Promessa de um turismo que ainda não chegou


Por MARISA LOURES

01/05/2016 às 07h00

Sinais de perfuração nas estruturas fixadas na Av. Brasil, esquina com Av. Sete e no final da Rua N.Sra. de Lourdes

Sinais de perfuração nas estruturas fixadas na Av. Brasil, esquina com Av. Sete e no final da Rua N.Sra. de Lourdes

PUBLICIDADE
Na Av. Juiz de Fora, próximo ao Sest/Senat, folhagens encobrem o marco e a placa

Na Av. Juiz de Fora, próximo ao Sest/Senat, folhagens encobrem o marco e a placa

Mato ao redor da estrutura localizada na Alameda Ilva Melo Reis

Mato ao redor da estrutura localizada na Alameda Ilva Melo Reis

Entorno do marco na Av. Brasil com Ponte do Ladeira serve de abrigo a moradores de rua

Entorno do marco na Av. Brasil com Ponte do Ladeira serve de abrigo a moradores de rua

Recebidos com a expectativa de fomentar o turismo em Juiz de Fora, os marcos da Estrada Real, instalados ao longo do histórico trajeto que já foi percorrido, inclusive, por D. Pedro II, em alguns pontos, não conseguem exercer a Real função de orientar quem passa pela região. Um ano após o lançamento (em 28 de abril), aqui na cidade, do Passaporte Estrada Real para o Caminho Novo – ferramenta anunciada, pelo Instituto Estrada Real como mais um passo em direção ao turismo autossustentável dos municípios que integram o circuito -, a Tribuna percorreu o trecho da BR 267, em Caeté, até a Av.Juiz de Fora, no Bairro Parque Guarani. Durante o percurso, flagrou marcos quebrados, mato alto no entorno e pichações.

Os flagrantes da lente do repórter fotográfico Fernando Priamo começaram no trevo de Caeté, onde o marco tombou-se, colocando em risco, inclusive, quem passa pelo local. Continuando a jornada, na Avenida Ilva Melo Reis, a estrutura está rodeada por mato seco, como, se há pouco, houvesse ocorrido uma queimada. O percurso segue e, no final da Rua Nossa Senhora de Lourdes, no bairro de mesmo nome, o problema é a presença de perfurações e pichações, situação semelhante ao que ocorre no entroncamento das avenidas Brasil e Sete de Setembro. Também na Brasil, na esquina com a Ponte do Ladeira, a estrutura sofre com falta de capina e ainda serve de dormitório para moradores de rua. O itinerário finaliza na Avenida Juiz de Fora, próximo ao Sest/Senat. Lá, folhagens das árvores e veículos estacionados no local impedem o passante de ver a estrutura, uma placa de sinalização e a entrada da estrada que leva à Fazenda Ribeirão das Rosas, localizada em uma área militar.

“Desde o início do projeto, foi firmada uma parceria entre o Instituto Estrada Real e as prefeituras dos municípios, em que a manutenção dos marcos e das estradas de cada região é de responsabilidade das mesmas”, sentencia o turismólogo do Instituto Estrada Real, Felipe Machado, apontando para a importância das peças na eficácia da iniciativa. “Elas servem de orientação para os viajantes. Dão condições ao turista de sair de determinado ponto da Estrada Real e chegar a seu destino final.”

O conteúdo continua após o anúncio

Responsável por coordenar a área de articulação e estratégias do turismo, na Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de Juiz de Fora, Daniele Feyo afirmou que existe a intenção do departamento de criar uma agenda trimestral para acompanhar as condições dos marcos. “A nossa estrutura melhorou, e a ideia é, de três em três meses, percorrer o trecho inteiro e, dependendo da demanda, solicitar ajuda do Demlurb e da Empav. No ano passado, o Instituto fez uma avaliação dos trechos e nos pediu para fazer a manutenção. Era mais uma questão de capina mesmo”, diz Daniele.

