JF Terra de empreendedores: Samir Iásbeck de Oliveira, CEO da Qrânio, startup juiz-forana


Por Gracielle Nocelli

28/05/2017 às 07h00

Foto - Fernando Priamo
Foto – Fernando Priamo

Quando solicitei a entrevista com Samir Iásbeck de Oliveira, fundador da empresa Qrânio, startup juiz-forana de maior reconhecimento no mercado, a resposta veio com a mensagem: “14h30 te aguardo para tomarmos um Qafé”. Isso mesmo, café com “Q” maiúsculo. A grafia que troca o c pelo Q é adotada pelo empresário há alguns anos. “Certa vez, um amigo disse que não lembrava mais que a palavra crânio era escrita com c de tanto que via a marca da empresa, então, decidi adotar essa forma de escrever. Faço isso até em documentos”, conta. Este é apenas um dos exemplos dados por ele, ao longo da nossa conversa, sobre como a Qrânio é mais do que uma empresa para Samir. “É a minha missão de vida”, define.

O conceito da Qrânio é ser uma empresa de base tecnológica que auxilia o aprendizado por meio de games. A startup tem sido bem sucedida nesta empreitada, sendo avaliada em R$ 20 milhões em 2014. Com o aplicativo gratuito, alcançou 1,3 milhão de usuários. Desde o ano passado, tem trabalhado forte com o formato “mobile learning”, direcionado para grandes empresas realizarem o treinamento de funcionários. Na cartela de clientes estão Bob’s, Bradesco, Grupo Pão de Açúcar, dentre outros. Para entender este caminho de consolidação é preciso conhecer a trajetória do seu idealizador.

PUBLICIDADE

“Nunca gostei de estudar”

Nascido em Juiz de Fora, Samir permaneceu na cidade até os três anos, quando se mudou para Bicas, onde morou até os 12. “Quando falo da minha infância, percebo que este é o começo da Qrânio. Nunca gostei de estudar, pois me tirava tempo de brincar. Acho que a maioria das pessoas não gosta, mas nós remetemos à ideia de que estudar é aprender. Só depois de mais velho fui entender que o estudo é uma das formas de aprendizado, mas não é a única”, defende. “Eu amo aprender, mas odeio estudar.”

Ele conta que as brincadeiras daquela época eram formas de aprender. “O meu brincar não era comum. Eu gostava de ir para marcenaria ver como a madeira era serrada para poder fabricar carrinhos de rolimã, contruir casa na árvore e criar coisas.” Aos 12 anos, Samir teve que se mudar novamente, desta vez, para o interior de São Paulo. “Esta fase foi muito importante para eu ter o contato com a tecnologia, considero um divisor de águas.”

O retorno para Juiz de Fora aconteu aos 16. “Eu amo essa cidade. Muita gente faz o caminho inverso, morar aqui e sair. Eu não, sempre quis voltar. Até mesmo com a Qrânio dando os primeiros passos, quando conseguimos o contrato que nos determinava ter uma sede em São Paulo, sempre mantive uma equipe aqui. É um amor meio sem explicação.”

Vender para empreender

Samir colecionou uma vasta experiência no ramo do empreendedorismo. Na infância, teve a iniciativa de vender picolés. Já na faculdade, administrou três empresas ao mesmo tempo: uma consultoria em vendas, um salão de cabelereiro e um lava-jato. E não parou por aí, tempo depois, esteve à frente de duas distribuidoras e fundou a eMiolo, empresa de softwares berço da Qrânio, que ainda está no mercado.

Todas as experiências contribuíram para o crescimento. “Percebi a importância de vender para que uma empresa dê certo. Sempre gostei de vender. Aos 8 anos saía da escola, passava na sorveteria de Bicas e comprava vários picolés. Achava o máximo andar nas ruas anunciando a venda.” Para ele, a influência vem da família. “Meu avô materno era libanês, povo que por natureza é bom vendedor. Ele teve açougue, padaria e foi gerente regional de um banco. A família inteira é de empreendedores. Meu pai depois que se aposentou também montou o próprio negócio. Cresci vendo os erros e os acertos de todos. Acho que existe uma herança neste sentido.”

Outro aprendizado foi a necessidade de ter foco. “Quando você é jovem, você acha que consegue fazer tudo. E o pior é que, quase sempre, é possível. É aí que mora o perigo. Quando tinha todas aquelas empresas, eu trabalhava de domingo a domingo, e não ganhava dinheiro. Se eu tivesse me concentrado em uma empresa apenas, ela poderia ter dado muito certo, ou dado errado mais rápido. Depois de um certo tempo, os próprios negócios foram mostrando qual valeria ou não a pena. Nessa história toda perdi mais de R$ 320 mil. Brinco que esse foi o valor da minha faculdade da vida, tamanho o aprendizado. Eu podia ter estudado em Harvard”, ironiza.

De prejuízo à case de sucesso

Foto - Fernando Priamo
Foto – Fernando Priamo

Os fatos levaram Samir a concentrar o foco na eMiolo. “No início, ela era deficitária. Trabalhei muito para reverter o quadro. Foi então que percebi que o Qrânio, que era um quiz que dava prêmios, era um grande prejuízo. Aquele era o primeiro passo do projeto de fazer o aprendizado ser algo divertido, e eu não queria me desfazer dele, foi então, que decidi profissionalizá-lo.”

A corrida pela profissionalização não foi fácil. “Não existe mágica, se você quer montar um negócio e quer que dê certo tem que trabalhar, dedicar, ter persistência”, aconselha. E foi assim na trajetória da startup, lançada em outubro de 2011. “Um mês depois fomos chamados para participar de uma semana de capacitação em São Paulo. Dos 700 participantes, ficamos entre os 30 selecionadas para concorrer a um investimento da Telefônica, que seria oferecido para dez empresas, mas não conseguimos.”

O conteúdo continua após o anúncio

A chateação de não ser selecionado trouxe um desafio. “Junto dos meus sócios, Gian e Flávio, decidimos trabalhar para nos tornar melhores. Em 2013, participamos da Campus Party sendo apresentados como o primeiro case de sucesso da Telefônica.”

Qualidade de vida

Casado e pai de dois filhos, Laila de 11 anos e Oliver de dois, Samir é preocupado com a educação das crianças. “A parte técnica é fácil de aprender, me preocupo com a formação humana. Uma das coisas que não me fez desistir da Qrânio foi perceber o quanto a Laila tem de mim com relação ao desejo de aprender brincando.” Segundo ele, a relação da família com a Qrânio também é de paixão. “Minha esposa tem um colar com os pingentes dos nossos filhos e um com a logo da empresa.” Apesar disso, ele reconhece que a vida não é só trabalho. “Temos que seguir três degraus: aprender, trabalhar e ter qualidade de vida. O problema é que as pessoas ficam no ciclo vicioso dos dois primeiros e se esquecem do terceiro. E qualidade é estar em família, assistir um filme com meus filhos, fazer uma viagem”, exemplifica.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.