Voltado para desenvolvimento pessoal e profissional, coaching cresce em JF

Entidades nacionais apontam que o segmento vive, atualmente, um momento de destaque em todo o mundo


Por Bárbara Riolino

29/07/2018 às 07h00

Depois de 14 anos dedicados à geografia, Nelson se descobriu fotógrafo e, também, com o coaching voltado para trabalhos artísticos (Foto: Marcelo Ribeiro)

Depois de 14 anos dedicados ao ensino da geografia em escolas e faculdades de Juiz de Fora e região, Nelson Araújo, 39 anos, sentiu que sua carreira na área acadêmica estava saturada. Há dois anos, buscou um coach para descobrir, ou redescobrir, novas habilidades e mudar de área. Mas, qual deveria seguir? A princípio, a escolha foi pela fotografia, uma antiga paixão, mas, durante o processo, Nelson encontrou, em antigos hobbies, meios para investir e ser mais realizado como pessoa e como profissional.

“No processo de coaching voltei a dar atenção a coisas que tinha largado, como a música. Fiquei mais de dez anos sem tocar guitarra e violão. Então busquei dividir meu tempo entre trabalhos musicais e fotográficos”, conta ele, que, além desses benefícios, ressalta que o coaching ainda trouxe algo de inesperado: a vontade de se tornar um coach também. “No coaching, eu pude me conhecer, ressignificar minhas atitudes, ver quem eu realmente era. Aprendi a quebrar crenças, mudar olhares. O coaching ajuda as pessoas a desenvolverem habilidades que têm e que não sabem que têm. E, para atingir seus objetivos, traçamos metas. Junto delas, vem o sentimento de capacidade, de melhoria de vida. Por isso busquei cursos e desenvolvi um processo de coaching voltado para artistas, desenvolvimento artístico e trabalho autoral.” Nelson é apenas um dos milhares de coachees (pessoas que passam pelo processo coaching) e coach (que aplicam as técnicas de coaching) que viram na metodologia um meio de se reencontrar e de obter sucesso profissional e pessoal.

PUBLICIDADE

Mercado promissor

Entidades nacionais ligadas ao coaching apontam que o segmento vive, atualmente, um momento de destaque em todo o mundo. Só nos EUA, o mercado movimenta cerca de US$ 3 bilhões ao ano. Em fase de expansão no Brasil, nos últimos quatro anos, o coaching cresceu cerca de 300%, conforme estimativa da Sociedade Brasileira de Coaching (SBCoaching). Embora não existam dados consistentes a respeito da quantidade de profissionais atuantes na área – por não existir no Brasil um órgão que regulamenta a profissão e que não faz auditoria nas escolas de formação -, os números partem de entidades que ofertam a formação. A SBCoaching, por exemplo, aponta já ter formado mais de 30 mil coaches. Já a Associação Brasileira dos Profissionais de Coaching (Abrapcoaching) estima um mercado com mais de 55 mil profissionais, enquanto o Instituto Brasileiro de Coaching (IBC) defende a existência de 35 mil pessoas em todo o país atuando como coaching, sendo que, em Minas Gerais, existem, pelos menos, 4.500 coaches em atividade.

Para o presidente do IBC, José Roberto Marques, o mercado de coaching vem crescendo cada vez mais, por isso é importante que o profissional busque aprender a se capacitar, para escolher bem um nicho de atuação que faça sentido para seu propósito de vida e atender seus clientes de forma eficiente. “Acredito em um mercado promissor, tanto para aqueles que desejam ser coaches profissionais quanto para os que querem agregar à atual carreira um diferencial, pois as habilidades comportamentais são cada vez mais valorizadas no mercado”, avalia.

Já a diretora de expansão e regionais da Abrapcoaching, Érika Rossi, enxerga muitas oportunidades para profissionais qualificados, mas pondera que ainda é um mercado mal explorado. “Afirmamos isso pelo simples fato de que a maioria das pessoas não conhece o coaching e os seus benefícios para a sua vida pessoal e profissional. Nem mesmo as organizações exploram este importante aliado para ajudar no processo de transformação. Os profissionais saem das escolas de coaches e não sabem o que fazer no mercado, ficam perdidos e desistem, por isso estamos desenvolvendo um trabalho para preencher esta lacuna. Somos ambiciosos em nosso propósito, pois acreditamos que o coaching é uma especialidade do desenvolvimento humano conectada ao século XXI, que exige visão, foco, ação, transformação e resultados rápidos”, afirma.

