Arte e conscientização ambiental no Sarancine

Primeira edição do Festival de Cinema Ambiental de Sarandira tem início nesta terça, com exibição on-line de filmes e debates


Por Júlio Black

01/06/2021 às 07h00

Carlos Pronzato e Richardson Pontone dirigem “Lama: O crime Vale no Brasil – A tragédia de Brumadinho” (Foto: Divulgação)

As agressões promovidas pelo homem contra o meio ambiente e a necessidade de preservar a natureza têm no cinema e audiovisual em geral uma ferramenta para a conscientização das pessoas, e muito do que tem sido feito na sétima arte poderá ser conferido na primeira edição do Sarancine – Festival de Cinema Ambiental de Sarandira, que tem início nesta terça-feira (1º) e prossegue até o próximo sábado (5). No total, serão exibidas 19 produções (dez curtas, cinco médias e quatro longas-metragens) por meio do site poloaudiovisual.tv.

O evento será realizado após aprovação pelo edital da Lei Aldir Blanc e também disponibilizará na terça e quarta-feira o documentário “O sal da terra”, de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, também pelo site. O festival ainda vai realizar debates que serão transmitidos ao vivo, todos os dias, às 19h, no canal da Carabina Filmes no YouTube. A programação completa pode ser conferida em carabinacultural.com.br/sarancine e é toda gratuita.

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Segundo uma das responsáveis pela organização do festival, Suzana Markus, 98 produções se inscreveram para o Sarancine, que exibirá trabalhos realizados em Pernambuco, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Paraná e Mato Grosso. De acordo com ela, essa procura mostra o volume de produções ligadas às questões do meio ambiente no Brasil, apesar de ser pequeno o número de festivais de cinema ambiental.

“São muitas questões a serem discutidas e eles sentem que precisam mostrar essa indignação, pois estão destruindo o Brasil e o planeta, ainda mais com os comandantes que estão aí hoje em dia, que não têm a visão sobre o meio ambiente que acho que deveríamos ter. Por meio do audiovisual podemos ajudar a mudar as atitudes das pessoas”, pondera Suzana.

Temáticas variadas e participação feminina

Com filmes que abrangem quatro das cinco regiões do Brasil, Suzana acredita que o Sarancine vai ajudar a entender a diversidade das questões que estão ligadas ao meio ambiente de alguma forma. Ela dá como exemplos produções que tratam do trabalho de mulheres na reciclagem, a visão dos indígenas sobre a demarcação de terras, o despejo de pessoas, reflorestamento, a ação nociva da mineração e a agricultura familiar.

Além da diversidade de temas, ela ainda aponta a variedade de linguagens, gêneros e duração – e destaca também o fato de que mais da metade das produções (dez) são dirigidas ou codirigidas por mulheres. “Percebemos que o festival tinha se tornado feminino (risos), pois na programação ao vivo convidamos várias mulheres, a maioria da equipe (que organiza o festival) é de mulheres. Geralmente estamos à margem e a maioria é dos filmes é dirigida por homens, mas no nosso caso isso se deu naturalmente.”

Documentário “Filadelphia”, de Dani Drummond, mostra o cotidiano de grupo de mulheres que trabalham com reciclagem em SP (Foto: Divulgação)

Além dos filmes, os debates

A programação da primeira edição do Sarancine não vai se resumir à exibição dos filmes. Todo dia, às 19h, haverá uma série de bate-papos e reflexões sobre diversos temas, que serão (pela ordem) água e reflorestamento, mineração, agricultura orgânica, agricultura familiar e agrofloresta.

“Percebemos que não seria suficiente somente mostrar os filmes, pois queremos aprofundar a discussão. Cada um desses temas foi baseado nas obras audiovisuais participantes, então chamamos pessoas que são referência nos temas, como o Instituto Terra ou os diretores dos filmes, integrantes do programa Conexão Mata Atlântica, além do pessoal da agricultura orgânica, tema que não está presente nos filmes mas que achamos importante discutir”, explica Suzana.

Outro ponto sublinhado pela produtora é a inserção da população local para não ficar apenas como espectadora (virtual) dos filmes, mas que também participe das conversas. “Temos uma grande barreira inicial, que é a pandemia, pois nossa ideia era fazer o festival presencial. Vamos levar a programação para eles via WhatsApp, afinal ela foi pensada para eles, a fim de que vejam esses exemplos para um dia implementarem em Sarandira, pois não encontramos nenhum morador que tenha implementado essas ideias.”

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Uma ação efetiva é o projeto “Uma casa, uma árvore”, em que a Regional Zona da Mata do Instituto Estadual de Florestas (IEF) vai doar uma muda de árvore para cada imóvel. “A ideia é que cuidem das árvores como elas cuidarão deles um dia. É uma forma de ajudar as pessoas a se conscientizarem de que podem plantar sem prejudicar o meio ambiente e com produtividade maior. Nossa preocupação é também mostrar a possibilidade de mudança de hábitos sem afetar a rentabilidade dos produtores locais”, acrescenta Suzana Markus, lembrando que seguirão realizando eventos on-line enquanto durar a pandemia. “E já fechamos com os diretores uma exibição presencial posterior, quando for possível, acompanhada por debates. Precisamos chegar até eles (a comunidade), por isso mesmo fizemos questão de ter o contato de todos os produtores rurais para poder divulgar a programação.”

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