População reclama de buracos em várias regiões de JF

Empav afirma que gastos para tapar avarias no asfalto em toda a cidade chegam a R$ 250 mil mensais


Por Renan Ribeiro

28/03/2018 às 07h00- Atualizada 28/03/2018 às 18h26

No Jardim Casablanca, motoristas têm que desviar de buracos na Rua Adão Barbosa Lima (Foto: Fernando Priamo)

A combinação do tráfego de veículos com as chuvas fortes dos últimos dias favorece o aparecimento de buracos e erosões nas vias em várias regiões da cidade. As avarias no asfalto se multiplicam assim como as reclamações da população e o transtorno no dia a dia de quem precisa estar mais atento para tentar desviar dos buracos e dos danos causados por eles. Para tapar as crateras que surgem no asfalto pela cidade, os gastos da Prefeitura são de R$ 250 mil mensais, segundo a Empav. Há 11 contratos em execução para obras de pavimentação, de acordo com o Portal de Convênios do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. O valores empenhados nesses convênios, obtidos via emenda parlamentar, destinado ao recapeamento do asfalto, somam R$ 5.421.018,79.

A Tribuna percorreu vários bairros de diferentes regiões e verificou as dificuldades relatadas pela população, em relação aos buracos e erosões. No Bairro Santos Dumont, Cidade Alta, por exemplo, as avarias causam preocupação na Rua Álvaro José Rodrigues. De acordo com o morador Márcio Moreira, quando os veículos passam sobre os buracos, espirram água nos pedestres. “Tenho medo de ser atropelado, os passeios são estreitos. Queremos um meio de resolver o problema. Os ônibus balançam muito quando as rodas batem nos buracos, pode acontecer de quebrar um eixo, uma roda e deixar todo mundo na mão. Mas o que queremos é uma intervenção mais profunda, não adianta só remendar. Já que vão investir o nosso dinheiro, tem que quebrar tudo, tirar o que está ruim e fazer outro”, reivindica. Esse relato se repete em outros lugares onde a reportagem esteve.

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Diante de todas essas cobranças, o diretor técnico da Empav, Renê Vieira, usa uma metáfora, que ajuda a entender porque há uma demanda tão grande. “É como se a gente fosse contratado para cuidar do gramado de um campo de futebol durante a partida. Enquanto adubamos, plantamos e tiramos as ervas daninhas, os jogadores vão passando por cima do trabalho.” Ele explica que a PJF está ciente de que a medida a ser tomada não deveria ser paliativa. “Por isso estamos em busca permanente de recursos para fazer o recapeamento das vias. A Prefeitura tem dado prioridade aos maiores corredores viários, para as ligações entre os bairros, onde o ônibus passa e por onde as pessoas vão ter acesso às localidades. Mesmo que elas não tenham suas ruas asfaltadas, vão conseguir chegar em casa. Então, investimos na solução mais viável.”

Crescimento sem planejamento

A pavimentação da cidade é antiga. Data da década de 1950, conforme Renê. Por não ser um município planejado, que experimentou um crescimento populacional grande, tendo a topografia como um dificultador e ainda somando chuvas à conta, o resultado é a multiplicação dos buracos em todas as regiões. “Temos feito operações tapa-buracos, mas esse ano a chuva atrasou e veio bem mais intensa. É normal perder a corrida contra o pavimento. Inclusive, nos dias de chuva, não podemos operar.”

As redes, que além de desgastadas precisam de novo dimensionamento, em função do crescimento, também representam um desafio. “Há uma cultura formada pela falta de orientação, em que as pessoas jogam água de chuva na rede de esgoto. Essa rede mede de 10cm a 15cm, ou seja, é pequena. De repente, ela passa a levar toda a carga de água que desce com a chuva. Ela enche, não dá conta de drenar o volume de água. Como a topografia é elevada, a água cria uma pressão muito forte nas partes mais baixas e estoura os canos. Quando estoura, cria mais um buraco. Com a enxurrada, a água penetra o solo, flexiona e resulta em mais buracos. Fazendo com que o pavimento perca sua capacidade de suporte”, detalha o diretor técnico da Empav.

