Descartando hoje para reutilizar amanhã

Estima-se que 98% dos materiais que estão no lixo eletrônico possam ser reciclados e voltar à indústria, sem necessidade de realizar novas retiradas no meio ambiente


Por Bárbara Riolino

26/08/2017 às 06h00- Atualizada 26/08/2017 às 08h14

E-Ambiental recolhe, semanalmente, quatro toneladas de lixo eletrônico, como televisores, computadores e demais aparelhos eletrônicos (Foto: Felipe Couri)

Já parou para pensar que boa parte dos objetos que você utiliza em seu dia a dia possui algum componente eletrônico? Celular, computador, eletrodomésticos e até um controle remoto são feitos com materiais que, se descartados de forma incorreta, causam uma série de problemas para o meio ambiente e para a sua saúde. Esse é o grande problema quando o assunto é o lixo eletrônico. Por mais que a lei exija que a indústria invista em medidas de logística reversa, as mesmas passam despercebidas, deixando a bomba na mão de pequenas iniciativas que visam a recolher esses produtos e repassar para empresas especializadas em reciclagem e aproveitamento.

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Estima-se que 98% dos materiais que estão presentes no lixo eletrônico – metais, plástico, vidro, ferro e componentes eletrônicos – possam ser reciclados e voltar novamente para a indústria, sem a necessidade de realizar novas retiradas no meio ambiente. Dados globais divulgados em 2015 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) mostraram que o volume de lixo eletrônico descartado pela indústria pode chegar, em 2017, a 50 milhões de toneladas. Há sete anos, está em vigência no país a Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela Lei 12.305/2010. Seu artigo 33 obriga que fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de diversos produtos, entre eles os eletroeletrônicos e seus  componentes, sejam obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa após o uso por parte dos consumidores.

Na visão do professor do Programa de Pós-graduação em Ambiente Construído (Proac) da UFJF, Marcos Martins Borges, a sistemática do lixo eletrônico é uma questão histórica e cultural, na qual se faz necessário fazer da reciclagem e do reuso um hábito. “A sustentabilidade é um tema bastante recente e, para a lei ser cumprida, é preciso mudar a forma como esses produtos são fabricados. As práticas de reaproveitamento e reciclagem precisam ser pensadas desde o começo do processo. Mas isso não acontece nem em países de primeiro mundo. Existe a lei e os conceitos teóricos de logística reversa, mas não existem, na prática, procedimentos bem claros de como isso pode acontecer”, observa.

O mesmo artigo 33 da lei exclui a participação do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos dessa responsabilidade, mas para o pesquisador, existe um distanciamento entre a legislação e a realidade do mercado. “É necessária uma articulação entre os três setores – o governo, as empresas e as universidades – para que não fique na mão de um só e que seja possível estabelecer práticas mais objetivas tanto de inovações como de logística reversa.”

Iniciativa minimiza impacto

Se a articulação proposta pelo professor ainda caminha a passos lentos, resta às iniciativas particulares atuarem para minimizar os impactos. Embora não existam estimativas locais para o volume de lixo eletrônico produzido em Juiz de Fora, a E-Ambiental, que atua recolhendo, de forma gratuita, todo tipo de lixo eletrônico descartado pelas pessoas, chega a reunir, semanalmente, o volume de quatro toneladas. “Recebemos de duas a quatro toneladas de lixo eletrônico por semana, que chegam para a gente de duas formas: pelo disque coleta, quando a pessoa entra em contato e vamos buscar na casa dela, ou via entrega na sede da empresa. O material recolhido passa por uma triagem, onde são retirados itens que são reciclados, como plástico, ferro, papelão, alumínio e cobre, vidro e placas eletrônicas. Depois de separados, cada um deles é encaminhado para empresas parceiras especializadas em logística reversa”, explicou o sócio-proprietário da E-Ambiental, Thiago Willian da Cunha.

 

Na visão do também sócio da empresa, Leandro Silva Medeiros, o grande problema hoje é a falta de conhecimento sobre os malefícios que o lixo eletrônico pode causar. “O descarte incorreto volta para você mesmo. Os elementos químicos presentes nestes materiais contaminam o solo ou o rio, causando problemas de saúde, como no sistema nervoso e sistema respiratório, e alguns tipos de câncer. A prevenção começa ao saber descartar. É uma via de mão dupla, pois evita-se a degradação da natureza e ainda permite-se que esse material retorne para a indústria”, comenta. Além de dar encaminhamento aos materiais, a E-Ambiental recupera computadores com o reaproveitamento de peças, monitores e gabinetes. Até o momento, cerca de 20 computadores já foram montados e encaminhados para instituições sociais.

Calendário de ações

Até o final do ano, a E-Ambiental vai realizar ações pontuais em diversos pontos da cidade. A primeira delas será na próxima semana, nos dias 1º e 2 de setembro, na Praça do Bom Pastor. O ponto de recolhimento vai funcionar, nos dois dias, das 9h às 17h. A população pode deixar no local todo tipo de material eletrônico que não tem mais serventia. Em troca, os participantes levam para casa mudas de plantas. Entre outubro e novembro, a empresa realiza a atividade em Benfica. Para 2018, em janeiro, os sócios planejam uma nova ação no São Pedro.

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Demlurb quer ampliar coleta seletiva

Como parte das atividades que buscam ampliar a coleta seletiva na cidade, o Demlurb passa a realizar, a partir deste sábado (26), uma campanha educativa em condomínios. O primeiro a receber a ação será o Neo Residencial, no Bairro Borboleta, a partir das 9h. Segundo o departamento, trata-se de um projeto piloto que visa a abranger outros bairros onde coleta seletiva já acontece, além de conscientizar os moradores sobre o descarte correto de óleo vegetal, materiais recicláveis e aparelhos eletrônicos. Na ação deste sábado, caixas coletoras serão deixadas em cada uma das 1.214 casas do condomínio, além de tambores na portaria para descarte dos outros materiais. O recolhimento dos recicláveis e do óleo vegetal serão de responsabilidade da Associação Lixo Certo (Alicer), e os eletrônicos da E-Ambiental, que fará o recolhimento no condomínio conforme a solicitação dos moradores. Nas localidades onde ainda não existe coleta seletiva, o Demlurb disponibiliza pontos de coleta e telefone para agendamento (ver arte).

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