Região Leste luta para se recuperar após chuvas
Algumas ruas ainda acumulam barro e restos de móveis; PJF irá publicar decreto com ações para o período chuvoso nesta sexta
Os juiz-foranos ainda tentam se recuperar dos impactos das fortes chuvas que atingiram a cidade nos últimos dias. Nos bairros da Zona Leste, região mais castigada pelas tempestades, o trabalho de limpeza das ruas e imóveis segue sendo realizado por moradores e equipes do Demlurb. Trabalhadores da Empav, que estavam com as atividades paralisadas pelo não pagamento do 13º salário desde a última quarta (20), retomaram na tarde de quinta (27) e também auxiliam o serviço. De acordo com a Prefeitura (PJF), há nove famílias desalojadas. Nas últimas 24 horas, a Defesa Civil atendeu 26 ocorrências. Os principais registros são sobre alagamentos, ameaça de escorregamento de talude e trinca em parede. Ainda há áreas atingidas que estão à espera da assistência do Poder Público. Nesta sexta (28), o Município irá publicar decreto com diretrizes para subsidiar e orientar as ações durante o período chuvoso.
No Bairro Linhares, algumas das vias que estavam intransitáveis por conta da concentração de lama e entulho receberam uma força-tarefa do Demlurb. Na Rua Itália, os trabalhadores lavaram a via e as calçadas, o que permitiu novamente o acesso ao local. Já na Rua Moacyr Castro Xavier, apesar do serviço de limpeza, o asfalto cedeu e ainda não é possível o tráfego de veículos. No entanto, moradores alertam que há endereços que continuam descobertos pela assistência da Defesa Civil. “A região central do bairro está sendo muito bem atendida pela Prefeitura, mas é preciso olhar para a parte alta também. Estamos com medo de um barranco deslizar na Rua José Sobreira. Também nos preocupamos com a chance de queda de um coqueiro localizado na Rua Engenheiro Paulo Correia e Castro”, relatou uma moradora que preferiu não se identificar.
A mesma reclamação é feita pelos moradores da Rua Diva Garcia no trecho do Bairro Três Moinhos. Conforme mostrado pela Tribuna, na última quarta (26), algumas casas tiveram paredes derrubadas por conta da inundação. Isto ocorreu com o auxiliar de serviços gerais Leonardo da Silva, 25 anos, que afirmou não ter conseguido atendimento da Defesa Civil. Nesta quinta, a Tribuna retornou ao local e foi informada que a família dele abandonou o imóvel. “Eles perderam tudo, não vão esperar a casa cair”, declarou um vizinho.
A limpeza da rua, que acumula barro e restos de móveis, ainda não foi concluída. De acordo com os moradores, a equipe do Demlurb esteve no local sem máquinas, o que não foi suficiente, tendo em vista o grande volume de entulho. Eles também destacaram a necessidade de limpeza no córrego que atravessa o local, pois o acúmulo de lixo contribui para as inundações.
De acordo com a Prefeitura, “a Secretaria de Obras realizou limpeza, retirada de entulhos, conserto de erosões e limpeza de bocas de lobo nos bairros Nossa Senhora Aparecida, Vitorino Braga, Vila Ideal, Bandeirantes, Cesário Alvim e Linhares. O Demlurb finalizou a limpeza do Bairro Vitorino Braga, e os trabalhos foram iniciados nos bairros Linhares, Bom Jardim e Três Moinhos. Em três dias, foram retirados 170 caminhões de lama e entulhos. A Cesama segue dando apoio ao Demlurb nas limpezas, além de verificar as erosões de sua competência. Por conta das chuvas, dos estragos causados e dos trabalhos da Prefeitura para recuperar as vias, as linhas 208, 231, 232, 259, 429, 430 à 434, 551, 515, 519, 529, 533, 540, 710 e 749 tiveram suas rotas modificadas.”
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Quanto ao decreto que será publicado, adiantou que “as unidades da Prefeitura podem ser acionadas a qualquer momento pela Subsecretaria de Defesa Civil” e que “em caso de necessidade de utilização de abrigos alternativos, a Defesa Civil ficará responsável pela abertura do local, a Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS) pela administração, a Guarda Municipal pela segurança e a Secretaria de Obras (SO) pelo fechamento e reparo de eventuais danos. As secretarias de Meio Ambiente, Atividades Urbanas, além da Companhia de Saneamento Municipal (Cesama), o Departamento de Limpeza Urbana (Demlurb), SDS e SO também terão servidores à disposição a fim de dar suporte aos atendimentos da Defesa Civil em caso de emergência.”
Região Nordeste também sofreu com as chuvas
Além da Zona Leste, os bairros da região Nordeste da cidade também sofreram com a chuva dos últimos dias. As ruas Eugênio Fontainha e Américo Lobo, no Bairro Manoel Honório, ficaram alagadas quando o córrego transbordou na última segunda-feira (24). “A minha casa foi inundada pela água que veio de ralos da pia, do vaso sanitário e da boca de lobo que não aguentou a pressão e estourou. Isso ocorreu com todos os vizinhos, tanto casas quanto comércio”, contou a vendedora Lívia Medeiros, 27 anos.
