Unidade Regional do Gaeco em Juiz de Fora está desativada

Grupo é considerado como prioridade pelo Ministério Público para combater o crime organizado


Por Daniela Arbex

30/12/2018 às 06h11- Atualizada 30/12/2018 às 08h33

Cinco anos depois de a Procuradoria Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais criar, em dezembro de 2013, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a unidade regional prevista para funcionar no município está desativada. Em maio de 2014, a Procuradoria definiu as cidades mineiras que iriam abrigar o grupamento. Juiz de Fora era uma delas e deveria atender 24 comarcas. No entanto, há dois anos, a unidade local está sem funcionamento. Apesar da inatividade, a cidade continua incluída no rol das 13 cidades que possuem unidades do Gaeco (ver quadro), além de Belo Horizonte, a sede do grupo.

A repressão de atividades criminosas organizadas é um dos focos mais importantes do Gaeco que, entre 2017 e 2018, realizou 224 operações em Minas Gerais, das quais resultaram em cerca de 1.158 prisões e 770 cumprimentos de mandado de busca e apreensão. O grupo é considerado prioridade para o Ministério Público. “O trabalho do Gaeco é extremamente proveitoso para a sociedade, porque ele, de fato, é realizado através de um grupo interinstitucional. O nosso objetivo é, sempre que possível, que a gente comece a investigação e a conclua com elementos para que as pessoas sejam devidamente processadas e possa haver o trâmite jurídico adequado”, afirma a coordenadora do Gaeco em Minas, a promotora Cássia Virgínia Gontijo.

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Integrado por representantes do Ministério Público, da Polícia Civil, da Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal, o Gaeco tem conseguido coibir o avanço da criminalidade nas regiões em que atua. Por isso, a falta de uma unidade em Juiz de Fora é tão sentida. A promotora Cássia Virgínia Gontijo explica que por motivos pessoais e familiares o subcoordenador do grupo na cidade pediu afastamento há cerca de dois anos, e a vaga dele ainda não foi preenchida. Cássia reconhece a necessidade de reativar o trabalho do grupo em Juiz de Fora – o que ela acredita que acontecerá em 2019.

“No que tange a regional de Juiz de Fora, ela já teve o funcionamento na outra gestão, só que um dos colegas, que era o subcoordenador, por um problema particular de saúde da família, acabou se afastando. Com isso, Belo Horizonte passou a responder por Juiz de Fora. Hoje o Gaeco é montado por promotores de justiça por designação do procurador geral. Então tem que ter um perfil de promotor que se adéque ao Gaeco, que tenha uma experiência para melhor lidar com essa área da investigação. Alguns colegas já estão sendo sondados desde o ano passado e com a posse em 4 de dezembro do Dr. Tomé (o procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Antônio Sérgio Tomé), na recondução, nós acreditamos que, no ano que vem, Juiz de Fora já tenha também a sua estrutura.”

Apesar da ausência de uma equipe local, a coordenadora do Gaeco em Minas diz que o município não ficou desguarnecido, pois, só este ano, a sede, localizada em Belo Horizonte, já realizou duas grandes operações na cidade. Uma delas, que está em andamento, é a investigação, conduzida por uma força-tarefa, do confronto entre policiais de Minas e de São Paulo dentro do estacionamento de um centro médico. O tiroteio, ocorrido em outubro, resultou na morte de duas pessoas: o policial civil de Juiz de Fora, Rodrigo Francisco, e o empresário do setor de segurança, Jerônimo da Silva Leal Júnior.

Equipe atua na desarticulação de quadrilhas

Cidades com número de população semelhante ao de Juiz de Fora, como Uberlândia, vêm se beneficiando do trabalho especializado. Em dois anos, a unidade de Uberlândia, por exemplo, conseguiu prender quase 90 policiais civis na região do Triângulo e Alto Parnaíba envolvidos no crime organizado. Só em Uberlândia foram denunciados 62 policiais civis, ou seja, quase 25% do efetivo policial do 9º Departamento de Polícia Civil. No Sul de Minas, com apenas um ano de atuação, o Gaeco levou 77 pessoas para a cadeia. A desarticulação envolve quadrilhas que vão desde o tráfico de drogas a crimes contra a administração pública. Em uma das operações realizadas em Pouso Alegre, 14 pessoas ligadas ao tráfico de drogas foram detidas. Também foi descoberto desvio de R$ 1,7 milhão dos cofres públicos.

No Leste de Minas, recentemente, o Gaeco desencadeou a operação La Famiglia, com mais de 80 mandados de busca e apreensão cumpridos e 29 prisões feitas em Minas Gerais, Bahia, Ceará, Maranhão e ainda nos Estados Unidos. O objetivo era desarticular uma organização criminosa que atuava há pelo menos 20 anos na região e que agia de modo semelhante à máfia italiana. O grupo é suspeito de participar ou ser o mandante de 18 homicídios qualificados ocorridos na comarca de Conselheiro Pena entre os anos de 2011 a 2014.

Caso de Juiz de Fora

Sobre o polêmico envolvimento dos policiais civis de Juiz de Fora no crime de lavagem de dinheiro e nos dois homicídios que resultaram na prisão de sete agentes – mais de dois meses depois, o episódio ainda não foi esclarecido -, a coordenadora do Gaeco afirma que o caso está perto de ser solucionado, apesar de ainda existirem suspeitos que não foram encontrados pela polícia.

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“Na verdade, esse caso é muito complexo. A própria situação de haver policiais de corporações de estados distintos em algo desse tamanho já demonstra a gravidade e a complexidade do caso. De fato, todo procedimento está sendo acompanhado, só que a gente não pode querer que a conclusão venha a qualquer custo. Como, durante a investigação, já foram várias as versões apresentadas, está sendo tomado um cuidado muito grande para que na hora em que a conclusão da investigação aconteça, ela seja muito segura. São várias as diligências realizadas. O que posso adiantar é que falta muito pouco para a conclusão. Estou muito confiante que a investigação se encerre esse ano”, revela a promotora Cássia Virgínia Gontijo.

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