Foi em 2002, após levantamento dos caminhos percorridos pela Coroa Portuguesa, que os marcos começaram a ser implantados, em média, a 1,5Km de distância um do outro. Inicialmente, a região recebeu 127 peças, sendo 30 entre Santos Dumont e Ewbanck da Câmara, 72 entre Ewbanck da Câmara e Juiz de Fora, e 25 entre Juiz de Fora e Matias Barbosa. Hoje, são 92. “A Estrada Real é muito dinâmica, afinal são mais de 1.600 quilômetros de extensão. Com isso, os marcos ficam sujeitos às ações climáticas e vandalismo, gerando depredação nessas estruturas. Além desta condição, a Estrada Real percorre trechos em propriedades privadas, onde, em alguns casos, seus proprietários não permitem a passagem, ocasionando em mudanças do trajeto”, comenta Felipe.

É preciso provocar a iniciativa privada

É inegável o valor da Estrada Real para o país, já que, por ela, a Coroa Portuguesa escoava os minerais extraídos de Minas Gerais até o litoral do atual Estado do Rio de Janeiro. Com a rota do Caminho Novo definida entre 1722 e 1725, o tempo de viagem foi reduzido em um terço, quando comparado ao Caminho Velho. Ao longo do “novo” trajeto, de 515km de extensão, com 32% de asfalto, 63% de estradas de terra e 5% de trilhas, saltam aos olhos as preciosidades que resistem ao tempo. Daniele Feyo reconhece a importância do Passaporte para o Caminho Novo, que foi recebido com a esperança de impulsionar o turismo, mas afirma que, em Juiz de Fora, o resultado não se mostra positivo.

“Já percebemos a dificuldade que temos de mensurar os impactos do turismo no município, porque ele é intangível, ainda mais pelas características da nossa cidade e do próprio trecho, que é extenso. Se o passaporte fosse notório estaríamos recebendo várias ligações e pedidos de informações a respeito dele”, comenta ela, ressaltando que “os marcos estão aqui, portanto, é preciso levar o projeto Estrada Real para a discussão.

“Nosso trecho não possui a atratividade que outros têm, mas é também uma questão de provocar a iniciativa privada. Não podemos esquecer que isso depende de toda uma estrutura e de um trabalho mapeado. O turismo de eventos e negócios é algo mais concreto para nós. Para aumentar os ganhos, é preciso haver a inserção da própria população. Ela deve compreender melhor o que vem a ser essa atividade dentro do município. Nesse sentido, é trazer a discussão para a aprovação do Plano Municipal de Turismo”, enfatiza Daniele.

“A gente vê que o problema não é só de Juiz de Fora. No interior, há uma dificuldade de se gerir um projeto como este. Então, precisaríamos de mais apoio por parte do Instituto, ter uma aproximação maior. Acho que é hora de o próprio Governo do Estado refletir se ele vai adotar esse projeto como uma ação estruturante para Minas Gerais. Se ele for trabalhado, se as próprias agências criarem roteiros, acho que vale muito a pena.”

Nos moldes de Santiago de Compostela

O Passaporte Estrada Real foi inspirado no projeto Credencial de Santiago de Compostela, podendo ser solicitado pelo site do Instituto Estrada Real. Dentro de um prazo de 60 dias, ele pode ser retirado em Ouro Preto, Diamantina, Paraty e Petrópolis, cidades que se encontram nas extremidades dos caminhos. Com o documento em mãos, o viajante pode receber o carimbo de visita às localidades já credenciadas. No caso de Juiz de Fora, o serviço é oferecido no Hotel Victory Suítes e na Pousada Solar dos Vieiras. Desde que passe por um número mínimo de paradas, ao chegar ao ponto final de cada caminho, o turista recebe o certificado de conclusão.

Segundo o Instituto Estrada Real, desde maio de 2015, 63 passaportes foram carimbados em Juiz de Fora. Felipe Machado ressalta que o projeto é recente e está em seu primeiro ano de implantação, por isso ainda não há dados suficientes para avaliar seu impacto na região. “O Instituto Estrada Real desenvolve diversas ações de promoção da Estrada Real, está presente em canais de TV, jornais, feiras, eventos, desenvolvendo novos projetos, como o aplicativo da ER, um projeto específico para a indústria que atende mais de cem mil funcionários e envolve meios de hospedagem, restaurantes e atrativos, cuja cidade de Juiz de Fora está inserida. Enfim, tornar-se a maior rota turística do Brasil não é uma tarefa fácil, manter-se neste lugar requer muito trabalho pela frente”, conclui o turismólogo.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.