A preservação da natureza em gravuras contemporâneas

Exposição com obras feitas para a Eco 92 por artistas como Siron Franco e Tomie Ohtake tem abertura nesta quarta (4) no Espaço Reitoria


Por Júlio Black

04/03/2020 às 07h00- Atualizada 04/03/2020 às 07h06

Uma das obras selecionadas para a exposição, trabalho da japonesa Tomie Ohtake alerta para a questão do meio ambiente há quase três décadas (Foto: Reprodução)

O aviso vem sendo dado há décadas por cientistas, ecologistas, entidades, ONGs, ativistas e, principalmente, pela natureza: se o ser humano não pensar seriamente sobre questões como a preservação do meio ambiente, diminuição do volume de lixo descartado e da emissão de gases provocadores do efeito estufa, desenvolvimento sustentável, o aquecimento global, a extinção de espécies e mudanças climáticas dos mais variados matizes fatalmente tornarão nosso planeta um lugar muito pior para se viver. E uma das formas de alertar sobre o risco de chegarmos a um ponto sem retorno vem por meio da arte: o Espaço Reitoria, na UFJF, abre nesta quarta-feira (4) sua primeira exposição de 2020, “Gravura contemporânea”. A mostra apresenta serigrafias produzidas a partir de trabalhos que foram expostos em 1992, no Rio de Janeiro, por conta da segunda edição da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que aconteceu na capital fluminense.

A exposição fica no espaço até 3 de abril e conta com oito das 25 serigrafias doadas ao Mamm (Museu de Arte Murilo Mendes) em 2011 pelo Banco Bozano Simonsen por meio do projeto “Bozano Arte e Natureza”, em que foram transpostas para serigrafia os trabalhos de parte dos artistas que participaram da mostra “Eco Art”, que aconteceu em 1992 no MAM (Museu de Arte Moderna), no Rio de Janeiro, com 120 artistas de 22 países das Américas. Segundo o artista visual Paulo Alvarez, responsável pela organização da exposição, foram feitas 150 cópias numeradas de cada obra, sendo que as 25 doadas para o Mamm já foram expostas no espaço cultural em outras oportunidades.

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Devido às dimensões do Espaço Reitoria, Paulo precisou fazer um pequeno recorte da série, escolhendo trabalhos feitos – em sua maioria – por artistas brasileiros e que tivessem, segundo ele, “uma mensagem bem direta com respeito à questão da preservação da natureza”. Dentre os trabalhos selecionados, estão os dos brasileiros Carlos Vergara, Siron Franco, Gonçalo Ivo e Arcângelo Ianelli, Flávio Shiró e Tomie Ohtake (nascidos no Japão mas que adotaram a cidadania brasileira), do venezuelano Victor Hugo Irazabal e do uruguaio Nelson Ramos, que quase três décadas depois continuam atuais e urgentes.

Pintura de Antônio Henrique Amaral foi reproduzida por técnica de serigrafia (Foto: Reprodução)

A reunião de artistas de gerações e estilos diferentes tem entre seus objetivos não apenas renovar o grito pela preservação do meio ambiente, mas também apresentar visões variadas sobre a relação entre o desenvolvimento socioeconômico e a utilização dos recursos e reservas naturais. “Todos eles lidaram com uma questão universal, mas cada um trabalhou a partir de suas particularidades, suas verdades, informações, universalizando essa preocupação”, analisa Paulo Alvarez. “O Siron Franco, por exemplo, já tratava essas questões no seu trabalho antes mesmo da Eco 92.”

Ao pinçar essas peças, que fazem parte da reserva técnica do Mamm, Paulo Alvarez destaca a importância de uma exposição ligada à ecologia em um momento que a discussão sobre o meio ambiente tem ganhado cada vez mais espaço e precisa lidar com aqueles que encaram o tema como um entrave ao progresso – mesmo que seja a qualquer custo. “É importante, em primeiro lugar, pelo espaço em que ela vai ficar, onde temos o universo acadêmico, os estudantes, as famílias que frequentam o campus. É uma forma de chamar a atenção a partir da arte e do trabalho dos artistas, de levar essas questões para a reflexão de cada um. A partir desses trabalhos poderemos amadurecer mais o discurso – em particular no meio acadêmico -, sugerindo várias discussões.”

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