Aos 171 anos, Juiz de Fora mostra o poder de se reinventar
Tribuna apresenta a força dos negócios que surgem nesses novos tempos e uma reflexão sobre o futuro
“Faz algum tempo, eu ria de um vídeo que repetia incessante “Juiz de Fora, eu quero ir embora”. Já ouvi tanto de gente que insiste em fazer desta cidade um lugar de partir, que me perco nas contas. Sempre quis entender o porquê. Juiz de Fora me deu asas de voar. Aqui me formei artista, visito o mundo e volto com alimento no bico pro meu ninho. O solo aqui é fértil e dá de tudo se a gente planta. Sou do arado e da colheita, pois amar e mudar as coisas é sempre mais interessante, como disse Belchior”
Caetano Brasil – Clarinetista, saxofonista e compositor
O futuro é construído com base no agora. São os passos, planejamentos e as estratégias que definem, afinal, o que será o amanhã. Entender o passado é também um alicerce para entender de onde viemos e para onde vamos. Entre o final do século XIX e o começo do XX, Juiz de Fora era uma das mais importantes cidades do país, com um desenvolvimento industrial de alta capacidade, com fábricas de tecido por todos os cantos. Por isso, então, a apelidaram com o nome da cidade inglesa de Manchester, em referência a seu desenvolvimento pujante. Ficou então carinhosamente conhecida como a Manchester Mineira. De lá para cá, muitos trens passaram beirando o Paraibuna. E, nos 171 anos de Juiz de Fora, comemorados neste dia 31 de maio, a Tribuna apresenta uma reflexão sobre a passagem desse tempo e os novos caminhos da economia.
A localização é a chave de tudo. Estrategicamente entre Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, Juiz de Fora chama atenção por se manter ativa no mercado e, sobretudo, formar capital econômico e boa mão de obra, sobretudo pela vocação universitária que carrega. Não à toa, é palco de constante transformação e segue inovando.
“Salve Juiz de Fora!!! Parabéns pelos seus 171 anos!!! Mais um aniversário que comemoraremos sem abraços. O momento pandêmico nos isolou, nos privou da possibilidade de convivermos, juntos, em seus espaços urbanos. Mas tenho certeza que, em breve, estaremos, todos, novamente a flanar pelas ruas, calçadas, galerias, praças e parques da cidade que amamos e que escolhemos para viver. Comemorando a NOSSA CIDADE!!! Viva Juiz de Fora!!!”
PC Lourenço – Arquiteto e urbanista
Inovação sempre foi o termo motor para o crescimento. E isso ficou ainda mais forte durante a pandemia, que exigiu reinvenção. Nestes novos tempos, saber ressignificar o trabalho foi essencial. Gerente de Planejamento e Gestão do Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt), Débora Marques observa que inovar nada mais é que “fazer algo novo e significantemente melhorado que vai beneficiar a empresa, que vai trazer algum benefício que seja tangível”. Apesar de ser constantemente associado a empresas tecnológicas, qualquer estabelecimento inova, da vendinha à fábrica de produção de celulares. A inovação está intimamente ligada à competitividade. De acordo com Débora, “falar de competitividade hoje é falar de quais projetos de inovação cada empresa vai implementar, de como um país, uma cidade, faz a gestão da inovação e promove a facilidade”.
“Juiz de Fora, Manchester mineira, cidade de clima variado, cidade acolhedora, cidade festiva, de bares e botecos de todos os gostos e sabores. Minas Gerais de Juiz de Fora que encanta quem é daqui, de nascença, ou que veio de outros cantos para morar, de coração. Terra de Itamar Franco que busca sua consolidação como polo de desenvolvimento na Zona da Mata mineira. Trajetória traçada por tantos. Lugar que escolhemos, ou não, pra morar, mas que é sempre brilhante, com um futuro promissor, com tantas oportunidades. É só abraçar, arregaçar e conquistar. Juiz de Fora sempre merece o melhor.”
André Bastos Muniz – Empresário
Cofundador do Grupo de Trabalho Desenvolvimento e Inovação na Mata Mineira e Vertentes (GDI), João Matos destaca o desenvolvimento ligado ao social e ao bem-estar dos cidadãos a “ações que podem ser colocadas em favor da sociedade”. Essa ligação pode ser feita a partir de uma ciclo básico, como explica Gustavo Magalhães, analista do Sebrae Minas. “A partir do momento em que as empresas têm um bom desempenho, têm condição de aumentar o número de contratações, pagar melhor seus colaboradores, é possível promover um ambiente de consumo e sustentação melhor para a cidade. As empresas, nesse aspecto, possuem um papel muito importante, tanto o MEI (microempreendedor individual) quanto empresas de maior porte – porque, quando prosperam, elas fazem, de alguma maneira, distribuição de renda. E uma boa saúde financeira traz uma condição de desenvolvimento, dá uma sensação de que está tudo bem.”
