Beatriz Segall, eterna Odete Roitman, morre aos 92 anos

Atriz que viveu icônica vilã na novela “Vale tudo”, em 1988, estava internada com problemas respiratórios


Por Agência Estado

05/09/2018 às 16h09- Atualizada 05/09/2018 às 16h13

Beatriz Segall durante entrevista a Antonio Abujamra (Foto: Reprodução/TV Cultura)

Morreu nesta quarta-feira (5), aos 92 anos, a atriz Beatriz Segall, conhecida por viver a icônica vilã Odete Roitman na novela “Vale tudo”, de 1988, na Rede Globo. A informação foi confirmada pela assessoria da atriz ao jornal O Estado de S. Paulo. Beatriz estava internada já há algumas semanas no hospital Albert Einstein, em São Paulo, com problemas respiratórios. O velório será realizado na própria instituição a partir das 19h, até por volta do meio-dia da quinta-feira (6). Em seguida, no mesmo dia, o corpo da atriz deve ser cremado em Cotia, na Grande São Paulo.

Nem que quisesse Beatriz Toledo Segall poderia interpretar personagens sem classes. Nascida em 1926, numa família de classe média, o pai dirigia uma prestigiada escola no Rio e ela teve educação esmerada, segundo os padrões dos anos 1940 – piano, francês e bordado. Amava o teatro, mas quando anunciou à família que queria ser atriz, o pai quase teve uma síncope. Meninas de boa família não subiam ao palco, naquele tempo em que atrizes tiravam carteirinhas de prostitutas para exercer a profissão. Mas, nos 50, quando recebeu uma bolsa para estudar francês e literatura em Paris, não renunciou a nada.

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No Brasil mesmo, já havia iniciado um curso de teatro com a grande Henriette Morineau. A temporada na França foi gloriosa – prosseguiu esses estudos, enamorou-se do filho do pintor Lazar Segall, Maurício. Casaram-se em 1954 e tiveram três filhos – Sérgio, Mário e Paulo. O primeiro tornou-se um importante cineasta, assinando como Sérgio Toledo. Foi premiado em Berlim, em 1987, com “Vera”. Durante dez anos Beatriz permaneceu devotada à família, aos filhos. Em 1964, o ano do golpe militar, retomou a carreira, substituindo Madame Morineau na montagem de “Andorra” no Oficina, de José Celso Martinez Correia. Não parou mais. O marido pertencia à ALN, tendo sido preso e torturado. Beatriz teve de ser o arrimo da família nesse período difícil.

Brilhou em todas as mídias – no cinema estreou em 1950, com “A beleza do Diabo”, de Romain Lesage. Não filmou muito, mas participou de filmes importantes – “Cléo e Daniel”, “À flor da pele”, “Pixote, a lei do mais fraco”, “Romance”, “Desmundo”. Na TV, embora tenha participado de novelas de grande sucesso – “Dancin’ days”, “Água viva”, “Pai herói”, “Sol de verão”, “Barriga de aluguel” etc -, o grande papel foi como Odete Roitman, que virou emblema de autoritarismo e corrupção em “Vale tudo”, novela de Gilberto Braga (com Aguinaldo Silva e Leonor Bassères), na Globo, em 1988, há 30 anos. Consagrada como vilã, sua personagem inspirou o mistério que, nem depois de solucionado – “Quem matou Odete Roitman?” -, deixou de inspirar humoristas e autores.

No teatro, entre muitíssimas personagens, em montagens que fizeram história – “Os inimigos”, “Marta Saré”, “O inimigo do povo”, “A longa noite de cristal”, “O interrogatório” etc -, foi uma extraordinária intérprete de Edward Albee em “Três mulheres altas”, contracenando com Natália Thimberg e Marisa Orth na versão de 1995. Em 2009, recebeu do então governador José Serra a comenda da Ordem do Ipiranga.

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