Moradores contabilizam prejuízos causados pelas chuvas no Santa Luzia
Populares e comerciantes criticam recorrência das enchentes e manifestam preocupação com as próximas chuvas
A manhã desta quarta-feira (25) foi de contabilização de prejuízos para moradores da Avenida Ibitiguaia, no Bairro Santa Luzia, Zona Sul, após as fortes chuvas que atingiram a região na tarde de terça (24) e causaram o transbordamento do córrego. A Tribuna voltou aos pontos mais afetados pelas precipitações e ouviu populares e comerciantes indignados com a recorrência das enchentes. Muitos se mostraram preocupados com a possibilidade de mais chuvas.
Proprietário de um posto de combustíveis na esquina da Rua Thereza Nogueira com a Avenida Ibitiguaia, Sérgio Moreira ficou surpreendido com a dimensão da enchente que tomou conta do local. “Eu tenho o posto há 35 anos e chuva igual a essa eu nunca vi”, relata. “A rua virou um rio”, conta o empresário, que também é morador do bairro há seis décadas. Para ele, faltam soluções definitivas que afastem as inundações do local, que se tornaram recorrentes.
Nas proximidades do posto, um proprietário de uma borracharia, que optou por não ser identificado, lembrou que foi a terceira enchente de grande dimensão que atingiu a região em pouco mais de um ano. Em uma loja também próxima ao córrego, o proprietário, Armando Araújo, se desdobrou para impedir que as águas atingissem alguns produtos. “Você vai levantando as coisas (para não perder), mas não tem como salvar tudo”, lamenta.
“Antes, as enchentes aconteciam de dez em dez anos. Agora acontece toda hora”.
‘Tive que dormir no chão’, relata morador
Além dos estabelecimentos comerciais, a inundação também invadiu residências próximas ao córrego. Em algumas paredes, marcas nas paredes indicavam que o volume das águas chegou a ultrapassar um metro. “Eu tive que dormir no chão”, relatou o morador Leno Gonçalves Rocha, que estava fora de casa no momento da chuva e, quando retornou, se deparou com sofá, cama, e brinquedos destruídos pela água que invadiu a residência.
O aposentado Waltecir Ribeiro, que reside próximo à Avenida Santa Luzia, segurou uma estrutura de madeira na entrada da viela que dá acesso à residência dele e dos vizinhos para impedir a entrada da água durante a chuva. “Se eu não tivesse ficado tomando conta, a água teria invadido tudo”. A vizinha, Maria das Graças Inácio, moradora do local há 36 anos, conta que já perdeu imóveis em chuvas anteriores e avalia que a situação está cada vez mais grave. “Sempre teve (enchente), mas agora está pior. De 2015 para cá, piorou mais ainda a situação”.
Trecho da Ibitiguaia interditado
Ainda em consequência das chuvas a Avenida Ibitiguaia teve o trânsito bloqueado no trecho compreendido entre a Rua Thereza Nogueira e a Avenida Santa Luzia, na pista no sentido centro. Quando a reportagem esteve no local, durante a manhã, equipes da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) realizavam trabalhos de limpeza de bocas de lobo em alguns trechos da região.
Pessoas ilhadas e deslizamentos no Santa Luzia
O temporal que atingiu o Bairro Santa Luzia exigiu também atenção do Corpo de Bombeiros ao longo da tarde de terça. A corporação foi acionada para socorrer pessoas que ficaram ilhadas em veículos. De acordo com os bombeiros, foram constatados vários automóveis vazios sendo arrastados pela enxurrada, enquanto os que tinham ocupantes permaneceram até que a água baixasse e permitisse a saída.
Dois ônibus também ficaram presos na enchente, totalizando cerca de 60 passageiros, e foram monitorados até que as pessoas pudessem desembarcar em segurança.
Também na Avenida Ibitiguaia, conforme os bombeiros, uma clínica veterinária foi atingida por um deslizamento de terra. Cinco cães e três gatos estavam na área atingida pelo escorregamento e foram socorridos pelos militares. Oito funcionários também foram retirados do local por precaução.
Na Avenida Santa Luzia, os bombeiros registraram pontos de alagamento, mas sem vítimas. Por fim, na Rua Água Limpa, no mesmo bairro, três residências impactadas pela inundação tiveram de ser vistoriadas, mas em nenhuma foram constatados danos estruturais.
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Defesa atende a 17 ocorrências relacionadas às chuvas
Em balanço divulgado na manhã desta quarta, a Defesa Civil informou que registrou 17 ocorrências relacionadas às chuvas de terça-feira. Doze delas se tratam de escorregamentos de talude, sendo cinco no bairro Santa Luzia, duas nos bairros Santa Efigênia e Santa Cecília e uma nos bairros Borboleta, Rosário de Minas e Cascatinha. Ainda houve um registro de desabamento de muro de contenção, no Bairro Marilândia; uma de ameaça de desabamento de muro, no Bairro São Mateus; duas de alagamento, nos bairros Ipiranga e São Pedro; e uma de ameaça de escorregamento de talude, no Bairro Santa Cecília.
De acordo com o órgão, foram registrados 73,8 milímetros de chuva em 24 horas pelo pluviômetro instalado no Bairro Santa Efigênia. Durante a tarde de terça, em apenas uma hora houve 60,8 milímetros de chuva no mesmo bairro, além de 45,5 milímetros no Bairro Ipiranga, conforme o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) ainda informou que 40 residências e nove estabelecimentos comerciais foram vistoriados após as chuvas.
“As famílias atingidas foram atendidas ainda nesta terça-feira pela equipe de serviço social da Defesa Civil”, diz, em comunicado.