Pianista Guilherme Veroneze lança o EP ‘Um tempo’

Compacto reúne singles já lançados e mais duas faixas inéditas


Por Júlio Black

04/02/2021 às 15h37

veroneze
Trabalho de estreia de Guilherme Veroneze é influenciado pelo isolamento provocado pela pandemia (Foto: Eliza Granadeiro/Divulgação)

Depois de três singles que circularam pelos ouvidos de muita gente ano passado, o pianista Guilherme Veroneze lançou no fim de janeiro, nas principais plataformas de streaming, seu primeiro EP. Intitulado “Um tempo”, o trabalho foi gravado e produzido em casa pelo próprio artista, com masterização à distância de Aldo Torres. O trabalho chega com cinco músicas, sendo três inéditas e duas composições dentre os singles divulgados em 2020.
Com traços dos estilos neoclassical e ambient piano, “Um tempo” ainda trafega pela música para piano de tradição europeia, além de buscar inspiração no jazz, no minimalismo norte-americano e na música pop. Segundo o músico, o EP é fruto, principalmente, do período de isolamento provocado pela pandemia de Covid-19 – e que ainda deixa o pianista sem perspectiva de retorno às atividades como shows e do convívio no estúdio com outros artistas. Trabalhar o projeto nesse período, diz, pode ter sido cansativo, mas o resultado compensa o esforço.
“Tivemos que pensar todas as partes do projeto, como a parte gráfica, divulgação etc, mas foi interessante encarar todas as fases. A parte de produção é gostosa, trabalhar a confecção das músicas, produzir e ver a coisa nascer”, anima-se. “E ao longo desse processo percebi que há vários pianistas ao redor do mundo na mesma situação, sejam independentes ou com um selo pequeno ajudando, e foi legal porque trocamos informações. E também tem a lista colaborativa de playlists; cada pianista tem a sua, com temas diferentes, e as músicas circularam nessa rede, os meus singles foram ouvidos em 60 países.”
Guilherme diz, ainda, que o fato de estar em isolamento acabou por levá-lo às composições para piano solo, num processo ainda maior de imersão e introspecção. “Não podia encontrar com meu grupo, e no início da quarentena, principalmente, percebi que tocar minhas músicas, procurar por músicas com poucos estímulos rítmicos, me fazia bem. Achei que deveria compartilhar isso com as pessoas e prossegui nesse estilo de composição, em especial nas quatro primeiras faixas do EP. A última já é um pouco mais enérgica, pela influência que tenho tido de trilhas sonoras de cinema”, analisa.

Um pouco mais de calma nessa hora

No material de divulgação do trabalho, é citado que o pianista busca, com as músicas do EP, “silenciar o barulho externo e levar as pessoas para outro lugar”, a partir da percepção de que muitos buscam menos estímulos em um pouco mais de calma diante do atual panorama. Ao mesmo tempo, é preciso lidar com o contraditório, das pessoas que parecem não suportar mais o isolamento e a decorrente falta de estímulos e sons, ou até o fato de que “Um tempo” não é um disco para se ouvir num ônibus lotado ou em meio à cacofonia de uma Avenida Barão do Rio Branco. É preciso parar e relaxar.

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“Realmente, cada um tem sua medida, há quem esteja sentindo falta do agito. Não é exatamente o meu caso; não sou de curtir o carnaval, por exemplo, mas tem gente que já está sentindo falta”, reconhece. “Quando falo desse estímulo, tem essa coisa da correria em si, mas também tem a questão da ansiedade, do acesso a tantas coisas que temos hoje – o que é bom por um lado, mas, por outro, no momento que estamos passando, isso pode dar uma desequilibrada. Isso me pegou em algum momento, em que quis acompanhar tudo. Por isso, o que proponho é uma coisa diferente, com pouca variação rítmica, que possa levar alguém a respirar um pouco.”
A busca pela calma, tanto no cotidiano quanto na música, diz Veroneze, é algo presente na sua vida antes mesmo da pandemia. “Sempre fui muito ansioso, e a música vem nesse processo de desacelerar desde quando era estudante, ainda mais pelo contato com a música erudita. Eu sigo nessa busca de me desacelerar e olhar para cada situação com mais calma, pois ter que lidar com muita coisa, fazer show, tocar, cuidar de várias questões ligadas à música, potencializam essa ansiedade. Dar vazão a esse tipo de trabalho vem ao encontro desse desejo (de desacelerar).”
Para ajudar a diminuir o ritmo, Guilherme conta que um dos costumes dele e da esposa, Eliza, é assistir a filmes pelo streaming, ou apelar para a música mesmo. “Nos finais de semana à noite, como não saímos, ouvimos alguma coisa diferente, alguma playlist dos anos 70, jazz. Quanto à leitura, no caso é mais com a Eliza, eu fico mais imerso no estudo, em ler sobre música. Não tenho a leitura como hobby.”

Novo EP ainda em 2021

Além do trabalho de estreia, é impossível não perguntar a respeito dos planos futuros, ainda que a pandemia não dê trégua. Ele conta que voltou a fazer algumas lives com Caetano Brasil e já começaram a falar sobre um futuro projeto do parceiro musical, mas Guilherme também está com ideias próprias para executar.
Uma delas é o lançamento de um futuro EP: Guilherme segue decidido a fazer a gravação na Sociedade Filarmônica de Juiz de Fora. “Estou finalizando os detalhes para o trabalho, que terá o título ‘Saudação’. A previsão é gravar no final do primeiro semestre, e lançar um primeiro single ainda antes da metade do ano. Como é um processo que envolve pouca gente, dá para ter um distanciamento entre os envolvidos”, diz.

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