Pesquisas científicas contribuem para combate ao Aedes aegypti
Segundo estudo da UFJF, vespas sociais podem ser predadoras de larvas do vetor de doenças como dengue e chikungunya
A vigilância epidemiológica dos casos de dengue, zika e chikungunya é uma das principais armas de municípios e estados no combate ao Aedes aegypti. Com base nos dados fornecidos por laboratórios especializados é que o Poder Público pode desenvolver estratégias regionais e direcionadas na tentativa de eliminar os focos e os mosquitos em cada localidade. No entanto, apenas saber onde está o mosquito não é o suficiente para eliminá-lo. Por isso, para desenvolver estratégias eficazes, deve-se levar em consideração os hábitos, o comportamento, a biologia e a ecologia do vetor, entre outros fatores. Em ambos os casos, mesmo que a população e o Governo façam sua parte, é preciso o apoio da ciência para promover o real combate ao Aedes.
É por isso que instituições de pesquisa e estudos relacionados ao comportamento animal são parceiros essenciais quando o assunto tem relação com as arboviroses. Segundo o biólogo especialista em comportamento animal, Fábio Prezoto, esses estudos são o “alicerce” para o desenvolvimento de pesquisas que visam a eliminar o mosquito ou, até mesmo, de medicamentos para tratamento das doenças transmitidas por ele. “Muitas instituições de pesquisa buscam combater essas doenças. Mas, para isso, é preciso conhecer o comportamento do mosquito, seu ciclo de vida e hábitos. É muito difícil encontrar uma tentativa de controle sem essas informações básicas, que acabam sendo um subsídio para que as estratégias de combate sejam mais bem estabelecidas”, explica o biólogo.
Fábio é professor da UFJF, onde participou de pesquisa que apontou que as vespas sociais podem participar da predação das larvas do mosquito. “A pesquisa demonstrou que as vespas também podem participar, mesmo que em pequena escala, da predação das larvas de mosquitos. Isso tem motivado novos trabalhos que podem ser desenvolvidos. A ideia é esclarecer melhor como é essa participação, em que época do ano ocorre com maior intensidade, em quais ambientes ocorre.”
De acordo com o biólogo, ainda faltam informações sobre os predadores do mosquito, lacunas que as pesquisas do Mestrado em Comportamento Animal da Faculdade de Biologia da UFJF podem ajudar a sanar futuramente. “A linha que trabalhamos diz respeito à produção de informações, que passam pela biologia, comportamento e ecologia da espécie em questão. Mas existe uma carência de informações sobre os predadores e, por isso, pretendemos seguir essa linha, para descobrir se há algum predador possível do mosquito que está sendo negligenciado e que pode direcionar as ferramentas no combate ao mosquito.”
Diagnósticos
A Fundação Ezequiel Dias (Funed), de Belo Horizonte, é o laboratório de referência da Secretaria de Estado de Saúde para o diagnóstico de arboviroses. O Laboratório de Arbovírus analisa amostras para detecção dos arbovírus da febre amarela, zika, dengue e chikungunya. Só no ano passado foram analisadas 50 mil amostras na instituição, oriundas de centros de saúde de todo o estado.
Segundo o farmacêutico bioquímico do Laboratório de Arbovírus da Funed, Marcos Vinícius Ferreira Silva, este número foi menor neste ano: cerca de 20 mil. No entanto, a dinâmica do diagnóstico envolve uma triagem inicial e a análise também de uma ficha de investigação, enviada juntamente com a amostra de cada paciente.
“A amostra é colhida do paciente e enviada à Funed. Primeiro avaliamos essas fichas, que sempre vêm com solicitações de exames para as doenças suspeitas, e aí fazemos a triagem e a análise. Mas, em alguns casos, realizamos exames complementares. Por exemplo: na amostra de uma gestante, mesmo quando só é solicitado exame para dengue, fazemos de zika também.”
São utilizadas três metodologias de análise: o diagnóstico sorológico, por meio do qual observamos quais são os anticorpos produzidos; um método direto, que vai diagnosticar qual é o material genético dos vírus; e o isolamento viral, por meio do qual o vírus é cultivado.
Confirmadas as presenças dos arbovírus, os órgãos responsáveis podem orientar suas ações de vigilância. “Se a análise determina que um determinado município tem surto de zika, por exemplo, vamos ver de qual bairro são as amostras positivas. Assim, saberemos que é preciso investir mais em bloqueio naquela região.”
O especialista destaca que, apesar de o vírus estar concentrado em uma região, muitas vezes, como é o caso da epidemia de chikungunya em Governador Valadares e Teófilo Otoni, a vigilância da população deve continuar, bem como ações de prevenção e combate dos órgãos públicos e de toda a sociedade.