‘Família Yakuza’: Ascensão e queda da máfia japonesa

Dirigido por Michihito Fujii, drama policial chega ao catálogo da Netflix e mostra o auge e a decadência da maior organização criminosa do Japão


Por Júlio Black

01/07/2021 às 07h00

Kenji Yamamoto (Gô Ayano) entra para um mundo de poder e violência para descobrir que a queda pode ser silenciosa e dolorosa (Foto: Reprodução)

“Família Yakuza”, longa japonês que chegou ao catálogo da Netflix em 18 de junho, deve despertar no desinformado gaijin ocidental a ideia de um longa que vai mostrar o submundo do crime no Japão repleto de drogas, mulheres exploradas, traições e um banho de sangue em meio a tiroteios milimetricamente coreografados.

Quem pensar assim vai errar feio, pois, para começar, a legislação do país asiático para o porte e uso de armas de fogo é das mais rigorosas, e os bandidos por isso mesmo costumam usar armas brancas para resolver suas diferenças – o que garante, pelo menos, alguns momentos em que os personagens tenham sangue nas mãos, no rosto, nas roupas, até na alma. Além disso, o filme dirigido por Michihito Fujii é um drama que se concentra na perda de poder da Yakuza nos últimos anos, e como essa perda de influência impactou a já conturbada vida dos criminosos e daqueles que estão ao seu redor.

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A história é contada em três atos a partir de seu protagonista, Kenji Yamamoto (Gô Ayano). Em 1999, ele é um jovem sem muitas perspectivas. Uma série de eventos completamente aleatórios faz com que ele caia nas graças do chefe de um dos sindicatos yakuza, Hiroshi Shibasaki (Hiroshi Tachi), num período em que a secular organização criminosa desfrutava de grande influência em vários setores da sociedade, da economia e da política, a ponto de ser vista como um grupo semilegitimado, com a liberdade de ter cartões de visita.

O filme pula para 2005 e mostra Kenji como um dos mais importantes e fiéis membros do grupo que se torna sua família. Com a Yakuza ainda gozando de grande poder e influência, ele acaba se apaixonando por Yoka Kudo (Machiko Ono), que trabalha como acompanhante em uma das boates da quadrilha. Uma sequência de crimes joga a história para 2019, quando a Yakuza enfrenta a decadência após o governo japonês deixar de fazer vista grossa para os grupos mafiosos. Kenji precisa, então, conviver com uma realidade em que os yakuza não têm mais dinheiro nem influência, seus ex-integrantes conseguem apenas serviços braçais e mal remunerados.

Com cerca de 135 minutos de duração, “Família Yakuza” é um filme que tem seus momentos de violência, mas no geral é um drama que não tem pressa em desenvolver sua história e personagens, mas nem por isso o ritmo lento da trama torna a experiência tediosa. Cada ação tem sua consequência, e o público sempre ficará na expectativa do que acontecerá depois, em particular nas reviravoltas mais marcantes do longa.

Tecnicamente, o filme também é impecável graças ao trabalho da fotografia que, ao apostar em ambientes pouco iluminados, valoriza os cenários decadentes por onde transitam os personagens. A experiência também é garantida pelo figurino, transitando pelo sóbrio preto usado pelos yakuza e as roupas coloridas dos jovens, a câmera que encontra algumas soluções visuais bem interessantes e o elenco, que entrega ótimas atuações apesar do eventual exagero já conhecido graças a outras produções do país do sol nascente.

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