No momento da inundação, estavam apenas o pai de Lívia, de 73 anos, e os quatro cachorros e três gatos. “A água subiu, e ele se preocupou em resgatar os bichinhos. Perdemos notebook, documentos, colchão, roupas e sapatos, mas o pior é o trauma psicológico”, conta. “Começamos a procurar um novo lugar para morar.” Ela também ressalta a necessidade de uma limpeza no córrego que trasbordou. “Depois que a água cessou, vimos de tudo. Desde manequim de loja até macarrão de piscina. Muita sacola, embalagem, garrafa pet. As pessoas precisam se conscientizar de que não devem jogar lixo ali, mas a Prefeitura também precisa fazer uma manutenção porque não tem condição de escoamento.”
Moradores de Santa Terezinha também enfrentaram alagamentos. Na Rua José Eutrópio, eles afirmam que a obra de uma construtora prejudicou ainda mais a situação. “Os trabalhadores da obra lavam a rua e acabam empurrando a terra para as bocas de lobo. Chegamos a procurar o responsável, mas ele nos disse que recebe ordens”, relatou o estudante Thiago Lima, de 22 anos. Segundo ele, a família mora no endereço há mais de 50 anos e nunca viu uma chuva nestas proporções. “Houve uma enchente há 15 anos, mas não causou tanto prejuízo. Perdemos guarda-roupa, raque, mesa. E estamos aguardando para ver se conseguiremos salvar o sofá e outros móveis.”
Outra moradora, que preferiu não se identificar, diz que ainda tenta limpar os estragos causados pela chuva. “No dia a dia, a nossa casa já enche de poeira por causa da obra. Com a água suja, agora temos lama para tudo que é lado. Perdemos computador, roteador, móveis, roupas e sapatos.” Os vizinhos pediram atenção do Poder Público com relação à necessidade de limpeza no córrego que atravessa o bairro. “Quando ele transborda, vai todo o lixo para as ruas.”
Procurada pela Tribuna, a Inter Construtora, responsável pelo empreendimento, informou que “é solidária a todas as vítimas do alagamento” e que “no dia 26 de dezembro, cedemos seis funcionários para unirem forças com as equipes de limpeza que atuavam na região”. A empresa declarou que as obras “cumprem todas as normas técnicas exigidas pela legislação vigente” e que realiza, semanalmente, a limpeza em Santa Terezinha com caminhão pipa. “Acreditamos que nossa construção não tem nenhuma relação com as enchentes, porque além da limpeza constante, não é a primeira vez que o bairro passa por alagamentos que já foram publicados pela imprensa em datas anteriores ao início das obras.”
Comércio não sabe quando irá recuperar prejuízo
Ainda abalados com as perdas, os comerciantes dos bairros afetados pela chuva estão retomando, aos poucos, as atividades. Na Rua Diva Garcia, no Linhares, parte dos estabelecimentos reabriu as portas nesta quinta-feira (27), mas ainda não possui expectativa de quando irá recuperar o prejuízo. “Perdi R$ 20 mil em mercadoria e cerca de R$ 4 mil em vendas pelos dias parados”, estima a proprietária da loja Minha Lingerie, Maria do Carmo Rodrigues.
A empresária conta que a loja funciona no endereço há nove anos, e ela nunca tinha passado por situação semelhante. “A água chegou e foi levando as mercadorias. Eu vi tudo sendo arrastado, indo embora. Foi muito triste. Perdi muitas roupas infantis e biquínis que tinham acabado de chegar. Fiquei desesperada quando contabilizei o prejuízo”. Depois dos dias limpando o imóvel, a loja voltou a funcionar. “Estou ainda arrumando as vitrines, mas não sei como serão os próximos dias. Os moradores perderam tudo, estão precisando de doação, não têm como comprar. Até doei algumas peças que respingaram lama e ficaram impossibilitadas para venda, pois sei que há pessoas com situação bem mais difícil.
Apesar de estar com as portas abertas, a loja de consertos Conselar só voltará a atender o público em 2019. “Estou abrindo para continuar a limpeza, mas não tenho condições de atendimento. Estou limpando as peças que entraram barro para ver o que salva. Não faço ideia do prejuízo, pois só microondas foram dez perdidos. Ainda há ventiladores e outros aparelhos”, diz o proprietário Robson Sabadin. Ele diz que ainda não sabe qual é o prejuízo, pois, além dos dias parados, terá que acordar com os consumidores a questão do ressarcimento.
No Bairro Três Moinhos, o dono do bar localizado na Rua Diva Garcia, Domingo João Zanchetta, voltou a receber os consumidores, mas o movimento ainda é “muito fraco”. “Estão todos abalados com o que aconteceu. Vai demorar um tempo até normalizar. Neste momento, há muitos famílias que estão sobrevivendo de doações.”