“No momento em que o mundo enfrenta a devastadora Covid-19, Juiz de Fora vive um dos seus maiores desafios nesses 171 anos. Com seu DNA inovador e desenvolvimentista, a força de seus moradores é a principal fonte de energia para a cidade superar esse período tão difícil. Que Juiz de Fora volte a ser uma terra de oportunidades, que acolha e fomente o sonho de cada um dos seus quase 600 mil habitantes”
Luiz Sigiliano – Empresário, sócio da Arion Otimização em Energia
Vocação para saúde e educação
Tudo começa pela educação: vocação de Juiz de Fora. Débora Marques observa que a cidade dispõe de inúmeras instituições educacionais, principalmente na graduação e pós-graduação, responsáveis por formar capital intelectual. Essa massa crítica é o que forma a base para a criação do significativamente novo e, consequentemente, para a tecnologia e o desenvolvimento. São em escolas, cursos e faculdades que novas metodologias, estratégias e formas de trabalho são pensadas de maneira inovadora e eficaz. Esse é um dos motivos pelos quais Juiz de Fora é o centro da Zona da Mata e atrai pessoas de todo o Brasil e, ao mesmo tempo, espalha profissionais pelo país.
Essa observação é reiterada com base na análise feita pelos integrantes da pasta regional do projeto de extensão da UFJF, Conjuntura e Mercados Consultoria (CMC), Débora Mendonça, Felipe Dilon e Iris Barquette: “A educação em Juiz de Fora é um dos pontos marcantes. Em 2014, a cidade recebeu do Ministério da Educação o selo de Município Livre do Analfabetismo, documento oficial do Governo federal que reconheceu que mais de 96% dos jovens e adultos do município são alfabetizados, o que evidencia como a educação na cidade tem relevância e se torna um atrativo para a vinda de parte da população de outros municípios mais próximos em busca de uma educação promissora”.
Além disso, outra vocação faz com que Juiz de Fora atraia pessoas de todas as cidades da região e com ainda mais força na pandemia: a saúde. “A cidade apresenta 13 hospitais que atendem a população local e municípios próximos. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), a Superintendência Regional de Saúde de Juiz de Fora, órgãos e instituições de saúde de diversos municípios da região definiram a cidade como referência no tratamento do coronavírus na Zona da Mata, o que reforça a importância do setor para Juiz de Fora”, completam os três integrantes da CMC.
“O que desejar para minha cidade se não que os afetos dos seus se renovem a cada ano! Que cada juiz-forano compartilhe do amor pela cidade, cuidando dos seus e dos nossos: pessoas, animais, natureza, prédios, ruas, galerias (essas tão nossas galerias!)! Que o cheiro do amendoim do calçadão, o pôr do sol da ponte do Manoel Honório e as árvores centenárias do Parque Halfeld estejam na memória afetiva dos que virão nos próximos 171 anos!”
Renata Saber
Bancária
A busca pelo novo
Outra forte tendência observada em Juiz de Fora é sua vocação pulsante para o empreendedorismo. Surge uma geração de empreendedores com vontade e capacidade de realizar transformações econômicas e sociais, inclusive dentro das empresas, o que reflete em inovação para a cidade. Jonas Carvalho e Marcos Sena, da Conjuntura e Mercados Consultoria, levantam um dado que exemplifica essa busca pelo novo: “de acordo com o mapeamento realizado pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Juiz de Fora reúne hoje 47 startups. A maioria (45,95%) desenvolve serviços de software. O conceito de startup é relacionado a empresas recém-criadas, normalmente voltadas para atividades inovadoras no mercado”.
A união entre atores governamentais, instituições de fomento ao empreendedorismo e empresários e microempreendedores forma o chamado ecossistema. Segundo Gustavo de Oliveira, cofundador da Handcom e participante do grupo de idealizadores da Zero40, iniciativa para ajudar a desenvolver o ambiente de empreendedores de impacto na cidade e região, “a vantagem de um ecossistema desenvolvido é que ele acelera a criação deste tipo de empresa, que gera grande valor para a cidade, seja atraindo capital ou criando empregos de maior valor agregado, além de potencializar outros negócios em volta dessas empresas”.
“Tempos duros e difíceis. Muitas despedidas de gente que deixou um legado: Juracy, Hugo Borges, Fellet, Kamil, Coelho, Toninho, Pifano, Zé Kodak e muitos outros que sonharam com a cidade que iremos construir: mais solidária e menos desigual. Economicamente próspera e ambientalmente sustentável. Depois da tragédia, que venha o Renascimento: artístico, cultural, científico e econômico. Lutemos pelo Renascimento do Rio Paraibuna, do Museu, do Teatro Central, da saúde e educação, pelo renascer da ética, da cidade pioneira, das oportunidades e da convivência harmoniosa.”
