Abrigos de idosos em JF proporcionam celebrações natalinas para reacender a alegria da data
Data tende a ser nostálgica para muitos; comemorações buscam acolher abrigados e idosos, especialmente os que não recebem visitas
A chegada do Natal marca uma mudança no comportamento das pessoas idosas em abrigos e lares de Juiz de Fora. Enquanto para grande parte da população esse é um momento de especial felicidade, fatores como a distância de casa, a saudade de quem já se foi e as salas de espera vazias dessas instituições fazem com que os idosos institucionalizados não consigam evitar o sentimento de angústia. Por outro lado, mesmo com a alteração no humor e o desânimo que podem marcam a data, principalmente entre os que não recebem visitas, esses lares se esforçam para promover atividades e comemorações que possam reacender a alegria da data.
Essa é a realidade de Zuleika Vieira. Com 97 anos, ela é a pessoa que vive há mais tempo no Lar de Idosos Luiza de Marillac, e, apesar de ter se acostumado a comemorar a data na instituição, diz ainda estranhar um pouco. “Apesar dos pesares, das doenças e das tristezas, não está faltando nada”, reforça, por outro lado. A iniciativa do abrigo em levar o Papai Noel para visitar os idosos, fazer um almoço especial e também dar pequenos presentes, portanto, fazem com que ela se sinta melhor no Natal. “A visita das pessoas daqui, dos jovens que vêm como voluntários e conversam com a gente e brincam, faz muita diferença. Tem muita gente aqui que não tem parentes. Eu mesma, já foi embora todo mundo, pai, mãe, irmão, marido, filho. Só tenho Deus e os colegas daqui”, conta.
A saudade dos entes queridos parece que se intensifica nesses momentos. No caso de Antônio Carlos Lopes, de 70 anos, passar o Natal no Abrigo Santa Helena é bom, mas “passar em casa seria muito melhor”. Com o aumento de casos de Covid-19 em novembro, as visitas estão restritas no local, e ele ainda não sabe se vai conseguir reencontrar os parentes. “Minha irmã chamou todo mundo para a casa dela, quero ir. Tenho duas netas pequenas que ainda não conheci”, conta. No mesmo lar, mora Maria Izabel de Castro, de 78 anos. Ela confessa que o momento parece mesmo mexer com seu emocional de uma forma que nem sempre entende, mesmo em meio a esses esforços de confraternização. “Estou rodeada de amigos, estou me sentindo bem. Mas há muitos sentimentos, traz de volta o passado, dá uma coisa no coração. Não é um choro, mas é uma reflexão mesmo que não dá para explicar”, diz.
A realidade dos idosos abrigados é bem ilustrada por Ângela Vargas, de 72 anos, que já perdeu seu pai, mãe e marido. Agora no Lar Luiza de Marillac, ela conta que esse momento é mesmo difícil, principalmente por ver todos indo visitar a família e ela ficando no lar. “Eu não tenho nenhum parente, nem próximo nem distante. Eu não falo que eu sou só, porque a gente nunca é só mesmo, né? Mas não vou para a casa de ninguém e não aceito convite de ninguém, nem de amigas, porque me sinto diferente dos outros”, explica. Para ela, no entanto, pensar que “fez o que pôde” pelos seus entes queridos em vida traz um certo consolo. “Quando lembro deles, tenho saudade, mas não tenho tristeza. Sei que é o destino de todo mundo.”
Importância das visitas
Se o Natal, ao longo da vida, é tão associado à família, se sentir sozinho nesse período pode trazer especial sofrimento. Isso é o que percebe Myrian Lopardi, vice-presidente do Abrigo Santa Helena, principalmente ao notar a dificuldade de adaptação dos idosos que passam a viver a data longe de casa. “A gente tenta, dentro dessa grande família que é um abrigo, suprir essas necessidades com carinho, com mais presença, um presentinho. Sempre tentamos suprir isso de alguma forma”, explica. Ela nota mudança até mesmo no olhar dos idosos quando o período está se aproximando. “Sem dúvidas, esse é um período mais difícil para os idosos em abrigos e lares. Eles ficam mais chorosos, mais saudosos. Muitos deles passam a ter lembranças do passado”, diz.