Subsolo

Para solucionar o problema, o solo precisaria ser mexido, com a troca de toda a rede de água e esgoto. No entanto, para Renê, com as diversas redes cruzadas no subsolo, entrar com um maquinário pesado, fazendo toda a remoção, seria sinônimo de um trabalho que levaria meses, gerando como impacto ruas interditadas, falta de energia e esgoto por meses, fora a quantidade de recursos necessários para tal. “É impossível. Muitas vezes, temos a impressão de que o ótimo é inimigo do muito bom. Descemos um pouco o padrão, fazemos o recapeamento e tratamos o solo pontualmente.”

Nessa semana, com a operação tapa-buracos, a Empav já esteve no Acesso Norte e na Avenida Juscelino Kubitschek e em várias ruas da Cidade Alta. Essa ação deve continuar até que todas as regiões tenham sido atendidas.

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Rua Álvaro José Rodrigues, no Bairro Santos Dumont (Foto: Marcelo Ribeiro)

Dificuldades de quem lida com o trânsito diariamente

“A gente roda a cidade toda. Já decoramos onde está cada buraco, mas sempre tem um novo. Não tem como citar um bairro que não seja afetado pelo problema. Ficamos muito prejudicados porque há muitos danos, à suspensão do carro, aos pneus, até às rodas. Embora a gente entenda que, talvez, o Poder Público não tenha tempo de arrumar tudo”, descreve o presidente do Sindicato dos Taxistas e Transportadores Autônomos de Passageiros (Sinditáxi), Aparecido Fagundes da Silva.

Nesse período, os motoristas que usam as vias como profissão absorvem gastos extras, que pesam no orçamento. “Gastei R$ 3 mil de suspensão com o meu carro. É amortecedor, embuchamento de balanças, mexe com tudo. Por mais que você desvie, sai de um buraco, cai em outro. E não é só buraco, também tem o alto relevo do asfalto. Emendas que ficam aparentes. Além de horrível de transitar, traz prejuízo”, relata o motorista da Uber Carlos Augusto Ferrara Ramos. Para Ferrara, o impacto chega ao atendimento ao cliente, que não sente segurança por causa do trajeto cheio de falhas. “Se você dirige com foco maior no desvio dos buracos, deixa de pensar na prioridade, que são os pedestres, os passageiros. Ficamos tensos ao volante.”

Nas lojas de pneus, a procura pelos itens aumenta em função dos buracos. “Acontece muito de os condutores passarem sobre buracos e rasgarem ou furarem os pneus. Com as chuvas, eles são surpreendidos, porque a água esconde os buracos”, diz o vendedor da Serrana Pneus, Welington Nascimento.

De acordo com o diretor técnico da Empav, Renê Vieira, com o término do período chuvoso, a Prefeitura intensifica o serviço de tapa-buracos para atender as localidades. “Cada chuva é uma nova história. Vamos mantendo as condições para causar o menor prejuízo possível para a população, trabalhando com os recursos disponíveis. Precisamos destacar que esses recursos são limitados, podemos ir até onde nossos braços alcançam.”

Problemas recorrentes em várias regiões

Antônio Neves, morador do Bairro Santa Rita, Zona Leste, convive com as erosões e os buracos nas ruas pelas quais passa nos ônibus urbanos que dirige e também perto de casa. “A Cesama fez uma ligação de água na Rua Geraldo Paleta. Com a chuva, a água infiltrou e barreou tudo, fazendo uma valeta pela rua. Liguei tanto para a Empav quanto para a Cesama, que são responsáveis, mas ainda não vimos resultado.” A esposa de Neves caiu recentemente em um buraco localizado em frente a casa deles. “Ela está com a perna toda machucada. Aqui é uma área escolar, se uma criança cair em um buraco, pode ser que venha a acontecer algo pior, porque o tráfego de veículos é intenso.”

Na Zona Norte, Victor Felipe, morador da Rua Jair da Silva Spinelli, diz sofrer por causa de um buraco do qual vaza água há mais de três meses. “Tem outros, porém, esse é muito maior. Tem o vazamento, causa trepidação e faz muito barulho quando o ônibus ou os carros passam em cima. Nós já reclamamos com a Prefeitura, mas ainda não tivemos resposta.” Nesses dois casos, especificamente, a Cesama explicou que fez os reparos na rede, mas que a recomposição asfáltica ainda não foi concluída. As pendências estão na programação da Companhia, que incluiu os dois pontos entre as suas prioridades.

