Fagner faz show no Central neste sábado
A turnê “Onde Deus possa me ouvir” é uma homenagem a Vander Lee, músico de Belo Horizonte que morreu em 2016
Juiz de Fora não é uma novidade para Raimundo Fagner. Lá nos anos 1970, bem no começo de sua carreira, ele era um frequentador assíduo dos festivais da canção que aconteciam no Cine-Theatro Central e reuniam pessoas de todo o Brasil. E isso se manteve, de certa forma, pelos inúmeros shows que fez por aqui. Acostumado com o clima da cidade, até se assustou quando descobriu, no dia da entrevista, na última terça-feira (29), que fazia calor em Juiz de Fora. “Se aí está calor, imagine, então, no Rio de Janeiro”, brincou. Mas até que ficou um bom tempo sem fazer show na cidade. E essa saudade, tanto da parte dele quanto da parte do público, pode ser erradicada neste sábado (3), quando se apresenta no Cine-Theatro Central com a turnê “Onde Deus possa me ouvir”, a partir das 21h.
O nome da turnê serve de homenagem a Vander Lee, músico de Belo Horizonte que morreu em 2016. Fagner e ele já tinham uma relação de longa data, de varar madrugada conversando e tocando. Quando o músico cearense estava na produção do disco “Pássaros urbanos”, de 2014, tinha combinado de colocar entre as faixas a música “Onde Deus possa me ouvir”. Vander Lee, inclusive, sabia disso. Mas, de última hora, já na sala de gravação, ficou decidido que, ao invés dela, entraria no disco a música “Paralelas”, de Belchior, outro velho amigo. O disco ficou pronto e Vander Lee viu que não tinha sua música. Ele, então, mandou um e-mail a Fagner. “Um e-mail sentido”, diz o cantor, que, no entanto, só leu o texto anos depois. E foi a partir dele que decidiu, finalmente, gravar a música e fazer uma justa homenagem a seu amigo. “E espero continuar homenageando. Foi uma falta minha com ele. A música é linda. E quando falo que vou fazer, realmente faço”, revela.
Um pouco de Belchior, um pouco de Vander Lee
Fagner teve ainda a oportunidade de lançar essa turnê em Belo Horizonte, na cidade de Vander Lee. E sua conexão com a capital também é antiga, dos mesmos tempos de quando vinha a Juiz de Fora. Isso, principalmente, por causa dos diretórios das faculdades que produziam muitos shows naquele momento. As duas cidades viram o caminhar da sua carreira, desde a época em que ocupava os pequenos lugares a quando passou a lotar até os estádios. “Sempre fui muito bem recebido em Minas Gerais. E acaba que Ceará e Minas têm muito em comum, talvez por isso essa identificação”, acredita.
Pelas voltas que a vida dá, muitas coisas acabam coincidindo. Fagner incluiu Belchior no lugar de Vander Lee, e isso foi refletir neste ano: quando, na mesma época, ele lança um disco dedicado à Belchior, o “Meu parceiro Belchior”, e o seu show em homenagem a Vander Lee. Tudo por coincidência. Mas, para ele, homenagear esses nomes é imprescindível. “Tocar a obra deles é tocar em páginas inesquecíveis, em coisas lindas. Eu vim para o Rio com o Belchior. Ele teve uma importância enorme na música brasileira e na minha vida. Já o Vander Lee conta a história de Minas. Ele deixou uma obra enorme e consistente. E, mais uma vez, estou aqui me conectando com esse estado.”
Tantas parcerias
Para Fagner, esse contato com outros músicos, independente da geração, é o que o move na música. “Eu sou mesmo um músico que já cantei e dividi composições com muitas pessoas. Quando a gente encontra, vai se renovando, a própria cena se renova. E eu sou uma pessoa exigente, porque procuro músicas que toquem fundo, que não sejam passageiras. E isso, de certa forma, me faz fugir um pouco dos planos e dar acesso a outras pessoas. Mostra que não estou fechado, que minhas portas estão sempre abertas. Para não ficar na mesmice.”
O disco que o debutou, “Manera fru fru, manera”, ano que vem, completa 50 anos. É uma carreira incansável. “Eu não sou exatamente saudosista. Realmente tive uma vida muito boa, cheia de gente que foi muito importante para mim e me ensinou. Foi um privilégio tudo isso.” Mas ele não quer olhar só para o passado: celebra o que ainda virá. “Eu, realmente, encontro as pessoas certas, no momento certo.” Recentemente, lançou um disco com Renato Teixeira, o “Naturezas”, relembrando os sucessos dos dois. A ideia é seguir com esse projeto. Mas a menina dos seus olhos é um futuro disco só de inéditas, que ele pretende lançar o quanto antes.
De volta ao palco
Esses quase dois anos de pandemia, para ele, foram uma tortura. Fagner, inclusive, passou um tempo em uma fazenda em terras mineiras (mais uma vez, Minas). Atordoado com a falta de um palco, conta que teve até pesadelos contínuos: na hora de subir, estava sem roupa. Mas na hora da verdade, deu tudo certo: estreou em Belo Horizonte e segue em turnê.
O show “Onde Deus possa me ouvir” é voz e violão, com o violonista Cainã Cavalcante. É um show para uma audição tranquila, que relembra sua trajetória, além de trazer uma inédita, música que ele diz que ficou dois anos estudando. “A gente tem um roteiro fixo, mas fica aberto. Inclusive, quem tiver coragem, pode até subir ao palco para cantar comigo. É bom que eu ainda testo minha memória”, que, diga-se de passagem, é muito boa. “Juiz de Fora é um lugar que eu vou sem amarras, porque sei que o público me recebe de peito aberto”, finaliza.