‘Eternos’ amplia o Universo Marvel no cinema

Longa dirigido pela vencedora do Oscar Chloé Zhao chega ao circuito nacional nesta quinta e apresenta o panteão de heróis criados por Jack Kirby


Por Júlio Black

04/11/2021 às 07h00

Universo Cinematográfico Marvel volta a ser expandido com a chegada d’Os Eternos, que vivem incógnitos na Terra há milhares de anos (Foto: Divulgação)

Lançados em 2018 e 2019, respectivamente, “Vingadores: Guerra Infinita” e “Vingadores: Ultimato” deixaram para os filmes seguintes do MCU (Universo Cinematográfico Marvel) um desafio maior que alcançar os quase US$ 5 bilhões que os dois longas renderam de bilheteria: entregar histórias que consigam sair da sombra dos maiores eventos da sétima arte no terceiro milênio, principalmente por operarem numa escala que sequer resvalava no genocídio universal materializado na figura de Thanos.

“Homem-Aranha: Longe de casa”, “Viúva Negra” e “Shang-Chi e a lenda dos dez anéis”, que inauguraram a Fase 4 do MCU, apresentaram novos eventos para dar continuidade aos planos do Marvel Studios para seu universo, mas podem ser vistos mais como entreatos dentro de um plano maior do que verdadeiros filmes-evento.

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Este, porém, não deve ser o caso de “Eternos”: o 26º longa do MCU, que estreia nesta quinta-feira no Brasil, apresenta personagens, histórias e conceitos que devem influenciar o MCU ao introduzir um grande número de novos personagens _ criados pelo “Rei” Jack Kirby em 1976 – e ampliar o escopo do sci-fi dentro do ambicioso universo compartilhado de filmes, séries e animações do Marvel Studios.

Quem são? Onde vivem? Do que se alimentam?

Personagens conhecidos apenas pelos fãs mais hardcore de quadrinhos, os Eternos chegam à tela grande pelas mãos de Chloé Zhao, diretora de origem chinesa mais conhecida pelos seus trabalhos no cinema independente. Como a sorte costuma sorrir para o Marvel Studios, o adiamento do lançamento do filme por causa da pandemia ajudou a dar mais pedigree ao longa do MCU, pois o drama “Nomadland”, trabalho anterior de Zhao, venceu três categorias do Oscar em 2021, incluindo melhor filme e direção.

Por mais que o estúdio não dê ponto sem nó em seus planos de longo prazo, a aposta é alta se compararmos, por exemplo, com a recente introdução de Shang-Chi ao MCU ou a apresentação dos Guardiões da Galáxia. Os Eternos apresentados no filme são nada menos que dez, todos eles com poderes e personalidades bem distintos: Sersi (Gemma Chan), Ikaris (Richard Madden), Thena (Angelina Jolie), Kingo (Kumail Nanjiani), Duende (Lia McHugh), Phastos (Brian Tyree Henry), Makkari (Lauren Ridloff), Druig (Barry Keoghan), Gilgamesh (Don Lee) e Ajak (Salma Hayek). Vale citar, ainda, que o ator Kit Harington tem participação importante na trama ao interpretar um personagem conhecido nos quadrinhos por ter integrado uma das formações dos Vingadores.

Mas vamos, enfim, à história do longa, que se passa em dois períodos distintos. Os Eternos foram enviados à Terra pelos Celestiais há sete mil anos a fim de proteger a humanidade, em seus estágios iniciais de civilização, da ameaça dos Deviantes, criaturas bestiais que poderiam ter provocado nossa extinção. Com os Deviantes destruídos e sem previsão de retornar a seu planeta natal, eles se espalharam pelo mundo e passaram a viver misturados à população e proibidos de interferir nos assuntos humanos _ o que explica que não tenham se envolvido para evitar guerras, desastres naturais, genocídios e, no caso do MCU, tenham ficado quietinhos enquanto rolava a Batalha de Nova York (em “Os Vingadores”) ou quando Thanos estalou os dedos para eliminar metade da vida do universo.

