O que diz a banda OBEY! em seu novo álbum ‘Da tempestade ao sol’

Os cinco integrantes criaram, gravaram e mixaram as 13 faixas inéditas do disco, das mais pesadas a melodias iluminadas, trazendo força e serenidade sobre a experiência de se sentir vivo


Por Carime Elmor

04/01/2018 às 07h00- Atualizada 04/01/2018 às 08h24

(Foto: Hercules Rakaukas)

OBEY! é grito de ordem para falar de desordem: obedecer nada. A banda formada por Igor Santos (vocal), Douglas Rodrigues (guitarra), Geraldo Alvarenga (baixo), Marcel Melo (guitarra) e Filipe Tedeschi (bateria) está junta desde 2011. O sonho unânime entre os integrantes, desde o início, é o de a banda poder tornar, integralmente, a vida deles. “A OBEY! é o que a gente faz e é o que a gente é”, declara Douglas.

Após “Tudo no seu lugar”, lançado em 2011, OBEY! cria uma marca ainda mais própria com o full album “Da tempestade ao sol”, lançado no último mês. São 13 faixas inéditas criadas, gravadas e mixadas pelos próprios membros. Igor e Ge (Geraldo) são ávidos letristas e compositores, criam as bases melódicas, gravam no próprio celular e levam para os ensaios incessantes com a banda, alguns dedicados somente à criação. Ali é espaço de viajar livremente, sem medo de testar e experimentar. Se têm duas horas para se debruçarem em cima de uma ideia melódica e de poesia, o encontro é intenso e com diálogo aberto.

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“Nestes anos juntos como banda e até mesmo de amizades que vieram antes, fomos criando intimidade um com o outro. Toda a experiência de fazer música e de tocar junto fez com que a gente chegasse a essa fase mais madura e consistente, a ponto de fluir, sem medo de sugerir e experimentar. É isso, temos liberdade de experimentar, criar um na frente do outro, enfeitar a composição que chega pelo Igor e pelo Ge”, conta o guitarrista Douglas.
O instrumental de todas as faixas é forte independentemente de ser um som pesado. A intensidade está muito mais ligada a conseguir atingir de forma profunda quem escuta o álbum. “Da tempestade ao sol” segue modulando entre trechos pesados e refrões facilmente digeríveis. Ao ouvir, somos bombardeados por percepções críticas sobre a própria experiência humana, questões como o consumismo e as cicatrizes de um fim são descritas em letras extensas e completamente existenciais, mas sempre entrecruzadas em dizeres positivos.

Sobre os altos e baixos

“A OBEY! aborda, no disco, uma esfera superior à política governamental. A gente fala de dentro de uma esfera humana. Neste disco não temos letra diretamente sobre a política, mesmo estando cientes da esculhambação que está rolando no país nos últimos anos. Mas nós falamos de ideais e valores, colocamos o dedo na ferida de quem se esconde atrás de máscaras, ou ‘da casca’, para parafrasear a música que abre o álbum”, comenta Douglas.

“Vício”, quarta faixa, discorre sobre a ganância. Sobre se ter muito, mas, talvez, conhecer-se pouco. “Substância pra acordar, comprimido pra viver, comprimindo o sentimento e sonhando em querer ver o mundo do alto e não vê. Cada tiro é um falso poder e essas asas não elevam você”, é parte da letra da música que teve participação, no vocal, de Marte MC. Outra participação é do músico de São Paulo, Gustavo Rosseb, do projeto “Capela”. A OBEY! o conheceu durante participação no Breakout Brasil, programa realizado pelo Canal Sony, em 2014.

O disco acaba sendo, além de tudo, um convite para nos depararmos com nossas próprias vidas, tudo que vem acontecendo, a fim de pararmos para nos autoanalisar e nos conhecer de maneira menos superficial. “É sobre os altos e baixos da nossa vida, sobre muito do que a gente passa, mas os refrões estão mais ligados a olhar para frente. Como se a mensagem fosse: apesar de tudo, a gente segue com força, mira lá na frente e confia. Há ali uma vontade de se evoluir como ser humano, se elevar, ser uma pessoa melhor. Viver a humanidade com todos os seus preceitos e sentimentos. Não é um disco ‘colorido’, só com mensagem positiva, mas também não é uma obra medonha que vai te deixar pra baixo. ‘Da tempestade ao sol’ é uma redenção, consegue mostrar a real e dar uma força para superarmos os obstáculos”, reflete Doulas, afirmando que é vago dizer sobre tudo isso, mas o que a OBEY! está buscando é fazer as pessoas sentirem uma mescla de sensações ao escutarem o novo álbum.

Apesar de a gravação e mixagem terem sido feitas pela própria banda, pelas mãos e, principalmente, ouvidos do baixista Ge Alvarenga, que possui um estúdio e trabalha com produção musical, o grupo optou por enviar a mix para um estúdio em Nova York. A vontade sempre foi a de se chegar ao máximo de aperfeiçoamento e profissionalismo, sem perder a característica de banda, que faz todo o corre de gravação e produção. O Sun Room Audio foi indicação de um amigo músico de Juiz de Fora. Tudo isso foi possibilitado pelo sucesso que tiveram com o financiamento coletivo do álbum, que superou a meta de R$ 4.500 no Catarse. Uma surpresa na reta final, com o patrocínio de uma empresa, através da plataforma de crowdfunding, propiciou um salto na gravação. Antes haviam feito tudo com bateria eletrônica, e conseguiram regravar em bateria acústica, o som ficou muito mais orgânico, abriu mais nuances, variações de volume e intensidade e, por fim, conversou ainda mais com a estética sonora que queriam alcançar. “Da tempestade ao sol” é um trabalho com que todos os cinco integrantes saíram satisfeitos.

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