Júlio Zanini conta tudo


Por MARISA LOURES

01/01/2015 às 07h00

Divertido, Júlio Zanini brinca com a possibilidade de lançar um livro

Divertido, Júlio Zanini brinca com a possibilidade de lançar um livro

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Houve uma época em que, de cada dez mulheres da alta-roda juiz-forana, pelo menos nove sonhavam em matricular o filho ou filha no curso “Noções de passarela”, que comemora 35 anos em janeiro, sob o comando de Júlio Zanini. Todas queriam ver seus pupilos fazendo sucesso no mundo da moda. Isso ainda acontece hoje, Júlio?. “Acontece, mas não iludo ninguém. Se quiser ser modelo e manequim tem que ir para o Rio”, avisa ele, espalhando sobre a mesa os vários álbuns de fotografia que guarda. Nas páginas, entre os anônimos, figuram rostos conhecidos, como os dos atores Nívea Stelmann e Carlos Machado. “Pelas minhas mãos já passaram cinco mil moças, cinco mil crianças e milhares de rapazes”, contabiliza Júlio, obrigado a mudar o rumo de seu negócio devido às imposições dos novos tempos.

“O glamour acabou, virou comércio. O pessoal não quer investir mais em comercial de televisão e desfile, porque ficou tudo muito caro. Fazem uma vitrine muito bonita para vender roupa e pronto. Com isso, mudei todo meu esquema. Tenho uma equipe com dez professores para dar orientações de etiqueta e boas maneiras, corrigir postura, despertar vaidade e trabalhar a descontração. Aceito pessoas de 5 a 70 anos. As mães me procuram porque sabem que faço um trabalho sério.”

Tradicionalmente, a maratona de aula, realizada no prédio Escola de Dança Misailidis, é concluída com um desfile de encerramento. E faria algo diferente para evitar a difícil mudança pela qual passou? “Deveria ter aproveitado mais, pois tinha a faca e o queijo nas mãos. Era só eu em Juiz de Fora, só depois apareceu o Senac. Muitas meninas que hoje têm cursos por aqui são crias minhas.”

“Durmo no formol”

“Um amigo meu do Rio adaptava as fantasias do Rio ao enredo de Juiz de Fora. Trazia duas ou três por vez. Era uma estrutura enorme, eu alugava van, contratava ajudantes e ia direto para a passarela. Ganhei muito dinheiro com o carnaval. Fazia promoção, cobrava cachê. Toda a sociedade me esperava na avenida”, afirma o folião, que já saiu em quase todas as agremiações de Juiz de Fora.

Para quem um dia teve uma juventude tão badalada, a calmaria de agora surpreende. Na residência da Rua Santa Rita, onde também é o escritório em que atende os clientes com hora marcada, vive Júlio e Deus, conforme ele mesmo conta. Os pais já são falecidos, e as irmãs, casadas, moram fora de Juiz de Fora. “Faço de tudo para não sair, não aceito convites. Passo e-mail, mando presentes e flores”, diz, abusando da franqueza. “Cansei dessas coisas. O pessoal está enjoado de ver a cara da gente, e eu enjoei de ver a cara de todo mundo. As pessoas são as mesmas. Quando vou às festas, sinto falta daquelas senhoras alinhadas que não existem mais. Umas já faleceram, outras não saem mais de casa. Não existe mais gente elegante e bonita.”

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Enquanto curte a aposentadoria fazendo o que gosta, Júlio faz piada com a possibilidade de contar em livro sua trajetória iniciada, sem planejamento, quando tinha 18 anos, e as curiosidades da sociedade de Juiz de Fora. A publicação já tem até título: “Júlio Zanini conta tudo”. “Acho que não daria muito certo. Tem muito babado. Vou ser preso igual ao Téo (Paulo Betti), da novela ‘Império”, brinca.

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