Coaching: origens e formação

De acordo com master coach da SBCoaching, Hendel Marum, ser um coach é bem diferente do que ser um mentor ou um consultor. “O coach não dá conselhos, não orienta. O coach utiliza-se de ferramentas extremamente técnicas e profissionais para levar o coachee às suas próprias conclusões. A base do coaching é uma só e pode ser aplicada às mais diversas áreas. O coaching atua no agir, na assertividade, na performance, no desenvolvimento humano e não na situação, aplicação em si”, destaca.

Para se formar em coaching, Érika Rossi, da Abrapcoaching, salienta que, assim como qualquer outra profissão, é necessário ter uma quantidade de carga horária mínima presencial e prática, bem como um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), ou semelhante, que qualifique o profissional para o mercado de trabalho. “E vamos além quando o assunto é o mundo corporativo, que necessita conhecimento, vivências e experiências organizacionais.” Atualmente, o coaching ainda não é regulamentado, e não há pré-requisito para ingressar numa formação. Contudo, a formação deve ocorrer em uma boa instituição, que ofereça o curso presencial, que varia de seis a oito dias, com carga diária de oito horas, trabalhos vivenciais de pelo menos um processo de coaching completo, que tem em média dez sessões, sendo que cada sessão dura de uma a duas horas.

“O profissional de coach hoje é importate tanto para o mundo corporativo quanto para a vida. Apesar de muita informação, as pessoas se sentem perdidas e inseguras, mesmo estando preparadas. O coaching é um processo muito positivo para ajudar as pessoas a se reconhecerem, se autoavaliarem e captalizarem seus pontos fortes. É importante procurar um profissional que seja capacitado, verificar a credibilidade da instituição onde ele se formou e outros certificados dentro da área e, principalmente, se ele tem experiências e habilidades para esta função. Sem essa preocupação, corremos o risco de banalizar o processo de coaching”, alerta a diretora da Associação Brasileira de Recursos Humanos em Minas (ABRH-MG), Marise Drumond.

Hendel Marum, da SBCoaching, ressalta que há um código de ética e boas práticas após o curso. “Não julgar, o que é um desafio já que julgar é humano, manter sigilo absoluto com relação às informações do coachee, não entrar em ação pelo coachee, não estimular nenhuma forma de dependência, principalmente emocional, entre coach e coachee, não induzir o coachee a tomar nenhuma decisão. Outro limite da nossa atuação é que o processo de coaching só funciona se a pessoa estiver disposta a ele, ou seja, realizar os exercícios, manter a rotina de atendimentos, enfim, ter um comprometimento com o processo, do contrário, somos orientados a encerrar o quanto antes para evitar frustrações de ambos os lados”, aponta.

Sobre quem busca o processo de coaching, o presidente do IBC, José Roberto Marques, explica que existem cinco tipos de pessoas: aquelas que desejam melhorar suas habilidades de liderança, as que querem dar um “up” em suas carreiras (aplicando o coaching nas suas competências atuais ou fazer transição de carreira), os profissionais de recursos humanos e psicólogos que desejam utilizar a metodologia nas suas atribuições, as pessoas que desejam descobrir um propósito de vida para sua realização pessoal e ainda aqueles que querem se tornar coaches profissionais. “De forma individual, o coaching tem o papel de desenvolver profissionais, ajustando cada perfil a uma determinada função, respeitando as potencialidades e individualidades de cada um. Já na área empresarial, o processo pode melhorar a comunicação e relacionamentos, desenvolver o controle e a inteligência emocional, aprimorar capacidades e habilidades, descobrir novas competências, gestão de tempo, planejamento estratégico, flexibilidade, resiliência, engajamento, visão sistêmica, eliminação de comportamentos sabotadores e bloqueios”, finaliza.

Áreas atuantes

Um coaching atua, necessariamente, no desenvolvimento de pessoas na área em que elas desejam evoluir. Por isso, o profissional pode trabalhar em diferentes frentes. No campo profissional, o coaching abrange as áreas de carreira, liderança, vendas, concursos, vocacional, educacional e empreendedorismo. Enquanto na esfera pessoal, há coaches voltados para a área financeira, de emagrecimento, de relacionamento, de saúde e bem-estar, e de nutrição, por exemplo. Geralmente, o processo de coaching dura cerca de três meses e pode ocorrer de forma individual ou em grupos. Ele é realizado por meio de sessões semanais com uma hora de duração cada. No total, o número de encontros com o coach varia entre dez e 12. Além disso, após o processo, o coachee é acompanhado por mais 30 dias.