Presidente do abrigo, Waldir Francisco de Andrade, também percebe o mesmo, e atribui a mudança de comportamento dos idosos à “nostalgia que o Natal traz”. Na avaliação dele, nessa etapa da vida, em que muitos idosos já perderam pessoas e já encerraram muitas etapas da própria trajetória, é difícil não ficar mais pensativo e sentir certa estranheza. “Ainda mais considerando que eles têm tempo. Quando começamos a refletir e pensar no que já fizemos, é complicado”, diz. Para ele, é de vital importância para essas pessoas ter contato com a família, se ela ainda é próxima, e criar outros laços para não perder o sentimento natalino.
É o que também percebe Fátima, diretora administrativa do Lar de Idosos Luiza de Marillac. Ela nota, inclusive, diferença no emocional dos que ainda têm contato com familiares e os que não tem. “O que a gente faz para melhorar o astral deles é chamar as pessoas para virem aqui, trazer uma lembrancinha. Não precisa ser nada em grande quantidade ou coisas de valor, é só para eles receberem um carinho e saberem que são lembrados”, afirma. O que ela sente ser necessário, nesse momento, é alguém disposto a ter esse encontro, para sentar e realmente escutar os idosos, além de trazer novidades e assuntos. Por essas razões, as comemorações em datas especiais e visitas se tornam tão necessárias.
Outra dificuldade percebida diz respeito às restrições que ainda são necessárias por conta da pandemia, já que os lares abrigam muitos idosos – grupo de risco para a Covid-19. “A pandemia ainda impôs a necessidade de mais distanciamento. Então o Natal, que é uma data muito significativa para a família, faz com que os idosos se ressintam por estarem longe, por mais que a gente faça para tentar suprir (a ausência da família)”, diz Myrian.
Instituições contam com doações
Para viabilizar as comemorações de Natal, os abrigos filantrópicos necessitam de doações e de voluntários. No caso do Santa Helena, por exemplo, foi a doação de presentes que viabilizou a comemoração para os idosos. “Conseguimos dar para eles coisas de que realmente precisavam, que eram a cara deles. E também coisas que ajudavam na autoestima. Não eram coisas caras, mas sim que tinham esse sentido”, diz Myrian. Por depender de terceiros, no entanto, nem sempre é fácil dar conta desses preparativos mais especiais, e por isso o lar está sempre aceitando novas doações.
No Luiza de Marillac, Fátima afirma que também foi preciso contar com doações, inclusive para o almoço comemorativo. No momento, a instituição precisa de itens de higiene e até materiais de construção para reformas pelas quais o local vai passar no ano que vem. O Natal dos idosos, nesse sentido, também acaba dependendo da colaboração de terceiros, segundo Fátima.
Os interessados em realizarem doações podem entrar em contato pelo Whatsapp do Lar Luiza de Marillac (32) 98808-6223 e pelo Instagram do Abrigo Santa Helena.
Pedidos ao Papai Noel
Enquanto o Papai Noel visitava o Lar Luiz de Marillac – uma das ações natalinas da instituição -, muitos idosos fizeram pedidos, inclusive em voz alta. Foram desejos de todos os tipos: por felicidade, mais amor, companhias boas e até as coisas mais básicas para a existência deles no local. Não se esqueceram, também, de agradecer pelo que têm. Foi o que lembrou Ângela Vargas, uma das presentes no momento. “No nosso almoço de confraternização, foi lindo demais. Caiu uma chuva forte na hora e aí ficamos agrupados, todo mundo juntinho um do outro. Foi tão bonito, eu fiquei tão emocionada, que eu quase passei mal. A emoção altera a gente, mas graças a Deus a gente vive essas coisas boas.”