Desfiles de carnaval em 2016 estão cancelados
A novela chega ao fim. Diante do corte na verba repassada às agremiações, proposto pela Prefeitura, a Liga das Escolas de Samba (Liesjuf) desiste de desfilar em 2016. “Não aceitamos a proposta da PJF. Em assembleia, não aprovamos e fizemos uma contraproposta para que as oito escolas que aceitaram entrar na Passarela desfilassem com os R$ 245 mil oferecidos. Como isso não foi aceito, as oito decidiram não sair, já que a Prefeitura não cedeu”, lamenta o presidente da Liga, Jair de Castro.
“Foi uma negociação longa, de mais de dois meses, na qual colocamos os limites da PJF, da situação drástica que passamos. Nesse momento, preferiria trabalhar pela realização dos desfiles, mas estamos cercados por essa situação econômica do país e não podemos tomar outra atitude que não seja essa, responsável, já que acontece com antecedência”, comenta o superintendente da Funalfa, Toninho Dutra, destacando que, mesmo diante dos contingenciamentos necessários, os eventos têm se mantido, como o Festival Nacional de Teatro, que, a despeito do corte de 50%, termina na próxima segunda.
Ironicamente, o cancelamento acontece justamente em 2016, quando os desfiles completariam 50 anos em Juiz de Fora. “Para nós, é uma tristeza muito grande. Gostaríamos de fazer um carnaval belíssimo, comemorativo”, diz Jair. Além disso, a decisão torna descontinuado o projeto de ampliação de público na Passarela do Samba, iniciado há dois anos com a antecipação da festa. Para o presidente da Liga, a perspectiva era otimista, já que este ano foi notado um aumento de público nas arquibancadas. “Meu medo é parar e, ao retornar, deixar tudo mais difícil, mais fraco. O povo pode não aderir mais. Nos esforçávamos para que ele voltasse a ser forte, e agora isso acontece, é muito ruim”, pontua.
De acordo com estimativas da Funalfa, a antecipação surtiu efeito positivo no primeiro ano, 2014. Enquanto em 2013 o público na Passarela do Samba, nos três dias de festa, foi de cerca de 22 mil pessoas, no ano seguinte, chegou a 20 mil em dois dias de desfiles. A média, dessa forma, passou de 7,3 mil para 10 mil pessoas/dia. Mantendo uma média maior que a de 2013, quando ainda não havia antecipação da folia, este ano, a presença caiu, fechando em 15 mil nos dois dias de apresentações das agremiações (7,5 mil pessoas/dia). Os números incluem foliões e quem assiste à festa da concentração e da dispersão das escolas, além dos ambulantes que trabalham no trajeto. Passado o carnaval de 2015, a Funalfa defendeu que a antecipação, então, ainda demandava mais um ano para que fosse decidida.
Futuro incerto
Segundo Toninho Dutra, os R$ 500 mil destinados aos desfiles (R$ 245 mil para as agremiações e R$ 255 para a montagem da estrutura) ainda têm futuro incerto. “Nos próximos dias, na confecção do orçamento, vamos ver para onde vai esse recurso, que nem existe, já que é uma suposição para 2016”, pontua o superintendente. Diante do cenário, não há certezas se esse orçamento previsto ficará na pasta de cultura ou será “alocado” em outro setor. Ou, ainda, se será incorporado ao Corredor da Folia, implementando blocos, festas e shows.
“Nossa tendência é fazer um orçamento mais enxuto”, adianta Toninho, anunciando que, agora, começará a produção do Corredor da Folia. “Vamos chamar os agentes do outro modelo de carnaval para projetar 2016, com bastante critério e responsabilidade”, diz, defendendo que não há rivalidade entre o formato de escolas e o de blocos, mas que “um modelo fortalece o outro”.
Para Jair de Castro, um dos planos para 2016 é o trabalho de fortalecimento interno das agremiações, para que, em 2017, a realidade seja outra, de menor dependência do Governo, maior autonomia da Liga, e apoio das comunidades. “Muitas quadras ainda estão fechadas, e todos estão trabalhando para arrumar seus espaços. Esperamos que, no próximo ano, consigamos outros patrocínios”, afirma o presidente da Liga das Escolas de Samba (Liesjuf), que diz estar com o “coração partido”, demonstrando tristeza e também pé no chão: “Vamos aceitar.”