Redução de assaltos a taxistas chega a quase 50%

Enquanto em 2016, foram 103 casos, no ano passado foram 54 ocorrências. Uso de câmeras contribuiu para a queda. Mesmo assim, há registros de assaltantes ousados que desafiam a presença dos equipamentos


Por Daniela Arbex

26/04/2018 às 07h00

Sentado no banco de trás, assaltante tentou ferir motorista com facão

Os assaltos contra taxistas tiveram redução de quase 50% nos últimos dois anos. Os dados são referentes aos anos de 2016 e 2017 e coincidem com a implantação das câmeras de segurança instaladas nos veículos até fevereiro de 2017 por determinação da Settra. De acordo com levantamento da Polícia Militar, de janeiro a dezembro de 2016 foram registrados 103 assaltos envolvendo veículos individuais de passageiros, contra 54 casos no mesmo período de 2017. Se forem considerados apenas os três primeiros meses do ano, a redução é ainda maior. Foram 25 ocorrências dessa natureza entre janeiro e março de 2016, contra 19 nos três meses iniciais de 2017 e apenas cinco no primeiro trimestre deste ano. Além das câmeras, que podem ter contribuído para a queda dos números, a polícia afirma que as operações focadas neste grupo foram intensificadas e ajudaram na diminuição de casos na cidade.

Nesta quarta-feira (25), um rapaz de 20 anos foi preso após ter assaltado, com um gargalo de garrafa, um taxista que estava na altura do Monte Castelo, Zona Norte da cidade. A imagem do suspeito foi gravada pela câmera do veículo. A gravação permitiu a identificação do homem pelos policiais da 269ª Companhia, resultando na prisão em flagrante dele dentro de sua residência. Após a circulação do vídeo, outro taxista assaltado reconheceu o rapaz como autor do crime.
A rapidez da ação policial foi comemorada pelos taxistas, categoria vulnerabilizada pela violência a que está exposta cotidianamente. Em outro vídeo obtido com exclusividade pela Tribuna, a câmera do carro flagra o momento exato em que dois passageiros entram dentro de um táxi durante a madrugada no ano passado. Armado com um facão, o indivíduo que está no banco de trás desfere dois golpes na altura do pescoço do taxista que, no desespero, acelera o carro, fazendo com que os dois ocupantes saltem do veículo. Neste caso, os suspeitos ainda estão soltos.

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Por sorte, a faca não acertou o motorista cujo trauma o persegue até hoje. Apesar do susto, o taxista continua trabalhando nas madrugadas para sustentar a família, enfrentando momentos difíceis. “A forma como a gente trabalha hoje é assim, com mais medo. Hoje não vou mais buscar passageiros em alguns lugares durante a madrugada. Entreguei na delegacia as imagens, foto do rapaz, a página dele no Facebook. E ainda não tive resposta disso”, informou, pedindo que seu nome seja mantido em sigilo. “Por ter quase morrido em uma tentativa de homicídio, o trauma dele foi enorme. A câmera flagrou tudo. Pela nossa experiência, tenho certeza que o equipamento está inibindo novas ações, o que é muito positivo”, afirmou o permissionário para quem o motorista assaltado trabalha.

O secretário de Transporte e Trânsito, Rodrigo Tortoriello, explica que a decisão de implementação das câmeras nos veículos – atualmente 527 táxis dos 650 do município possuem o equipamento -, foi tomada em conjunto com os taxistas, que pediram providências logo após o assassinato de um motorista no Bairro Santa Rita, no final de 2013. Na ocasião, foram apontadas várias proposições, inclusive com a sugestão de colocação de cabines nos veículos, mas a ideia do equipamento de filmagem acabou sendo a mais votada. Por isso, o item foi incluído no edital da licitação de 2014 como obrigatório.

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Apesar de não haver dados suficientes para apontar a câmera como a principal responsável pela diminuição da violência entre esse grupo, Tortoriello diz que o uso do equipamento, ao lado das operações policiais, tiveram impacto positivo na melhoria da segurança dos motoristas e da própria população. “A câmera é a responsável pela redução? Não dá para a gente afirmar isso com 100% de certeza. Mas a gente vê como muito positivo o fato de ter reduzido a questão de insegurança dos taxistas. E se esse equipamento está ajudando a reduzir isso, excelente que a gente consiga utilizar a tecnologia para ser útil à população, tanto na segurança dos passageiros, quanto na do motorista.”

Taxistas admitem eficácia, mas reclamam de custo

Apesar de reconhecer a eficácia do equipamento, o permissionário que já teve registro de assaltos em seu veículo diz que a instalação da câmera é onerosa – o custo é de cerca de R$ 2 mil -, fora as despesas com manutenção. “Por mais que eu ache um instrumento muito seguro para o motorista e para o passageiro, a câmera encareceu muito o nosso custo. O fato é que as despesas gerais do táxi ficaram super altas e o nosso movimento acabou. Além da câmera, a biometria e o GPS com mensalidade ajudaram a encarecer nosso serviço que é o mesmo serviço que a Uber presta sem ônus nenhum. Estamos abandonados, morrendo aos poucos. Se nada for feito, vamos ter que começar a brigar para derrubar isso tudo, para a gente poder baratear nosso preço”, avalia.

O Secretário de Transporte e Trânsito, Rodrigo Tortoriello, diz que a Settra não indica ou escolhe os fornecedores, apenas especifica algumas funcionalidades do equipamento. “A gente não participa dessa negociação. Eles têm livre escolha de quem eles querem comprar o equipamento que deve obedecer algumas regras, como armazenamento das imagens por um tempo determinado”, esclarece.

Quanto à Uber, o secretário concorda que a concorrência entre o táxi e o serviço realizado por meio de aplicativo ocorre sem igualdade de condições. Ele diz que a secretaria está trabalhando na regulamentação desse serviço, embora não especifique uma data para que as regras para o setor passem a valer. Segundo ele, alguns municípios publicaram a resolução, e ela já está sendo questionada na Justiça. Por isso, os municípios mineiros, de uma maneira geral, estão discutindo uma futura normatização com um pouco mais de cautela, até porque continua em vigor a ação judicial que suspende a validade das leis municipais que proíbem o transporte por aplicativo, impedindo até a fiscalização.

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O tema vem sendo tratado de maneira conjunta pelos secretários de Transporte de Juiz de Fora, Uberlândia e Belo Horizonte, além de outros municípios da região metropolitana. “O objetivo é trabalhar em conjunto com outros municípios mineiros para que mais rápido possível a gente possa ter uma regulamentação que seja mais ou menos uniforme para todo o Estado, evitando distorções que possam gerar novos problemas na Justiça.”

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