“O coach (pessoal)entra como o profissional que acompanha a pessoa de perto, organizando metas e objetivos e estabelecendo datas” – Luiz Carlos Coelho, coach nas áreas vocacional, carreira e pessoal (Foto: Fernando Priamo)

Há quatro anos no mercado, o gestor em recursos humanos, especialista em psicologia da organização, Luiz Carlos Coelho, atua como coach nas áreas vocacional, carreira e pessoal. Ele buscou a formação para tornar o seu trabalho mais completo e fazer parte deste novo nicho de mercado. Luiz Carlos explica que, dentro do coaching vocacional, busca trabalhar com o coachee mais jovens, que estão entrando na faculdade, para descobrir suas aptidões. “A gente percebe que o jovem vai para a faculdade sem saber o que está querendo, e o que acontece: ele passa em um determinado curso, faz três períodos e descobre que não é aquilo que ele quer. Sendo assim, ele terá duas opções: começar outro curso ou terminar o que já está estudando, podendo se tornar um profissional frustrado. Com o coaching, ajudamos esse jovem a definir o que ele quer no futuro. No caso do coaching de carreira, geralmente atendemos aquele profissional que já está no mercado e deseja novos desafios ou mudar de área”, explica.

Por último, no coaching pessoal, Luiz destaca que são abordados questões de relacionamento, objetivos de vida, organização de estudos para quem, por exemplo, deseja prestar algum concurso público. “O coach entra como o profissional que acompanha a pessoa de perto, organizando metas e objetivos e estabelecendo datas. A trajetória será definida pela própria pessoa, mas o coach é quem aplica as ferramentas que vão balizando e acompanhando esse trabalho, passando dever de casa e cobrando do coachee a conquista dessas metas.”

O conteúdo continua após o anúncio

Saúde e imagem pessoal

A personal trainer Mariana Ragazzi, há um ano, buscou a formação de coach para atuar no segmento de emagrecimento. O objetivo era atender seus alunos de forma mais completa e consistente. “Nas aulas lido com um ser humano que tem problemas como ansiedade e hábitos, que, de forma geral, interferem em sua saúde e nos seus resultados. Observava que a maioria das pessoas ficava muito motivada no início, mas depois tinha dificuldade em manter essas mudanças, principalmente alimentares, e acabava sofrendo e se frustrando por não conseguir mudar”, conta. Desde então, ela vem aplicando técnicas de coaching ligadas à educação física para auxiliar seus alunos nesses processo, trabalhando o foco, a disciplina e o aprendizado contínuo, que, em conjunto, chegam aos resultados.

Mariana trabalha como coach de emagrecimento, prestando serviço para clientes individuais e em grupos (Foto: Marcelo Ribeiro)

Hoje, Mariana divide seu tempo entre o trabalho de personal nas academias e as sessões de coaching individual e em grupos, com atendimento pessoal e on-line, cujo foco são nas mulheres que queiram emagrecer e mudar os hábitos. “Durante anos, trabalhei como personal do público feminino, entendo bem as dificuldades e as dores de cada uma. O diferencial do meu trabalho é proporcionar um emagrecimento de forma sustentável, sem sofrimento, e acabar a briga com a balança.” Apesar do pouco tempo em que atua como coach, ela notou que houve melhora em seu rendimento financeiro. “Em termos de remuneração, por hora vale mais a pena sim, mas é instável assim como o personal. Portanto, deve haver planejamento e organização.”

A nutricionista Juliana Kamil também enxergou no coaching um meio de complementar seu atendimento em consultório. “Utilizo ferramentas adaptadas para a nutrição e as técnicas de coaching que aprendi no curso. Geralmente, quando você vai a um nutricionista, o seu retorno é de 15 a 30 dias, com o coaching fazemos acompanhamento semanal. No final de todo atendimento, além de avaliar a sessão, o paciente sai com metas específicas que possam ajudá-lo a chegar ao seu objetivo de forma rápida e eficiente.”

Feliz com os resultados, Juliana recomenda a formação de coaching a todos os profissionais da área de saúde. “Hoje não consigo fazer um atendimento de nutrição sem utilizar pelo menos alguma técnica de coaching. Foi um divisor de águas na qualidade dos meus atendimentos, na minha vida e na vida dos meus pacientes.”

O coaching também é bem vindo quando o assunto é moda e imagem. A partir deste ano, consultora de moda Ana Paula Calixto passou a atuar, também, como coach de imagem. A área, segundo ela, visa aprofundar mais o seu trabalho, oferecendo um atendimento diferenciado. “Acredito na moda com essência, na construção de uma identidade legítima, e as técnicas do coaching são excelentes ferramentas para o autoconhecimento e aprimoramento do estilo pessoal, pontos principais da consultoria de moda. Ajuda a traçar o perfil de comportamento, trabalhando mais a autoestima para a pessoa ter mais confiança ao se vestir. Também passa por cores, biótipo e até a composição do guarda-roupa.”

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.