 a 101 de “Uncanny X-Men”, com roteiro de Chris Claremont e arte de Dave Crockum. Parte dos X-Men é sequestrada pelos robôs Sentinelas e levada para uma estação espacial por ordem de Stephen Lang, do Clube do Inferno. Depois de conseguirem ir para o espaço, os outros membros da equipe derrotam o vilão, os robôs e libertam os colegas, mas o ônibus espacial em que fugiram vai explodir na reentrada. Jean Grey se sacrifica para salvar os amigos, mas volta da morte com poder cósmico infinito ao ser “ressuscitada” pela Força Fênix.
Ela adota o codinome Fênix e usa esses poderes para salvar o universo, tempos depois, ao reconstruir o Cristal M’Krann, despedaçado pelo insano Imperador D’Ken. Ao perceber a extensão de suas capacidades, ela impõe limites aos seus poderes, justamente para não se deixar corromper por eles.
Sacrifício e tragédia
Sem saber do vespeiro em que se meteriam, os integrantes do Clube do Inferno reaparecem meses depois dispostos a ter a Fênix como uma de suas integrantes, no arco que vai das edições 129 a 138 de “Uncanny X-Men”, entre 1978 e 1979, com John Byrne como desenhista. Para isso, se aliam a outro mutante, o ilusionista Mestre Mental, que consegue inicialmente confundir Jean Grey e torná-la a Rainha Negra do grupo, inclusive ajudando a derrotar os X-Men.
Jean acaba por perceber o embuste e se vira contra os vilões, mas o estrago já estava feito. Corrompida pelo poder infinito que tem, inconcebível para qualquer mente humana, ela se torna a Fênix Negra, derrota novamente seus colegas e parte para o espaço, onde destrói um sistema estelar e mata seis bilhões de pessoas por causa disso.
Ao retornar à Terra, a Fênix Negra é levada à razão pelo Professor Xavier, mas os alienígenas Shiar a sentenciam à morte. Consorte de imperatriz Lilandra, Xavier ainda consegue exigir que a questão seja decidia por meio de combate entre os X-Men e a Guarda Imperial Shiar, na Área Azul da Lua. Porém, ao ver o amado Scott Summers, o Ciclope, ferido, Jean volta a se descontrolar e assumir o nome de Fênix Negra.
Percebendo que jamais conseguiria controlar o poder que recebeu, Jean Grey comete suicídio na edição 137 da revista, num dos desfechos mais trágicos da história dos quadrinhos. O final da saga, desgastante desde o início, foi um dos motivos para o fim da parceria entre Chris Claremont e John Byrne, encerrada em “Dias de um futuro esquecido” (também adaptada para os cinemas). Para isso contribuiu, ainda, a intromissão do então editor-chefe da Marvel, Jim Shooter, que exigiu que a dupla reescrevesse o final da história, justamente com o sacrifício da personagem.
X-Men: Fênix Negra
UCI 2 (3D/leg): 14h30, 19h30. UCI 2 (3D/dub): 17h, 22h. UCI 3 (3D/dub): 13h30, 18h30. UCI 3 (3D/leg): 16h, 21h. Cinemais Alameda 4 (3D/dub): 14h, 18h40. Cinemais Alameda 4 (3D/leg): 16h20, 21h. Cinemais Jardim Norte 4 (3D/dub): 14h, 16h20, 18h40. Cinemais Jardim Norte 4 (3D/leg): 21h. Santa Cruz 2 (dub): 15h45, 18h15, 20h45.
Classificação: 12 anos