Estrelado por Paul Bettany, “Tio Frank” estreia no Prime Video

Drama dirigido por Allan Ball mostra a relação conturbada de professor gay com sua família nos (ainda mais) preconceituosos anos 70


Por Júlio Black

03/12/2020 às 07h00

Frank (Paul Bettany) terá o apoio da sobrinha Beth (Sophia Lillis) para encarar a família após a morte do pai (Foto: Divulgação)

“Tio Frank”, drama que estreou no Prime Video em 25 de novembro, chega em um momento em que se revelar para o mundo ainda continua a ser um ato de coragem _ vide o anúncio, na terça-feira (1º), feito pelo ator Elliot Page de que ele é um homem trans, depois de ser conhecido por anos como Ellen Page, que já havia revelado ser homossexual em 2014.

A produção dirigida por Alan Ball (roteirista de “Beleza americana” e criador da série “A sete palmos”) nos ajuda a lembrar que ser gay era ainda pior e perigoso em décadas passadas, ainda que o longa mantenha o equilíbrio entre o drama, o otimismo e até mesmo momentos de humor para contar a história do tio Frank (Paul Bettany). Criado em uma família conservadora na Carolina do Sul, ele passa a ser uma presença esporádica depois que se muda para Nova York, onde trabalha como professor universitário. Mas suas raras visitas são suficientes para provocar admiração e influência na adolescente Betty (Sophia Lillis, a Molly Ringwald do século XXI): ao contrário da família, ele é culto, adora literatura e incentiva a jovem a não se conformar com uma vida medíocre.

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Quando completa 18 anos, Beth segue os conselhos do tio e vai estudar em uma universidade na mesma Nova York, e aí vem o choque: ela descobre que Frank é gay e vive com o imigrante saudita Wally (Peter Macdissi em divertidíssima interpretação). À descoberta, segue-se a notícia da morte do patriarca, Frank Senior (Stephen Root), que faz com que o trio volte de carro para a Carolina do Sul.

A descoberta de Beth, a ida para o funeral e o reencontro com a família fazem com que Frank tenha que enfrentar dramas e tragédias passadas que o perseguem até então – e que ele tenta sufocar e esquecer por meio da bebida -, e aos poucos entendemos os motivos que levaram os dois Franks a terem uma relação tão difícil e o protagonista a se afastar de sua terra natal. Afinal, além de ter um núcleo familiar que era dominado por um sujeito conservador e preconceituoso, o professor é cria da década de 1920 e que descobriu sua sexualidade na década de 1940, quando se exigia dos homens, em plena II Guerra Mundial, mais do que nunca, exibir sua virilidade.

Em um filme que conta ainda com Margo Martindale, Judy Greer e Steve Zahn no (ótimo) elenco, “Tio Frank” poderia ser uma história de temática LGBTQI+ que pesasse a mão no drama, no preconceito e na violência contra quem é “diferente”, mas Alan Ball prefere seguir outra linha, em que a homofobia muitas vezes é mais uma questão de convenção social (o “todo mundo é assim, então também sou”) que convicção pessoal. O longa se preocupa mais em mostrar como as famílias, muitas vezes, preferem manter as aparências a encarar a realidade, gerando as famosas “frases que nunca são ditas”, quando tudo que é necessário é que alguém dê o primeiro passo _ o que não quer dizer que concordarão com o que antes ficava escondido por conveniência.

Mais que se concentrar na dor de viver uma vida paralela, “Tio Frank” é otimista em acreditar que é possível vencer o preconceito através do diálogo e do amor _ algo que precisamos e muito em tempos tão intolerantes como os dias atuais.

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