Rogério Mascarenhas – Arquiteto e urbanista
“Cidade de Murilo Mendes – o estranho gênio surrealista -, do golpe de 64, da infância e juventude de um ex-presidente, do atentado de um futuro ex-presidente, do suplício agonizado de uma ex-presidente, do velho marxista brasileiro, da herança de Fernando Sabino, da miss Brasil, do escritor nazista ex-esquadrão da morte – o perverso Amado Couto -, da Tristeza Pé no Chão para Clara Nunes, de Gabeiras, de Rubens Fonsecas, Miltons Nascimentos, Anas Carolinas… Bem parece predestinada a um célebre anonimato. Sua definição segue indefinida senão como centro marginal do Brasil”
Ivo Duarte Meirelles – Estudante de Direito da UFJF
Gustavo lembra que mesmo antes do conceito de startups ser difundido, Juiz de Fora já inovava nesse sentido. “Temos vários empreendedores de sucesso. Desde Bernardo Mascarenhas, a cidade é sinônimo de empreendedorismo. Estamos em uma nova fase com startups já tendo sucesso nacional e recebendo investimentos importantes. Mas ainda é um ecossistema orgânico, que está evoluindo bastante.”
A crescente manifestação das empresas em relação a aspectos sociais e ambientais, buscando ser cada vez mais sustentáveis, também impacta de maneira positiva o desenvolvimento da cidade, proporcionando mais qualidade de vida para a população. O secretário municipal de Desenvolvimento Sustentável e Inclusivo, da Inovação e Competitividade (Sedic), Ignacio Godinho Delgado, lembra que o desenvolvimento ancorado em energias limpas propõe, também, novas oportunidades, uma das preocupações, inclusive, da pasta.
“Nas mudanças de paradigma, quando as novas formas de produção ainda não se consolidaram em redes empresariais rígidas, abrem-se janelas de oportunidades para que mesmo países e regiões, que na economia atual não se encontram em posição destaque, consigam efetuar saltos, planejar com zelo sua inserção no que se projeta para o futuro. Em Juiz de Fora, temos a Plataforma de Bioquerosene e Derivados, a Agenda 2030, que mira tornar a cidade uma referência em sustentabilidade, e já está estão em curso ações de atração de investimentos com este viés e articulações internacionais, além de medidas pontuais para que toda a administração, as ações dirigidas ao espaço urbano e a política de desenvolvimento sejam calibradas com tal perspectiva.”
“Ela acreditava estar caminhando para o inimaginável. Pisando a primeira vez aquelas calçadas, tudo parecia uma fonte inesgotável de novidades. A imensidão de uma cidade desconhecida. Fria por fora, calorosa por dentro. De tanto imaginar uma vida, a sua própria nasceu amadrinhada por esse lugar. Nasceu, cresceu e recriou um excesso de passado que transborda o presente que transborda o futuro de todas as coisas. Sempre bom o chegar e o partir dessa terra”
Carú Rezende, atriz
Produtora cultural e filha adotiva de JF
Pequenos negócios
Outras muitas mãos são responsáveis por levantar Juiz de Fora. E são elas que mais se reinventam, principalmente na pandemia. Estas mãos formam a base para, inclusive, atrair grandes empreendimentos. Em 2020, observou-se um crescimento no número de aberturas das microempresas. O Conjuntura e Mercados Consultoria pontua que o destaque vai para o setor alimentício, que obteve crescimento de 21% em relação ao ano anterior, segundo reportagem publicada na Tribuna, mas lembra que “os empreendedores se distribuem em diversos setores de atuação, com serviços, comércio, agronegócio, construção civil e tecnologia”. Segundo DataSebrae, existem na cidade 59.989 negócios, distribuídos entre MEIs, micro e pequenas empresas.
“Juiz de Fora é uma cidade jovem – em idade, em espírito, em essência. Guarda em si as ambiguidades e indefinições da adolescência: nem quente, nem fria; nem grande, nem pequena; nem cosmopolita, nem província. Não é de se admirar que faça aniversário no outono, quando sua alma atinge o ápice – quente ao sol, fria à sombra. Mas não tarda o seu encontro consigo mesma! Já dizia um profeta da cidade: ‘a evolução é mais perigosa que a revolução'”
Waldyr Imbroisi – Professor
O futuro próximo
Neste caminho trilhado até agora e daqui para frente, está a força de cada cidadão juiz-forano que acredita na cidade e no poder da inovação e do desenvolvimento para potencializar as vocações, que só aumentam, como finaliza João Matos: “Acredito muito na cidade, sou entusiasta das possibilidades que Juiz de Fora tem, principalmente por conta de sua localização geográfica no Estado, perto das três maiores capitais do Brasil. É uma cidade aberta a possibilidades, e temos muito a desbravar, de maneira mais inclusiva e inovadora.” Nesse sentido, Ignacio reitera que, para Juiz de Fora se desenvolver ainda mais, “é preciso uma transformação produtiva que permita reter talentos e aproveitar a rede de pesquisa da cidade, modernizando os setores tradicionais e estimulando a germinação de atividades intensivas em tecnologia e portadoras de futuro”.
“a cidade que desejo
é amiga dos
plurais
boas vistas
bons climas
graminhas
esplanadas
eldorados
borboletas
florestas
fábricas
poços ricos
novos horizontes
novas eras
mundos novos
belas auroras
progressos
passos”
Ulisses Belleigoli
Contador de histórias
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