Máquina de (re)fazer música

Trio instrumental Romo lança o EP ‘Redo machine’


Por Júlio Black

03/06/2020 às 07h00

“Redo machine”, quando traduzido do inglês, significa “Máquina de refazer”, e talvez não exista título mais apropriado para o quarto EP do trio juiz-forano Romo, lançado nas plataformas de streaming em 20 de maio. Com influências das mais diversas, vindas diretamente dos anos 80, como a new wave, a gravadora ECM Jazz, hard rock, música eletrônica e ambient, o trabalho apresenta dez músicas instrumentais que, a partir de bases simples, constroem camadas e mais camadas sonoras que resultam num disco surpreendente.

“Redo machine” foi gravado, mixado e masterizado entre julho de 2019 e abril deste ano pelo fundador da banda, o guitarrista Rômulo Heleno, que gravou todos os instrumentos do projeto, que ainda conta com o baixista Paulo Vitor e o baterista Bruno Varoto. “A gravação foi toda por partes. Comecei programando as baterias eletrônicas e os sintetizadores, depois gravei o baixo em todas as músicas e por último as guitarras”, explica o músico, que ainda detalha alguns dos desafios enfrentados pela forma como a maioria das canções foi elaborada.

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“Quando se tem uma base em loop, como em algumas faixas do ‘Redo machine’, o principal desafio do músico ou produtor é que ela não fique repetitiva. Por isso parti desse princípio de acrescentar novas camadas durante toda a música, acho que ajuda a prender a atenção do ouvinte. Deve-se cuidar também para que as camadas não fiquem redundantes. Hoje _ com a produção musical sendo feita em casa e o amplo acesso aos mais diversos plugins _ é fácil errar a mão e superproduzir uma música com diferentes instrumentos, mas que estão cumprindo um mesmo papel dentro dela.”

Romo é hoje Paulo Vitor (baixo), Rômulo Heleno (guitarra) e Bruno Varoto (bateria) (Foto: Guilherme Vinhas/Divulgação)

Ainda que seja um trabalho 100% instrumental, o EP da Romo tem músicas inspiradas pela solidão, pela tecnologia e pela ficção científica. Quanto ao sci-fi, Rômulo especifica que a influência vem diretamente da sétima arte. “Principalmente o cinema, com filmes como ‘2001: Uma odisseia no espaço’, ‘Ela’ e ‘Blade Runner 2049’, que retratam e abrem reflexões sobre diversas esferas de nossas relações e expectativas com a tecnologia”, filosofa. “Citaria também ‘Gravidade’ por apresentar o drama de se estar no espaço, sozinho e distante de tudo. Um sentimento de isolamento que em partes se refletiu nas etapas finais da produção do EP, que coincidiu com o início da quarentena.”

Influências

Em um trabalho influenciado pela estética musical oitentista, o guitarrista cita o grupo Macaco Bong e o guitarrista japonês Masayoshi Takanaka como principais fontes de inspiração. “Macaco Bong é uma banda fundamental para o instrumental jovem brasileiro. Até assistir ao show deles no Café Muzik eu pensava que toda banda tinha que ter vocalista. Aquele show me deu uma coragem, vi que dava para fazer o som que eu queria e tinha público para esse estilo. Foi a banda que me despertou para o instrumental. Já Masayoshi Takanaka sempre teve uma visão muito globalizada da música, passando por diferentes estilos (até samba!), mas mantendo sua identidade e seu timbre característico de guitarra. O dinamismo e a confluência dele com certeza é algo que eu almejo na minha música.”

Ao mudar seus conceitos sobre bandas sem vocalistas, Rômulo considera o ano de 2013 como o inicial das atividades da banda, quando começou a soltar suas primeiras composições pela internet. Já a primeira formação oficial aconteceu em 2016. “Anteriormente eu já tinha visto o Bruno Varoto tocando com a Uivos, então o chamei para a bateria, e o Pedro Tavares – que na época tocava com o Filipe Alvim – para o baixo. O Paulo Vitor assumiu como baixista no segundo semestre de 2017 e seguimos nessa formação até os dias atuais”, relembra.

Dentre os trabalhos gravados pela Romo, o primeiro EP, “Lula Baby” nunca foi oficialmente lançado (“eu o considero mais como um compilado das primeiras faixas demo que fiz”), tendo sido publicado juntamente com o segundo EP, “É dois”, de 2016. O antecessor de “Redo machine” é outro EP, “Sons de porta”, lançado ano passado.

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