Pulamos então para o presente, após os eventos de “Vingadores: Ultimato”. Os Eternos seguem incógnitos entre os humanos, mas o ressurgimento dos Deviantes faz com que Ikaris procure Sersi a fim de reunir seus pares espalhados pelo planeta. E a busca pelos antigos parceiros tem de ser feita da forma mais rápida possível, pois o grupo terá apenas uma semana para impedir que a Terra seja destruída pela nova ameaça.

As histórias escritas e desenhadas por Jack Kirby, criador dos personagens, ganharam nova publicação no Brasil, no projeto “Marvel Omnibus” (Foto: Reprodução)

Os filhos do ‘Rei’

No final dos anos 90, a Marvel chegou a declarar falência após o estouro da bolha dos quadrinhos e, principalmente, por consequência de decisões estratégicas e aquisições equivocadas. Para tentar sobreviver, a editora vendeu a preço de banana os direitos para o cinema de alguns de seus nomes mais valiosos, X-Men, Homem-Aranha, Quarteto Fantástico entre eles.

Quando perceberam que o cinema havia se tornado um filão para as adaptações de quadrinhos, a empresa criou o Marvel Studios e precisou apelar para os personagens de menor apelo que não haviam sido cedidos para os estúdios, começando pelo Homem de Ferro. À medida que o plano deu certo, vieram apostas mais arriscadas, com a introdução de personagens como o Homem-Formiga, Doutor Estranho e os Guardiões da Galáxia.

No caso dos Eternos, a aposta pode ser garantida pelo fato de que tudo que vem do MCU parece virar ouro _ além do elenco ter vários nomes conhecidos -, mas trata-se de um grupo que, apesar da origem nobre, sempre viveu à margem dos personagens mais populares da Marvel Comics.

O responsável pela criação dos Eternos é ninguém menos que Jack Kirby, provavelmente o maior quadrinista de todos os tempos e cocriador, com Stan Lee, de personagens como Quarteto Fantástico, X-Men e Hulk. Apesar de sua importância para o Universo Marvel, o “Rei” vinha tendo sérios problemas com a editora no final da década de 1960, incluindo discussões sobre direitos autorais e royalties de personagens criados ao lado de Stan Lee, além da dificuldade de emplacar projetos pessoais.

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Em 1970, o mundo dos quadrinhos sofreu um abalo com a notícia de que Kirby havia assinado um contrato de longa duração com a rival DC Comics. Na concorrência, ele passou a escrever e ilustrar as histórias do Superman e pôde colocar em prática um dos seus projetos de ficção científica. “Novos Deuses” apresentou ao DCU o chamado Quarto Mundo, em que viviam personagens como Darkseid _ que se tornou o maior vilão da editora _, Senhor Milagre, Órion, Desaad, Vovó Bondade, Grande Barda e Metron. A série, porém, foi cancelada em poucos meses.

Em 1976, Jack Kirby retornou à Marvel e criou seu outro grande projeto, Os Eternos. De acordo com os conceitos imaginados pelo artista, os personagens foram criados há pelo menos um milhão de anos pelos Celestiais, assim como os Deviantes, a partir das experimentações que as criaturas colossais faziam em vários planetas, incluindo as raças kree e skrull. Pelas suas ações no passado, eles teriam servido de inspiração para várias religiões e lendas, o que fica evidente a partir dos nomes de alguns personagens, como Ikaris, Gilgamesh, Thena, Kronos, Zuras e Uranus _ este, após uma guerra civil, deixou a Terra e se fixou em Titã, lua de Saturno, planeta natal de Thanos nas HQs.

A nova revista, porém, durou apenas 19 edições, sendo cancelada em 1978, e desde então os Eternos tiveram participação quase marginal no Universo Marvel. O trabalho mais notável feito com o grupo em pouco mais de quatro décadas foi a minissérie lançada entre 2006 e 2007 com roteiro de Neil Gaiman e desenhos de John Romita Jr. Aproveitando o futuro lançamento do filme, o grupo voltou a ser publicado este ano pela Marvel, com a dupla Esad Ribic e Kieron Gillen trabalhando no título.

Para quem quiser conhecer o grupo desde a origem, a Panini lançou este ano as histórias criadas por Kirby dentro do projeto “Marvel Omnibus”.

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