Falta de combustível para o transporte de alimentos preocupa supermercados

Hotéis e restaurantes também estão entre os estabelecimentos que sofrem com o desabastecimento de produtos


Por Júlia Pessôa

28/05/2018 às 20h40

Alguns estabelecimentos estão limitando a compra de produtos para itens com riscos de desabastecimento (Foto: Kathlenn Batista)

A greve dos caminhoneiros, que chega a seu nono dia nesta terça-feira (29), preocupa diversos setores que dependem do transporte de alimentos e insumos para seu funcionamento. De acordo com o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Juiz de Fora, Rogério Barros, há temor de um colapso devido à falta de ingredientes, à baixa taxa de ocupação dos estabelecimentos e hotéis e à escassez de gás de cozinha.

“No último fim de semana, os bares e restaurantes sofreram uma retração de 50% no movimento. A tendência, com a continuidade da greve, é este cenário se agravar. Alguns estabelecimentos já não têm hortaliças, outros tiveram que recorrer a atacados para comprar produtos e, embora ainda haja gás em alguns lugares, pode ser que alguns restaurantes baixem as portas se a situação não for revertida. Quanto aos hotéis, como nosso turismo é essencialmente de negócios, e as empresas estão suspendendo viagens, a taxa de ocupação foi baixíssima nos últimos dias, algo em torno de 30%. É um transtorno muito preocupante, a categoria está perdendo muito”, pontua.

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A presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes Zona da Mata (Abrasel-ZM), Carla Pires, estima queda de 50% a 70% de redução no fluxo de clientes no último final de semana. “Hoje um dos principais problemas é falta de clientes. O estoque, às vezes, se garante, mas o problema maior é a redução do fluxo de pessoas”, afirma. Ainda assim, a redução dos estoques de alimentos é uma realidade, segundo ela. “Está complicado, principalmente quanto à falta de gás de cozinha. Alguns restaurantes estão fechando, e a maioria está trabalhando com estoque final. Se continuar a greve, vamos ter problema.”

No pós-greve, supermercados vão demorar até dez dias para normalizar abastecimento

A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) informou, em nota, que “vê com preocupação a situação do país, que há oito dias sofre com a falta de combustível, que consequentemente, tem prejudicado o abastecimento do setor supermercadista.” A associação informa que “o setor tem sofrido mais com a falta de abastecimento de produtos perecíveis, prejudicando as seções de hortifrúti, açougue e laticínios e derivados.”

A Abras orientou todas as suas 27 associações estaduais de supermercados, por meio de ofício, a evitar a prática abusiva de preços sem justa causa. “A entidade nacional está trabalhando junto ao Governo federal para que uma solução definitiva seja encontrada e para que o setor de supermercados, essencial da economia brasileira, responsável pelo abastecimento de quase 90% de todo alimento comercializado no país, consiga restabelecer seus estoques. Lembrando que, mesmo após a greve, o setor poderá levar de 5 a 10 dias para a normalização do seu abastecimento.”

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Em nível estadual, o vice-presidente regional da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Álvaro Lage, reiterou que o avançar da greve influencia diretamente nos estoques das lojas. “O estoque dura, no máximo, 12 dias, mas chegando ao oitavo dia de greve, dizer que eles durariam para mais uma semana seria muito”. A orientação da Amis é que os supermercados continuem atendendo e coloquem à disposição todos os produtos em estoque, mas com limitação de itens por consumidor. Entre os itens faltosos, ele apontou que estão os hortifrúti, lácteos e carnes in natura. A Ceasa Minas, responsável pelo abastecimento de boa parte dos estabelecimentos ligados ao setor, informou, via assessoria de imprensa, que não emitirá posicionamento sobre a crise de abastecimento.

Estabelecimentos locais analisam estoque diariamente e buscam alternativas

Segundo o gerente de marketing do Grupo Bahamas, Nelson Júnior, a maior dificuldade da rede atualmente é a saída de caminhões do Centro de Distribuição (CD), que fica na BR-040, para o abastecimento das lojas da cidade. “Desde segunda passada (21), às 14h, não sai um caminhão do CD, porque não conseguimos sair pela BR. Temos, em nossas lojas, um giro de abastecimento. As maiores, normalmente, são abastecidas para que o estoque dure cerca de 15, 16 dias, por exemplo. Quando termina o movimento do dia, a loja faz um balanço do que foi vendido e realiza um pedido ao CD para repor o estoque. Isso não vem acontecendo, e com isso, não há reposição, o que significa que uma loja que na segunda tinha um giro de 15 dias, hoje tem de oito”, explica.

Nelson acrescenta que o Bahamas, com orientação do Procon, limitou o número de produtos por cliente para não agravar o desabastecimento. “A ideia é diminuir o impacto e evitar a falta dos produtos. O que ocorre agora é que, se normalmente trabalhamos com quatro ou cinco marcas de maionese, podemos ter só uma. O mesmo com arroz, leite e diversos produtos. Algumas marcas já não são encontradas, mas temos algum similar. Nosso grande problema hoje é o hortifrúti, estamos sem folhosos desde a semana passada. Muita coisa nem sai da roça, dos produtores, nem chega ao Ceasa e, quando chega, é com um preço elevado.” Nelson informou, ainda, que todas as decisões decorrentes de problemas causados pela greve estão sendo avaliadas diariamente. Desde quinta passada (24), por exemplo, não fazemos mais entregas em domicílio por causa da falta de combustível. Nossa perspectiva de ação é avaliada diariamente, mas a tendência é de a situação se agravar a cada dia que se passa”, avalia.

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Em nota, a assessoria de imprensa do Carrefour informou que “a rede informa que está acompanhando atentamente os movimentos dos caminhoneiros e a negociação com o Governo. Esclarece que o volume de seus estoques contribui para o abastecimento de suas lojas, porém, pode haver indisponibilidade pontual de alguns itens. Reforça ainda que busca alternativas para atender o maior número de clientes e segue em contato com fornecedores locais para suprir as eventuais rupturas.” Também, por meio de sua assessoria, a rede Bretas comunicou, por e-mail, que “está limitando a compra de produtos em cinco unidades por cliente para alguns itens com riscos de desabastecimento. Os tipos de itens variam de acordo com o estoque de cada loja. A empresa ressalta que está atenta, acompanhando a situação junto aos fornecedores, e espera que o abastecimento seja rapidamente normalizado para que a população não seja prejudicada pela falta de itens de consumo diário”.

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