Botinadas sonoras


Por Júlio Black

05/05/2017 às 17h23- Atualizada 05/05/2017 às 20h50

Dekradi prepara novo EP para ser lançado em breve (Foto: Arquivo Pessoal)
Dekradi prepara novo EP para ser lançado em breve (Foto: Arquivo Pessoal)

Com quatro décadas de vida nas costas, o punk entra na meia-idade comprovando que as notícias a respeito de sua morte enquanto estilo musical continuam sendo exageradas. O gênero que fez muita gente vociferar contra o sistema e tudo-que-aí-está – e até mesmo cantar o amor – continua vivo, com seis bandas se apresentando neste sábado, a partir das 17h, na sexta edição do Circuito Cultural Punk, que acontece desta vez no Sítio Uthopia, no bairro Nova Califórnia, com shows de Poetisa Dissecada, Subefeito, Traste, Dekradi, Ghoró (todas de Juiz de Fora) e da petropolitana Scumbag. Tendo o punk como raiz, as atrações deste sábado mostram as ramificações do estilo trafegando entre ska, hardcore, post punk, Oi! e outras ideias. Formada por integrantes de outras bandas locais, o Ghoró fará sua estreia nos palcos.

Poetisa Dissecada é um dos novos nomes do punk de JF (Foto: Arquivo Pessoal)
Poetisa Dissecada é um dos novos nomes do punk de JF (Foto: Arquivo Pessoal)

O idealizador do evento é o guitarrista Cássio Arbex, que além de militar nos Calhordas entrou no jogo do Ghoró. O motivo é simples, claro e direto, como o bom punk costuma ser: com poucas casas da cidade dispostas a abrirem suas portas para as bandas do gênero, ele resolveu criar o próprio evento com o apoio da esposa, Celita Santi. “A primeira edição aconteceu em maio de 2014 no Black Gold Bar, e tivemos casa cheia. O movimento não é grande na cidade, mas é fiel, comparece mesmo”, afirma Cássio. “Quando o Black Gold fechou, passamos para o Bar do Pirata, no Manoel Honório, onde tivemos nosso melhor público.”

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Como a vida é um eterno desafio, o festival teve que procurar uma nova casa para este ano, e aí foi questão de contar com a ajuda de outro nome de destaque no cenário roqueiro local. “O Tuka ajudou no contato com o Guilherme, dono do Uthopia, que vai disponibilizar a estrutura em troca de uma porcentagem da bilheteria”, comemora. “Nós não realizamos o Circuito com fins lucrativos, tanto que todo o lucro sempre foi dividido com as bandas.”

 

Luta por espaço para tocar

Quem também ajuda na organização é Davi Ferreira, do Subefeito, que é igualmente velho de guerra na eterna luta pela conquista de espaços para shows de punk na cidade. “Este ano tivemos muitas dificuldades, mas o Cássio conversou com o Guilherme, que foi muito receptivo. Com essa crise, está difícil conseguir patrocínio.”

“Continua muito complicado arrumar lugar para tocar”, confirma Cássio Arbex. “Tentamos constantemente entrar em contato com as casas para liberarem o espaço, mas muitas dizem que não dá pra fazer, ou sequer respondem. Uma das desculpas é que não temos o ‘perfil’ da casa.”

Apesar das dificuldades, Cássio reafirma o compromisso de continuar com o Circuito Cultural Punk, que tem por tradição mesclar os artistas locais com gente de fora. “Já tivemos bandas do Rio de Janeiro, Leopoldina, Barroso, São João del-Rei. Foi de São João, inclusive, que tivemos uma banda, a Balde de Lixo, formada por garotos de 12 e 13 anos que vieram tocar acompanhados pelos pais e fizeram o melhor show da noite.” A renovação do público, aliás, é uma questão que o produtor/músico destaca. “Fico surpreso em ver quanta gente jovem comparece aos eventos. O punk pode até não ser um movimento crescente, mas sempre tem novos adeptos.”

“O pessoal está com sede de tocar, Juiz de Fora tem uma demanda por shows de punk/hardcore e seus subgêneros. Há banda na fila que está querendo tocar e que vamos priorizar para a próxima edição”, diz Davi. “O Circuito é um evento em que a união entre as bandas tem sido muito importante para chamar o público. A cena só vai acontecer com união.”

De Petrópolis, Scumbag é formada por integrantes do cenário punk/hardocre da cidade da Região Serrana (Foto: Arquivo Pessoal)
De Petrópolis, Scumbag é formada por integrantes do cenário punk/hardocre da cidade da Região Serrana (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Novatos e veteranos no palco

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Dentre as bandas que se apresentam neste sábado, tem um pouco de tudo, desde os estilos até o tempo de estrada. A que está há mais tempo em atividade é a Subefeito, com quase 15 anos de existência e alguns álbuns no currículo. A Traste lançou recentemente o álbum “3 em 1”, em vinil, e a Dekradi já tem para mostrar dois EPs (um terceiro está a caminho) e um álbum. Das locais, a mais nova é a Poetisa Dissecada, com músicas de temas sombrios e com influência da literatura. Já a banda convidada, Scumbag, é formada por integrantes do cenário punk/hardocre de Petrópolis, com alguns trabalhos para degustação sonora dos amantes do gênero.

“A Subefeito foi convidada por eles para tocar em Petrópolis no ano passado. É uma banda muito boa, com muita energia e presença de palco. A gente queria trazer uma atração de fora que pudesse manter essa parceria, esse intercâmbio. Mostrei um vídeo deles para o Cássio, que topou a sugestão”, elogia Davi Ferreira, que vai registrar em vídeo pelo menos uma música de cada banda e depois publicar na página do evento.

Fundada em 2003, Subefeito é a 'veterana' do Circuito Cultural Punk (Foto: Arquivo Pessoal)
Fundada em 2003, Subefeito é a ‘veterana’ do Circuito Cultural Punk (Foto: Arquivo Pessoal)

 

CIRCUITO CULTURAL PUNK
Com as bandas Poetisa Dissecada, Subefeito, Traste, Dekradi, Ghoró e Scumbag
Neste sábado, às 17, no Sítio Uthopia (Rua do Contorno 650 – Nova Califórnia)

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