Wilson Coury Jabour, ex-vereador de JF, morre aos 90 anos

Como político, foi um ícone do MDB, ocupando, por três vezes, a presidência da Câmara Municipal


Por Sandra Zanella

25/01/2022 às 15h07- Atualizada 25/01/2022 às 18h59

Além de político, com seis mandatos na Câmara, Wilson Jabour era comerciante, tendo uma participação atuante na comunidade (Foto: Olavo Prazeres/Arquivo TM)

O ex-vereador Wilson Coury Jabour faleceu, nesta terça-feira (25), aos 90 anos. De importante trajetória política em Juiz de Fora, ele participou quase 30 anos no Legislativo de Juiz de Fora, ocupando, por três vezes, a presidência da Câmara Municipal entre as décadas de 1960 e 1980. Segundo a família, Jabour passou por um período de idas e vindas ao hospital nos últimos quatro meses, mas, desde sábado, teve seu estado de saúde agravado e morreu de infecção generalizada. Como político, tornou-se um representante histórico do MDB. Antes, pertencia ao Arena. Um de seus mandatos na presidência da Casa Legislativa veio em 1º de janeiro de 1977, quando obteve os votos dos nove vereadores do então PMDB. Wilson Coury está sendo velado na sede da Câmara, no Palácio Barbosa Lima, e será sepultado nesta quarta, no Parque da Saudade, às 9h.

Viúvo de Maria Lamoglia, Jabour deixa quatro filhos: Sandra, Angelina, Ana e Alexandre. Em 2013, ele perdeu o filho mais velho, que levava o seu nome. Iria completar 91 anos no dia 24 de julho. “Ele nasceu em Juiz de Fora em 1931, filho de Felipe Coury Jabour e Angelina Antônio Coury, numa família de mais quatro irmãos. Era o penúltimo irmão vivo, todos os outros faleceram, só tem uma irmã viva, minha tia Ema, mãe do reitor (da UFJF), Marcus David”, conta o filho Alexandre. “Ele era comerciante, foi vereador por seis mandatos em Juiz de Fora, três vezes presidente da Câmara, foi candidato a prefeito nos anos de 1960, na eleição que o Itamar Franco ganhou. Ocupou vários cargos na Prefeitura, foi sempre muito atuante na comunidade libanesa e no comércio local. Era uma pessoa de bem com a vida, com grande coração, um grande exemplo mesmo. Ficou casado por quase 70 anos com minha mãe”, complementa Alexandre, acrescentando que ele também deixou nove netos.

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A prefeita Margarida Salomão (PT) lamentou a morte e destacou a trajetória política de Jabour. “É um momento triste para todos nós em Juiz de Fora. Wilson foi, para todos nós que militamos no ambiente político de Juiz de Fora, um ativista de boas causas. Me lembro dele como presidente da Câmara Municipal à época em que eu era secretária no primeiro governo de Tarcísio Delgado. Era uma pessoa que sempre se destacou, de um lado, por sua presença pública em todos os debates e, de outro, pela civilidade com que sempre desenvolveu seu trabalho.” A chefe do Executivo Municipal enfatizou a perda e prestou homenagens à memória de Wilson Jabour. “Neste momento em que essa característica precisa ser recuperada na vida política brasileira, eu quero prestar uma homenagem ao legado do Wilson, como homem público de forte presença na comunidade onde ele atuou e pelas virtudes cívicas que ele manifestou durante todo esse processo de ação política.”

Corpo será velado no Palácio Barbosa Lima e sepultado nesta quarta, no Parque da Saudade (Foto: Fernando Priamo)

O médico e presidente do MDB em Juiz de Fora, João César Novais, destacou que a perda não é só para o partido. “Juiz de Fora também fica de luto. A história de vida pública dele é muito grande, com mandatos como presidente da Câmara, sempre com muita honestidade e coerência em seus atos.” Ele lembrou que o amigo também trabalhou na Prefeitura, com cargos ligados ao Executivo. “Ele tem reputação exemplar, como homem público e chefe de família. Tinha muita honestidade.” Para o presidente do MDB, Jabour era um ícone na sigla. “O MDB de Juiz de Fora sempre foi diferenciado, com posturas muito claras, voltadas para as causas sociais. E tudo teve a participação dele, foi um grande incentivador. A nossa história começa lá atrás. Com tantos mandatos, conseguimos manter por tanto tempo a hegemonia na Câmara. Temos uma história a ser resgatada, não podemos esquecê-la.”

João César fala com carinho de sua relação pessoal com Jabour. “Ele era um companheirão, não era da idade dele, era muito mais jovem. Nós tínhamos hábito de sair para almoçar, e ele sempre chegava nos restaurantes e pedia separado tomate partido em quatro”, recorda ele sobre o curioso pedido. Para o presidente do MDB, a homenagem na Câmara é muito importante. “É o significado do que ele representou para a cidade, com tantos mandatos. Ele está sendo velado no lugar dele, como político legislador, é mais do que justa essa abertura da Casa.”

Amigos há mais de 50 anos lamentam perda

O presidente da Confraria do Sheik, Ibrahim El Khouri, ficou triste com a perda de seu amigo há mais de 60 anos. “Fui visitá-lo há pouco tempo. Saí de lá e chorei aqui (em casa). Estava quieto, não era o jeito dele. Sempre foi agitado, gostava de falar, aprendi muita coisa com ele. Só tenho boas recordações.”

Ibrahim lembra que Jabour é um dos fundadores da confraria e fez o discurso na inauguração oficial, em 1999. Segundo ele, o objetivo era reunir os amigos, muitos deles de origem síria e libanesa, e também contribuir com doações para instituições filantrópicas. “Quando o conheci, ele já era vereador, na época do Olavo Costa (prefeito). Ficamos muito amigos. Sempre almoçava com ele às quartas-feiras. Fomos sócios em uma loja na Praça da Estação”, cita ele, entre algumas das parcerias realizadas durante décadas. “Sempre foi amigo leal.”

Também com nostalgia de uma amizade que durou mais de meio século, entre os bastidores da política e a vida íntima, o ex-vereador Waldecyr Martins destacou ter sido contemporâneo de Jabour na Câmara Municipal. “Ele ficou 27 anos, e eu, 24. Wilson começou no Arena, eu sempre estive no PMDB. Mas nunca misturo amizade com política. Depois, ele foi até presidente do MDB em Juiz de Fora. Gostava da política, tinha prazer em servir o próximo, ajudava todo mundo.”

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Waldecyr descreve o amigo como “excepcional”. “Eu brincava muito que ele era o único turco perdulário, não era pão duro, era mão aberta. Gostava muito de frequentar festas, bons restaurantes, de viajar.” Diante de tantas histórias, fica a saudade. “Para mim está sendo muito difícil este dia. Eu o considerava como irmão mais velho, a gente tinha uma amizade inabalável. É um momento muito difícil mesmo, são muitas lembranças, éramos inseparáveis.”

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