Vereador de Viçosa diz que vítima de abuso “queria ser estuprada”


Por Tribuna

23/09/2015 às 19h09- Atualizada 23/09/2015 às 19h11

O vereador Helder Evangelista (PHS), de Viçosa, despertou o repúdio de boa parte da população ao dizer que uma mulher vítima de abuso em uma festa da cidade “queria ser estuprada” (ver vídeo) . A declaração foi dada no plenário, em uma reunião da Câmara realizada no último dia 15, em resposta a um discurso da estudante Indyra Giácomo, integrante do  Coletivo de Mulheres Vacas Profanas da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Em sua fala, Indyra havia falado sobre os casos de violência contra mulheres ocorridos em um evento realizado em Viçosa nos dias 5 e 6 de setembro. “Fomos à Câmara para relatar e denunciar os casos de assédio, abuso e violência, que são muito comuns em todo tipo de festa na cidade. Esperávamos conseguir algum tipo de apoio na Câmara, e minha fala frisou muito a necessidade de não culpar a vítima, mas o agressor. O discurso do vereador fez o exato oposto disso”, diz Indyra.
Na tarde de terça-feira (23), quando foi realizada a primeira reunião após o discurso, manifestantes do Vacas Profanas e outros movimentos estudantis se reuniram em frente à Câmara em repúdio às palavras do vereador. Em resposta à Tribuna, a assessoria de imprensa da Câmara Municipal de Viçosa declarou que, como  o ocorrido diz respeito a uma fala pessoal e uma atitude isolada do vereador, e como também não houve formalização de queixa contra o caso, a Casa julga desnecessário apresentar um posicionamento institucional. Entretanto, a assessoria ressaltou que o vereador Helder Evangelista fez uma retratação e um pedido de desculpas público no plenário, “reconhecendo o erro e esperando não errar mais”.
Para Indyra, o pedido de desculpas não contempla o movimento, já que o vereador não teria mudado o discurso em si. “Ele pediu desculpas por ter usado as palavras erradas, o que quer dizer que, ainda assim, ele acha que a vítima pode ser culpada por um abuso, ainda que não seja um ‘estupro’, termo que ele citou como mal utilizado”, diz a estudante, que voltou ao plenário na terça para falar sobre o assunto e ler uma carta de repúdio às palavras do parlamentar. A Tribuna tentou falar com o vereador, mas não conseguiu contato com o número disponível. O jornal também tentou ouvir a organização da festa, mas não obteve resposta dos números indicados.
O vídeo do depoimento foi veiculado na internet, e entre outras afirmações, mostra o trecho em que o parlamentar diz, sobre a fala de Indyra. “Ela disse aqui que teve uma pessoa que foi estuprada, uma coisa do tipo, violentada. Ela não disse isso? Parece que disse isso, não foi? Mas o vídeo que eu vi parece que a cidadã não estava se importando não. Acho que ela queria realmente ser estuprada”, disse. A íntegra da reunião pode ser visualizada no site da Câmara Municipal de Viçosa.

Abusos contra mulheres são comuns em festas

Em relação a denúncia de Indyra sobre  a violência supostamente ocorrida na festa, a assessoria de comunicação da Polícia Militar (PM) informou que caso tenham ocorrido ocorrências de estupro, assédio ou quaisquer crimes contra a mulher, elas não foram registradas. A assessoria alertou, inclusive, para a necessidade de que as vítimas procurem a PM ou a Polícia Civil para o registro de casos como estes. Segundo Indyra, tais crimes têm ocorrido com frequência nas festas universitárias de Viçosa. “Acontece tanto em eventos grandes como em festas menores em repúblicas. Nossa intenção é que pelo menos as maiores passem a ter um ponto de apoio à mulher, para que vítimas desses crimes possam ter um atendimento imediato, como acontece com os postos de saúde. Como estas festas dependem de alvará da Prefeitura, a existência destes lugares poderia ser uma condicional à aprovação do evento”, opina Indyra.

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Na Polícia Civil, um caso foi registrado logo após o fim de semana da festa. De acordo com os dados da assessoria de imprensa, uma mulher de 27 anos teria sido agredida e estuprada por um ex-namorado. O registro do caso informa que a vítima teria recebido, no sábado (6), uma mensagem do ex, em que ele a xingava de nomes como “piranha” e “vagabunda”, e dizia que ela teria “uma surpresa”. Já na festa, acompanhada de um outro rapaz, a vítima teria sido abordada pelo ex no banheiro, quando o acompanhante dela foi buscar uma bebida.

No local, o ex-namorado a teria agredido com socos e pontapés até que a vítima ficasse desacordada e inconsciente. Ainda conforme o registro, a mulher teria sido levada para a casa do suspeito, só recobrando os sentidos na madrugada do dia 7, quando acordou sem roupas e percebeu que o ex-namorado a teria estuprado ainda desmaiada. Ainda conforme o boletim de ocorrência, o suspeito teria devolvido os pertences da vítima ao ver que ela havia voltado a si, deixando que ela fosse embora.

Segundo a assessoria de comunicação da Polícia Civil, a mulher relatou, ainda, que teria voltado à casa do rapaz que a acompanhou na festa para pegar sua moto, tendo sido seguida pelo suspeito do crime. No mesmo dia, ele teria enviado uma mensagem a ela dizendo que estava arrependido. A vítima teria se dirigido, então ao Hospital São Sebastião, onde foi atendida e orientada a procurar a delegacia, o que fez somente no dia 8.

A Polícia Civil informou, ainda, que ao registrar a ocorrência, no dia 8, o suspeito não poderia mais ser detido, pois havia passado o prazo para que fosse configurado flagrante. Ainda conforme a assessoria, a delegacia de Viçosa já havia feito um pedido de medida protetiva à Justiça, que foi concedido à vítima. A Polícia Civil de Viçosa está investigando o caso.

 

 

 

 

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