Primeiro Plano exibe ‘O animal cordial’, com Murilo Benício

Longa encerra o segundo dia de exibições da 17ª edição do festival nesta terça-feira (6)


Por Júlio Black

05/11/2018 às 20h21

Os slasher movies (filmes com maníacos e psicopatas que saem matando a rodo, com mortes que podem afetar estômagos sensíveis) já renderam clássicos como “Halloween”, “A hora do pesadelo”, “Sexta-Feira 13” e “O massacre da serra elétrica”. No Brasil, esse subgênero do terror é raramente explorado no cinema comercial, apesar de forte presença em produções independentes. Uma das poucas exceções é “O animal cordial”, longa de Gabriela Amaral de Almeida que encerra o segundo dia de exibições do Festival Primeiro Plano. A exibição está marcada para as 21h15 no Teatro Paschoal Carlos Magno, com entrada franca.

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Sara (Luciana Paes) acaba se unindo a Inácio (Murilo Benício) em sua difusa busca de vingança contra tudo e todos no terror ‘O animal cordial’ (Foto: Divulgação)

Como tentativa de sair da mesmice das comédias estreladas por comediantes do Multishow/TV Globo, o misto de terror/drama/suspense/reflexão sobre barreiras sociais e de gênero tem seus méritos, mas o resultado final é igualmente um mix de erros e acertos. Ao mesmo tempo que é visualmente impactante na fotografia e uso das cores, apostando na claustrofobia do cenário único, “O animal cordial” oscila entre situações mal resolvidas, uma tentativa nem sempre bem-sucedida de explorar os demônios, frustrações e recalques interiores dos personagens e de um pudor justamente onde o filme deveria ser arrebatador: as cenas de morte dos personagens. A cena mais impactante acaba sendo a de sexo entre dois protagonistas, num momento de catarse resultante de uma “orgia” de sangue que não chega aos pés da lendária cena da tortura do policial em “Cães de Aluguel”.

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A história se passa em um restaurante numa região pouco nobre de São Paulo, quando o estabelecimento está prestes a fechar e os funcionários desesperados para ir embora, sendo que apenas dois permanecem, contrariados: o cozinheiro transgênero Djair (Irandhir Santos) e a recepcionista Sara (Luciana Paes). Inácio (Murilo Benício), o dono, vive às turras com seus empregados e frustrado por administrar um restaurante que não está entre os mais recomendados da cidade e recebe clientes nada nobres, como um policial aposentado (Ernani Moraes) e o casal emergente Bruno (Jiddu Pinheiro) e Verônica (Camila Morgado).

Neste ponto, o filme ainda acentua suas qualidades ao mostrar a tensão entre patrão, empregados e clientes. Quando dois criminosos (Humberto Carrão e Ariclenes Barroso) chegam e anunciam o assalto, o suspense aumenta, ainda mais por conta da agressividade da dupla. Inácio, porém, atira em um deles e domina o outro, e aí vem a inesperada e algo inexplicável reviravolta: o dono do restaurante, indignado por mais um assalto, proíbe a todos de ligarem para a polícia e diz que vai resolver a situação à sua maneira.

Ficam latentes, então, não só o descontrole psicológico do dono do restaurante, mas também todo seu rancor por uma vida medíocre e o que acredita ser uma ingratidão por parte de seus funcionários — exceção feita a Sara, com quem rola uma tensão sexual desde os primeiros minutos. A história fica refém das mudanças de humor e atos descontrolados de Inácio, e apenas Sara ganha algum desenvolvimento em sua personalidade e motivações. Todos os demais personagens servem mais de bucha de canhão para os surtos do personagem de Benício (que levou o prêmio de melhor ator no Festival do Rio), o que acaba sendo um dos motivos para o filme — apesar de momentos interessantes — ser cansativo e repetitivo em diversos momentos. Um pouco mais de sangue — na verdade bem mais — e preocupação com os personagens secundários teriam feito de “O animal cordial” mais que um filme interessante, porém falho em suas boas (más) intenções.

Outras atrações do dia
Antes da exibição de “O animal cordial”, o Festival Primeiro Plano tem diversas atrações agendadas para a terça-feira (6), todas no Paschoal Carlos Magno. A primeira delas, às 15h, é a Sessão Lanterninha Juvenil, com a exibição de cinco curtas-metragens; depois, às 17h, acontecem as primeiras exibições da Mostra Competitiva Regional, em que serão exibidos seis curtas; às 19h é a vez da Mostra Competitiva Mercocidades, com cinco produções agendadas.

‘O animal cordial’
Nesta terça (6), às 21h15, no Teatro Paschoal Carlos Magno (Rua Gilberto de Alencar s/n), com entrada franca.

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