Ainda na Zona Norte, no Distrito Industrial, as ruas Bruno Simili e Fernando Lamarca são caminho do técnico em manutenção Vítor Lúcio de Andrade tanto para ir, quanto para voltar do trabalho. Ele explica que o trajeto tem sido dificultado pelas avarias no asfalto. “Vindo do Bairro Ponte Preta, esse é o único caminho, para não ter que fazer uma grande volta. O fluxo de veículos, principalmente de carros e caminhões, é muito pesado. Nessas ruas, precisamos parar e esperar o outro passar, porque, apesar de ser mão dupla, em função dos buracos, não tem como passar dois veículos ao mesmo tempo. É preciso invadir um pedaço da outra pista.” Por conta desses cuidados extras, que envolvem a espera e a redução da velocidade, há um impacto no tempo de viagem.

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No ano passado, Vitor e a esposa tiveram um prejuízo de R$ 450, por causa do pneu que rasgou em um dos buracos nessas ruas. “Quando chove fica tudo alagado e não tem como ver onde os buracos estão. Esses problemas são recorrentes. O asfalto original já se foi, o que vemos são só os remendos.”

Na Zona Sul, um dos exemplos de local que apresenta problemas no asfalto é a Rua Antônio Bento Vasconcelos, no Bairro Previdenciários. Ela é a principal via de acesso ao bairro, de acordo com o morador Ronaldo Dutra Pereira. Ele vive na região desde que o bairro começou a ser criado, no final da década de 1970. “Os buracos são muitos e são fundos. Os motoristas precisam diminuir a marcha e passar bem devagar, porque, acima dos 30 quilômetros, se arriscam a quebrar as molas do carro. A Empav já esteve no bairro, tampou um, mas deixou vários outros. A última chuva forte levou o asfalto todo”, descreve. Ronaldo, assim como Vitor, relata que a dificuldade em passar pelo local aumenta o tempo de deslocamento. “Com o asfalto todo certinho, conseguimos chegar ao Centro em, no máximo, 15 minutos. Mas do jeito que está, com essa quantidade de buracos, o mesmo trajeto não é feito em menos de 30 minutos.”

O aposentado Elídio Ribeiro, morador do Bairro Bom Jardim, convive com os buracos das ruas Henrique Miranda Sá e Luiz Fávero. Por conta da situação do asfalto e do uso constante, o carro dele está cheio de problemas. “Acabaram com a embreagem, radiador, ventoinha, não são peças baratas, então o prejuízo é grande.”

Mais equipes trabalhando nas ruas

No período pós-chuvas, os trabalhos para lidar com todos esses buracos serão intensificados, de acordo com o diretor técnico da Empav. “A Secretaria de Obras (SO) vai combater as redes de drenagem que estouraram, a Cesama vai trabalhar com as erosões (sejam provocadas por água de chuva ou de esgoto), mas a tendência é que, a cada ano, o pavimento fique mais velho e mais desgastado. Estamos recuperando as ruas, já há mais de 170 ruas recapeadas, que recebem maior tráfego. Nesses locais, estamos praticamente livre dos buracos.” Ainda segundo Renê Vieira, há quatro equipes da Empav empenhadas nesse trabalho.

A intenção é montar outra equipe para atuar em serviços maiores e acelerar a recuperação. Da Cesama, havia cinco equipes, mas a companhia recebeu mais duas para aumentar o poder de resposta aos buracos. “Pedimos desculpa ao cidadão e um pouco mais de paciência, porque vamos atender a todos. Pedimos que as pessoas continuem fazendo contato por meio do Espaço Cidadão, registrando suas demandas porque elas serão atendidas. Além disso, é importante que a população procure evitar as ligações de água de chuva na rede de esgoto, para diminuir os danos”, orienta o diretor Renê.

A Empav esteve com a operação tapa-buracos em dez ruas da Cidade Alta nesta terça-feira (27), incluindo as avenidas Pedro Henrique Krambeck, Senhor dos Passos, Presidente Costa e Silva e Manoel Vaz de Magalhães, além das ruas Roberto Stigert, Attílio Pastorini, Orestes Fabiano Alves, Otília de Souza Leal, das Esmeraldas e Johann Sebastian Bach. A Operação já passou pelas ruas Henrique Dias, Doutor Romualdo, Augusto Stoppa, Luiz Gualberto Júnior, Domingos Tavares de Souza, Água Limpa, Três Ilhas, e Roque Gonelli, além das Avenidas Brasil, Itamar Franco e Ibitiguaia.

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