Demanda maior é por água, móveis e eletrodomésticos
Uma rede de solidariedade às vítimas da chuva foi criada em Juiz de Fora. Diferentes locais da cidade tornaram-se pontos de coleta para doação. Água potável, móveis e eletrodomésticos são os itens mais urgentes para as famílias atingidas. Na Igreja Nossa Senhora Aparecida e na Escola Estadual Dilermando Costa Cruz, no Bairro Linhares, equipes de voluntários se revezam para atender os moradores. “Eles nos explicam qual é a demanda, e nós fazemos a separação. Há muitas famílias que perderam tudo. Então, precisamos de geladeira, fogão e móveis”, disse um dos organizadores das doações, José Carlos Ferreira.
Os moradores têm recebido doações de alimentos, roupas, sapatos, materiais de limpeza e colchões. “Criou-se uma rede solidária muito grande. A Prefeitura de Chácara nos fez uma doação e se colocou à disposição para ajudar na limpeza das ruas, só temos a agradecer. Estamos em contato com os bairros vizinhos para poder ajudá-los também”, diz o presidente da Associação dos Moradores do Linhares, José Walter Guimarães. A igreja é localizada na Rua Diva Garcia, e as doações podem ser feitas todos os dias, entre 7h e 13h e das 14h às 20h. O horário de funcionamento é o mesmo na escola, que abre apenas de segunda à sexta, e está situada na mesma rua no número 2.171.
Moradora do Bairro Três Moinhos, a aposentada Ana Maria Pinto de Souza, 61 anos, se emocionou com a solidariedade recebida. “Perdi tudo, minha casa ficou vazia. Mas já ganhei geladeira, cama, guarda-roupas, alimentos, materiais de limpeza e higiene pessoal.” As doações foram feitas por amigos e vizinhos. “É um momento muito difícil, mas vemos que temos muitas pessoas boas ao nosso lado.”
Onde doar
A Prefeitura de Juiz de Fora disponibilizou vários pontos de coleta. No entanto, a campanha não receberá roupas, pois já foi arrecadado o suficiente. Para doações de grande porte, foram disponibilizados dois caminhões, sendo um da PJF e outro cedido por meio de uma parceria com o Exército.
Os interessados podem direcionar os donativos na própria sede (Avenida Brasil, 2.001, Centro), no Procon (Avenida Itamar Franco, 992, Centro), na Settra (Rua Maria Perpétua, 72, Bairro Ladeira), na Cesama (Avenida Getúlio Vargas,1.001, Centro) e no Espaço Cidadão (do Centro, localizado no Parque Halfeld, e das regionais dos bairros Benfica, São Pedro e Santa Terezinha).
A Igreja Nossa Senhora do Líbano, situada na Rua Raulina Magalhães, no Grajaú, também está recolhendo itens para as vítimas da chuva. No Bairro Linhares há outros três pontos de entrega para quem deseja ajudar: Açaí da Gi e na Frangolândia Império, além de uma residência na Rua Diva Garcia 1.401. Já no Bairro Bom Jardim, também região Leste, os pontos de arrecadação são a Vitória Presentes (Rua Luiz Fávero, 37-Loja 1) e na Mercearia do Marinho (Rua Luiz Fávero, 39). No Vitorino Braga, as doações podem ser entregues em uma casa na Rua Vitorino Braga, 629. Além disso, o trabalho de organização e separação das doações, é realizado por agentes voluntários, entre eles, os Bombeiros Civis. Cerca de 60 kits de produtos de limpeza e 50 cestas básicas serão entregues nas áreas atingidas, para as famílias que foram atendidas pelas assistentes sociais.
Secretaria de Saúde alerta sobre cuidados
O contato com as águas da chuva e dos córregos exige cuidados específicos. O Departamento de Vigilância Sanitária (Dvisa) da Secretaria de Saúde orienta as vítimas das enchentes ocorridas na cidade a fim de evitar problemas de saúde. “Após a diminuição do nível da água, recomenda-se observar atentamente a presença de animais peçonhentos, sabendo que estes se escondem do homem. É preciso bater os colchões antes de usá-los e sacudir cuidadosamente roupas, sapatos, toalhas e lençóis.” Também é importante utilizar luvas, botas e calças compridas para limpar a casa.
Outro alerta é com relação ao risco de contaminação da leptospirose, doença transmitida pela urina do rato. “Deve-se lavar pisos, paredes e bancadas, desinfetando com água sanitária na proporção de duas xícaras de chá (400ml) desse produto para um balde de 20 litros de água, deixando agir por 30 minutos.”
Também é preciso cuidado com os alimentos. “Não se deve consumir alimentos com cheiro, cor ou aspecto fora do normal (úmido, mofado, murcho) e aqueles que entraram em contato com a água de enchente. Alimentos cozidos ou refrigerados e que tenham ficado por mais de duas horas fora da geladeira – principalmente carne, frango, peixe e sobras de alimentos – também não devem ser consumidos.” De acordo com a Secretaria de Saúde, produtos com embalagem de plástico que não foram abertos, mas que tiveram contato com a água da enchente também, devem ser descartados.