Em ruínas, primeira estação ferroviária de Minas, em Chiador, aguarda restauro
A longa espera da estação: Estação Ferroviária de Chiador, a primeira de Minas Gerais, espera há décadas revitalização, determinada pelo Ministério Público e agora adiada pela pandemia
Lugar de espera, é a própria estação quem aguarda. Em Chiador, a primeira estação ferroviária de Minas Gerais espera ser revitalizada enquanto o tempo faz dela ruína. No local, apenas uma das faces da edificação restou como vestígio. As duas torres perderam o telhado. Nenhuma janela existe. São apenas tijolos que esfarelam e se sustentam com madeiras fazendo a escora para que tudo não se torne apenas pó. O pequeno município de menos de 3 mil habitantes, a 80 km de Juiz de Fora, vê seu principal cartão postal desmoronar enquanto convive com um impasse judicial que se arrasta há anos.
Diretora de Cultura de Chiador, Mônica Reis Fernandes conta que na década de 1980, quando foi extinto o trem de passageiros, a estação já carecia de restauro, mas ainda não se encontrava em ruínas, como hoje. Tombada em 2003 pelo município, a edificação tornou-se alvo do Ministério Público menos de uma década depois, na ação que previa a revitalização como forma de compensação da empresa Furnas pelos danos causados na implantação da hidrelétrica na região.
De um lado, obra gigante; de outro, cacos da história
O empreendimento que desviou o Rio Paraíba do Sul, desapropriou uma área total de 2,9 mil hectares e remanejou 200 famílias mineiras e fluminenses teve sua licença liberada, no início do século XXI, desde que a empresa se comprometesse a salvar o patrimônio arqueológico e cultural da região, critério reivindicado pelo MP na ação que, em 2014, determinou a imediata restauração da estação. Para a diretora de Cultura, a obrigação é, sobretudo, justa, já que em suas lembranças, na região onde a empresa se instalou ficavam as propriedades com maior produção leiteira.
Passados seis anos desde a determinação, o local segue intocado. Só agiu a deterioração. Segundo Mônica, Furnas sempre colocou obstáculos para a revitalização. “Em 2018, fizemos uma reunião com o Ministério Público e com a representante do Iepha, mostrando como Furnas dificultava tudo. Eles fizeram de tudo para não ter que restaurar a estação. Quando foi dado o prazo, eles começaram a elaboração do projeto e já vai um ano”, reclama. Em nota, a assessoria de imprensa de Furnas informa que ao longo dos anos seguiu todos os trâmites necessários, inclusive acionando órgãos patrimoniais nacionais e estaduais.
“Em janeiro deste ano, FURNAS publicou o edital de licitação nº LI.GS.A.060.2020, destinado à contratação de empresa especializada para elaboração do Projeto Básico para a revitalização da estação ferroviária de Chiador. A vencedora do processo foi a empresa Tramela Arquitetura e Engenharia. Em função da pandemia COVID-19, a empresa contratada encontra-se impossibilitada de iniciar os serviços específicos in loco. Essas atividades serão retomadas tão logo as autoridades competentes manifestem-se, favoravelmente para tal, preservando a saúde e a segurança de todos os profissionais envolvidos”, pontua nota enviada pela empresa à Tribuna.
Pleito municipal não deve alterar os planos
No final de setembro deste ano, um dos quatro projetos arquitetônicos apresentados pela empresa Furnas ao Conselho Municipal de Patrimônio Cultural de Chiador (Compachi) foi finalmente aprovado. O prédio com seus armazéns, dois torreões laterais e uma casa do agente dará lugar, segundo a diretora de cultura do município, a um museu, à sede da Secretaria de Educação, Esporte e Cultura de Chiador, além de servir de espaço para feiras culturais. Aos 53 anos, Mônica Reis Fernandes retorna à infância para contar sobre o significado da estação inaugurada em 1869 com a presença de Dom Pedro II. “Eu tinha 10 anos quando viajei de trem de Chiador até Além Paraíba. Depois, em todas as férias eu ia de novo. Era uma viagem ótima, muito bonita”, conta.
“Para nós ela representa o poder econômico que a cidade já teve. Já fomos campeões na produção de abóbora”, orgulha-se Mônica, produzindo um chiado ao pronunciar o “s”, tal qual o fluminense, trocando o “s” pelo “x”. “Temos muito contato com Três Rios e estudei muito tempo em Vassouras. Querendo ou não temos muita influência do Rio de Janeiro. É muito mais fácil ir ao Rio do que a Belo Horizonte”, explica ela, nascida e criada em Chiador, onde há anos preside o Conselho Municipal de Patrimônio Cultural de Chiador. “No que depender do Compachi, vamos cobrar. O Ministério Público também cobra de Furnas. Eles garantiram que ano que vem começa a restauração, mas não deram data”, lamenta, entre a indignação e a resiliência.
As eleições municipais deste ano não devem mudar o rumo do projeto, ainda que o atual prefeito, Maurício Monteiro não seja um dos candidatos. Vice-prefeito eleito em 2012, Monteiro (PR) foi empossado em 2016, após a morte do então prefeito Moisés Gumieri (PCdoB), assassinado aos 36 anos. No mesmo ano, manteve-se no cargo e hoje apoia um dos candidatos à Prefeitura. “Todos os candidatos com os quais conversei querem aquilo restaurado. Acredito que a política partidária não vai interferir nisso”, afirma Mônica Fernandes à espera da estação.